por Mumia Abu-Jamal
Seu nome é quase legendário. Russell Maroon Shoats. Um filiado do Partido dos Panteras Negras, ativista e revolucionário negro. Minhas lembranças juvenis dele são escassas aparte do que consegui ler nos periódicos. Quando eu era integrante da Frente Unida de Liberação Negra, preparei um panfleto em seu apoio para pedir que as pessoas lhe escrevessem cartas. Houve esporádicos boletins de última hora, mas estes saíram em ocasiões cada vez mais contadas e seu nome se esvaneceu na neblina da memória para quase todos exceto sua família.
Em 1995, quando me transferiram para o corredor da morte no presídio SCI Grenne, todos supunham que eu o conhecia, mas nunca havíamos tido tal prazer. Nos vimos poucas vezes até um dia fresco em 1998, quando tivemos próximos um do outro no pátio, separados somente pelo alambrado. Ele elogiou meu livro “A fé de nossos antepassados: Um exame da vida espiritual dos povos africanos e africanos-americanos”. Me alegrou muito que ele houvesse lido e desfrutado.
A outra vez que o vi e realmente conversei com ele foi uma sexta-feira, 9 de dezembro de 2011, o dia depois de que saí do corredor da morte. Vestidos de chinelo e bermuda debaixo de um leve macacão alaranjado, nós dois ignoramos as rajadas de ar com temperaturas abaixo de zero durante uma hora. Apesar de estar fora do corredor da morte, eu inconscientemente esperava duas horas de pátio, mas Maroon conhecia bem a situação.
Ele começou a contar-me sua análise do Movimento Occupy e fiquei assombrado com o brilhantismo de sua visão expressada em palavras claras e sucintas. Pensei: “Caramba! Nota-se que este irmão tem se aprofundado no assunto. Tenho que melhorar minhas análises”. Segundo Maroon, esta nova formação mostra como a tecnologia não só tem transformado as comunicações, mas também o próprio processo de organização. Ao eliminar os mandos intermediários, a mensagem vai direto ao ativista em potência para convencê-lo a envolver-se, ou não. Explicou que este novo meio social deu impulso ao processo de organização no Cairo, Egito, e também ao Movimento Occupy nos Estados Unidos. “O processo de nos organizarmos não voltará a ser igual”, disse.
Durante três semanas frias, Maroon e eu passamos uma hora juntos no pátio de exercício, e cada vez ficava mais impressionado. Alguns o consideram o preso político negro mais velho nos Estados Unidos, e não cabe a menor dúvida de que é um dos homens que mais tempo tem passada no isolamento. Mais de 30 anos! Ainda que quase chegando aos 70 anos, tem uma mente penetrante, informada, analítica, intuitiva, aguda.
Três dias. Três horas. E me fui.
Desde a nação encarcerada, sou Mumia Abu-Jamal.
Quinta-feira, 02 de fevereiro de 2012.
• Una-se a campanha para conseguir liberdade e justiça ao preso político Russell Maroon Shoats. Assine a petição abaixo para exigir que as autoridades o tirem do isolamento.
http://www.change.org/petitions/pa-doc-secretary-john-wetzel-sci-greene-superintendent-louis-folino-release-russell-maroon-shoats-from-solitary-confinement
agência de notícias anarquistas-ana
Sempre perseguido
o grilo fica tranqüilo
cantando escondido.
Luiz Bacellar
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!