[No sábado, 12, e domingo, 13 de maio de 2012, aconteceu a 1ª Feira do Livro e Propaganda Anarquista em Santiago, capital do Chile. O comparecimento maciço, o ambiente agradável entre os participantes e o cumprimento do diversificado programa de atividades permitiram que o encontro se desenvolvesse totalmente e com êxito. A seguir faremos uma breve resenha, desde a coordenação do evento, do que foi esta autentica festa da cultura libertária.]
Da organização, a propaganda e o espaço
Embora a ideia de realizar um encontro deste tipo estivesse no ar há vários anos, o desejo de concretizá-lo surgiu de um pequeno grupo de afins, nos últimos meses de 2011. Depois de realizar uma breve sondagem entre os companheiros e companheiras sobre a viabilidade da Feira, e diante da resposta positiva, passamos a convidar todas as iniciativas conhecidas de propaganda anarquistas na região chilena, de diferentes características e tendências. A proposta foi recebida positivamente e começou os preparativos e reuniões de coordenação. Em 23 de março houve um jantar de solidariedade para levantar fundos. Graça a isso foi possível adquirir algum equipamento necessário e imprimir cartazes para divulgar o encontro. No entanto, quase toda a propaganda foi realizada pela internet.
Uma das complicações desta fase foi a definição do local para a Feira, pois temia-se que um local afastado do centro de Santiago não atrairia muitas pessoas, e seria mais complicado para os companheiros e companheiras de outras cidades. Embora não tivéssemos conseguido um espaço central e de fácil acesso, mas uma sede de vizinhos em um bairro próximo, a ampla divulgação de mapas explicativos e da boa vontade do público, permitiu que a Feira fosse muito movimentada. Não estava nos cálculos de ninguém o grande número de participantes, que na avaliação de vários compas, facilmente ultrapassou um milhar. Vieram companheiros de diferentes partes do país (La Serena, Valparaíso, San Antonio, Rancagua, Talca, Chillán, Concepción, Talcahuano, Temuco, Valdivia, Punta Arenas), e também alguns de Lima, Montevidéu e Buenos Aires.
O último problema que surgiu foi o tempo, porque em caso de chuva o espaço ficaria reduzido e a assistência diminuída. Felizmente isso não aconteceu. Isto recomenda realizar as novas versões da Feira em meses mais favoráveis em termos climáticos. As instalações utilizadas, localizadas em El Lingue nº 330, Comuna da Estação Central, não foi o melhor lugar para este tipo de evento, pois não havia boa divisão de áreas para debates e oficinas.
Não obstante o escrito acima, e o ajustamento em uma hora do cronograma, as múltiplas atividades puderam se desenvolver normalmente. Houve discussões, palestras, apresentações de livros, vídeo-conferências, música ao vivo, exposições fotográficas, intervenções teatrais, oficinas de crianças. E paralelo a tudo isso, havia cerca de 50 mesas de divulgação, editoras, bibliotecas, jornais, e diversas iniciativas de propaganda anárquica.
Sábado, dia 12
Com algum nervosismo, fomos desde cedo acondicionando o local para a Feira. Não sabíamos ao certo se a convocatória tinha sido bem-sucedida e também era provável que a polícia e a imprensa burguesa viessem incomodar, já que sabiam do evento, pois houve acompanhamento policial quando se coordenava a jornada (em várias reuniões) e Las Últimas Noticias, um dos jornais de maior circulação no Chile, havia publicado uma ampla nota do evento em sua edição de sexta-feira, 11 de maio. Aparentemente, a imprensa não veio, e carabineiros só fizeram uma patrulha habitual. A presença de policiais disfarçados, é um fato. No entanto, ninguém interrompeu o desenvolvimento normal das atividades.
Quando já eram 11 horas da manhã, todo o espaço estava cheio, e as pessoas continuavam chegando. Existiu momentos em que caminhar estava realmente complicado. Contudo, as atividades puderam ser executadas.
Nesse dia teve um fórum coordenado pelo CSO Los Lecheros de Valparaíso, sobre a produção de conhecimentos nas universidades e espaços libertários. Depois, houve uma mesa sobre meios de comunicação anarquistas. Devido a limitação de tempo, os companheiros só puderam apresentar as iniciativas. Eles eram: Radio Mauricio Morales e Metiendo Ruido, ambas de Concepción; Video-revista Sinapsis, revista Política y Sociedad, periódicos Solidaridad e El Surco, todos de Santiago; periódico Acracia de Valdivia; periódico Acción Directa de Lima; e Radio ConCiencia de Valparaíso. Em seguida, teve uma mesa sobre sindicalismo e movimento estudantil, onde falou um membro da CNT espanhola e um da FEL [federação de estudantes libertários]. Depois disso, foi a vez do almoço em comum: lentilhas com quinua.
Mais tarde houve a apresentação de três livros: “Ciudadanxs no“, Ediciones Sin Nombre (Concepción) e Afila Tus Ideas (Santiago), “Una introducción al anarquismo“, publicado pela CRA, e “Creyeron que éramos rebaño”, Editorial Quimantú. Houve também um interessante fórum coordenado pelo Pikete Jurídico, juntamente com “81 razones“, sobre o sistema prisional, sua história e a legislação repressiva no país. Naquele dia também aconteceram oficinas sobre segurança na Internet e diagramação de livros. Fomos acompanhados pelo canto de “Nido del Cuco“, trovador de Montevidéu.
Domingo, dia 13
O domingo foi mais lento do que sábado. Não havia muitas pessoas como no dia anterior, mas pela tarde, os espaços estavam cheios. Algumas complicações técnicas, de som e computação, nos obrigaram a reajustar a ordem das atividades, mas os problemas foram resolvidos. Essas coisas devem ser melhoradas em futuras oportunidades.
O dia começou com um fórum sobre as relações de autoridade de homens e mulheres libertários. As atividades foram coordenadas pelas companheiras de Huelga de Vientres e Flor de Litre. Então veio uma palestra sobre antimilitarismo, a cargo de um membro da vídeo-revista Sinapsis. Ela foi seguida pelo lançamento da revista Víscera, editada por alguns companheiros na Alemanha e Chile. Nesse dia, o almoço em comum foi macarrão com molho.
Teve a apresentação de vários livros: “En la calle”, da Editora Madreselva de Buenos Aires; “Como la No violencia protege al Estado” de Peter Gelderloos, editado por Ediciones Crimental e Ignición Ediciones; “Cuando la patria mata. La historia del anarquista Julio Rebosio”, de Víctor Muñoz; “Rebeldías Líricas” de José Domingo Gómez Rojas, editado pelo CSO Los Lecheros de Valparaíso; Um livro sobre a VOP (1969-1972) publicado pela Editora Memoria Negra.
Nesse dia também houve uma concorrida conversa sobre Mauricio Morales e outra sobre as lutas antiprisões hoje, com a participação de companheiros da Defensoria Popular. Um companheiro da Rádio Mauricio Morales fez uma apresentação sobre o anarquismo em Concepción, desde 1988 até a atualidade, destacando a importância dessa região na rearticulação do movimento após a ditadura. Houve oficinas sobre segurança na Internet e encadernação de livros. Teve também uma intervenção teatral. Na música de acompanhamento: La Trova Record, a Lira Libertaria e Felipe Synapsis.
Um pequeno balanço
Apesar de alguns problemas e detalhes que devem ser superados em novas empreitadas, questões que já mencionamos acima, o resultado da Feira é avaliado muito positivamente pelos participantes e coordenadores. Cabe destacar que esta é a primeira deste tipo nesta região, e que felizmente foi conduzida em um ambiente agradável entre os companheiros e companheiras, e mesmo entre várias tendências e iniciativas libertárias que não se dão bem uns com os outros. Uma boa impressão ficou girando no ar. Alguns desejam replicar a Feira em outras cidades, e até mesmo em outros países. Trata-se de motivação e dar procedimento a livre iniciativa.
Os objetivos foram atingidos, ou seja, o evento serviu para que as diversas iniciativas se encontrassem, para que surgissem novos contatos e relacionamentos. A Feira estimulou os grupos de propaganda impressa a criar novo material, e com isso pudemos realizar uma visão geral da atividade editorial libertária atual. Fugimos dos circuitos institucionais de cultura.
Agradecemos a todos e todas que tornaram possível a realização deste evento. A Junta de Bairros de Villa O’Higgins na Estação Central, pela boa vontade de nos oferecer o espaço. Para todas as iniciativas de difusão que participaram e os coordenadores e participantes das oficinas, fóruns e conversatórios, pela compreensão e paciência ante as dificuldades de comunicação mútua, e perante os pequenos problemas técnicos. Congratulamo-nos com os participantes e aqueles que desde a distância espalharam e apoiaram a realização da Feira.
Ficamos muito felizes. Não há dúvida de que virão novas versões e faremos o possível para melhorá-la em todos os sentidos.
Até a próxima e que viva a anarquia!
O grupo coordenador
Fins de Maio, 2012
Santiago, Região chilena
Fotos:
agência de notícias anarquistas-ana
peixes voadores
ao golpe do ouro solar
estala em farpas o vidro do mar
José Juan Tablada
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...