Como os negócios Olímpicos fazem sua política verde
Em janeiro deste ano, Meredith Alexander, um membro da Comissão por uma Londres Sustentável (CSL) afiliado às Olimpíadas, demitiu-se de seu cargo referindo-se à negação da Comissão em se opor à “Dow Chemical Company”. Dow, do famoso desastre de Bhopal, é uma das partes interessadas (patrocinadores) dos Jogos Olímpicos, e está fornecendo uma embalagem decorativa que irá circundar o estádio olímpico em Londres. A embalagem vai custar mais de 7 milhões de libras e não providenciará nenhuma função efetiva.
Bhopal
Alexander resignou em consciente oposição ao envolvimento da Dow, empresa da qual a subsidiária, a Union Carbide Company (UCC), é responsável pelo pior desastre industrial da história – um capítulo terrível que continua se desenrolando. Em torno de 25.000 pessoas morreram desde o primeiro acidente no dia 3 de dezembro de 1984, na cidade de Bhopal, na Índia central, e, reconhecidamente, mais de 500.000 pessoas sofreram ferimentos, doenças e deformações. O meio ambiente foi tão envenenado com chumbo, mercúrio e outros produtos químicos tóxicos que a água da região até hoje é imbebível.
Alexander não foi nem mesmo consultado no que se refere ao envolvimento da Dow por um corpo que supostamente deveria prezar por práticas “verdes e sustentáveis” de fornecedores corporativos dos Jogos, através do qual forneceria conselhos ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012 (LOCOG, em inglês) sobre tais questões. No entanto, ao responder pela resignação do comissário, a CSL declarou que a decisão de despedir patrocinadores pertence unicamente à LOCOG ou à Comissão Olímpica Internacional (IOC). O relato da CSL também diz, “A decisão de escolher a Dow Chemical como fornecedora foi feita sem consultar a Comissão”.
Coe acusado
Enquanto o IOC não parece estar envolvido no debate, o presidente da LOCOG, o veterano corredor olímpico medalha de ouro e membro do Partido Conservador, Sebastian Coe, aparece para dar apoio à Dow, dizendo que a Dow não carrega responsabilidade alguma pelo desastre visto que comprou a UCC apenas em 2001, após a última ter cumprido todas as suas obrigações.
Isso é descaradamente falso. A UCC pagou uma cota miserável de 298 milhões de libras quando o governo indiano solicitou 2 bilhões de libras, além de não ter conduzido as operações extremamente necessárias de limpeza, sendo o resultado desta negligência o fato de que as crianças em Bhopal nascerem ainda com deficiências em decorrência do acidente industrial, e as pessoas sofrem de tudo, desde tuberculose até câncer, passando por diversos problemas de pele. Warren Anderson, então da UCC está listado como fugitivo, sendo que tem hoje 90 anos e desfruta da proteção dos Estados Unidos (e conivência do Estado indiano). A UCC continua clamando que o acidente foi “sabotagem”, e não negligência.
Desafio legal
Além de tudo isso, um caso em andamento no tribunal do distrito de Connecticut contra a Dow Chemical revelou novas evidências que tornam falsos os relatos da Dow que retiram sua responsabilidade pelas ações da UCC. E-mails vazados revelam que os poderosos da Dow continuaram vendendo produtos da Union Carbide (UCC) para a Índia através de uma corporação, apesar da declaração da Índia de que todos os recursos provenientes da UCC deveriam ser embargados. Mais tarde, a Dow desenvolveu novas subsidiárias que a pertenciam diretamente na Ásia para dar continuidade às vendas mascarando seu nome sujo. Agora, a Dow reivindica (o que as evidências contradizem) que a UCC é uma companhia separada e, portanto, a Dow não se responsabiliza pela limpeza.
Verdessepsia
A farsa em toda essa promoção do governo do Reino Unido sobre os Jogos de 2012 serem “verdes e sustentáveis”, reside no fato de que a Dow é patrocinadora, junto com outros nomes estelares como McDonald’s, Coca-Cola e British Petroleum, empresas as quais promovem desastres ambientais que batem recordes nada admiráveis. Isso sem considerar o fato de que estes patrocinadores supostamente deveriam aderir ao “Código de Princípios Sustentáveis” da LOCOG, que estipula que, “fornecedores e licenciados irão garantir que seus produtos e serviços são procedentes e produzidos através de uma série de princípios básicos de ética ambiental, social e ética padrão reconhecidos internacionalmente”, e que as práticas trabalhistas estejam de acordo com o código base da Iniciativa Ética de Negócios (Ethical Trading Initiative), que diz que as condições de trabalho sejam seguras e higiênicas.
Mas esses códigos não especificam o quão “aceitáveis” os “princípios e padrões ambientais, sociais e éticos” deveriam ser. O código original também não provê a exclusão de corporações que estão na mira de processos jurídicos graves e alegações de violação destes “guias e padrões aceitáveis”. A Dow, por exemplo, carrega nada mais do que uma acusação de “homicídio culposo” contra ela.
Boicote
Apesar do governo indiano, reconhecido por se ajoelhar para atrair investimentos estrangeiros, querer “negociar” com o Comitê Olímpico, os atletas indianos paraolímpicos estão ameaçando boicotar os jogos a não ser que a Dow seja despedida. Tem ocorrido protestos furiosos em Bhopal desde dezembro, onde as vítimas não só enfrentaram a apatia internacional, como também a repressão pela polícia indiana. A má propaganda fez com que a Dow retirasse seu logo do pacote decorativo; talvez pensando que mentir baixinho seja a opção menos suja.
Entretanto, a Dow, apoiada por Coe e seu partido, não tem intenção de recuar. Na verdade, é uma das corporações que assinou um contrato de 10 anos com a IOC. Apesar de tudo, existem bilhões a serem lucrados ao “trazer valores Olímpicos para a vida” – desde que para as pessoas certas.
Fonte: Freedom Anarchist Newspaper
Tradução > Malobeo
agência de notícias anarquistas-ana
Apenas estando aqui,
Estou aqui,
E a neve cai
Kobayashi Issa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!