Na sexta-feira, 31 de maio de 2013, o povo de Istambul tomou as ruas e ocupou o Gezi Park e a Praça Taksim, no centro da cidade. A razão para esta atitude foi a decisão do governo de expropriar o parque e dar a área a um particular para se construir o 94º hopping center da cidade junto com outra mesquita. Desenvolvimento e igrejas também andam juntos na Turquia!
Nesse dia, mais tarde, enquanto os manifestantes estavam montando o acampamento na praça, a polícia atacou a multidão com uma ferocidade sem precedentes, mesmo para os padrões atuais da Turquia. Dezenas de pessoas ficaram feridas, muitas delas gravemente. Uma delas perdeu o olho, outra a orelha e a audição.
Aos primeiros raios da manhã, a resistência se espalhou por toda a cidade, Ankara, Adana e Izmir. Conflitos que se generalizaram quando o primeiro manifestante caiu morto gerando, com o seu sangue, a revolta que se seguiu.
Durante 2 dias, 46 cidades entram em conflito com a polícia, com expropriação de propriedades e ataques a alvos capitalistas (bancos, lojas de multinacionais, etc.). Cerca de 4.000 detenções foram realizadas em todo o país, com muitos feridos, devido à brutalidade policial. E, até agora, 3 mortos (números oficiais).
Um vídeo mostra claramente um policial, na rua, atirando na cabeça de um manifestante, usando munição real. O primeiro manifestante foi morto quando um carro passou por um grupo de manifestantes e, apesar de suas advertências, os levou arrastados.
Excetuando a organização (SODAP), todo o grupo hacker “RedHack” anunciou a morte do manifestante, referindo-se a ele como um membro da “RedHack”.
O grupo de hackers afirma que a morte do ativista, com 20 anos de idade, foi pré-organizada. Outro manifestante, um estudante, que estava na zona dos canhões de água, permaneceu inconsciente e morreu mais tarde no hospital, vítima de um ataque cardíaco.
A revolta, contudo, não se gerou de repente
Os cidadãos da Turquia estão sendo atormentados pelo autoritarismo do Estado há décadas. Primeiro foram os sultões, depois os militares e a reforma Kemalist, mais tarde os governos dos generais de elite e hoje o partido islâmico de Erdogan [primeiro-ministro turco].
Os islamitas do Erdogan empurram o Estado da Turquia, para a via da islamização: com leis que proíbem o aborto, a expressão pública de afeto entre casais, a maquiagem para as mulheres, o álcool, restringindo os direitos dos trabalhadores e do estabelecimento de um “estado policial” além das vozes nacionalistas radicais contra Israel e Síria.
Os ataques nos espaços públicos que se mantiveram nos grandes centros urbanos, complementaram o quebra-cabeça do autoritarismo.
A piada do crescimento econômico existe, na mesma proporção, em ambos os lados do Mar Egeu. A mídia da Turquia está totalmente sintonizada com a “máquina do Estado”, através dos eventos silenciosos, do fato de se esconder as imagens dos feridos, dos mortos, dos espancamentos e as torturas dos detidos. Nenhuma imagem dos insurgentes foi mostrada lutando nas ruas contra a polícia e contra os paraestatais. Além disso, não houve transmissão das vozes e slogans: ”contra o fascismo, confiar nos nossos próprios meios” ou ”nem Erdogan nem exército”.
Apesar disto, nada pode domar o fogo. A solidariedade global é expressa em todo o mundo de toda a maneira possível. Textos, faixas, passeatas, protestos e concentrações, fora da Embaixada da Turquia, mostram claramente que os turcos insurgentes não se encontram sozinhos. A solidariedade internacionalista é a nossa arma. A guerra entre as classes. Praça Taksim, ou parque Gezi são só uma causa.
Grécia à moda da Turquia
Na Grécia, os designados pela troika mantiveram-se “equidistantes”, reproduzindo os discursos de Erdogan e os estereótipos conhecidos de manifestantes violentos e lojas quebradas.
O exemplo mais representativo é o do canal Skai que transmitiu a morte de um manifestante, causada por um canhão de água, como a seguir se indica: “antiautoritário desafia canhão de água e morre diante das câmeras”.
Após esta análise, diferentes perspectivas foram dadas por repórteres que alegavam que isto não é “nem uma rebelião, nem uma Primavera Árabe etc.”, mostrando assim o seu medo do que representa o rosto do popular levante e dos movimentos livres.
Eles estão tentando subvalorizar os eventos e enganar o público. Eles estão com medo da ideia de que a subclasse irá responder à Ásia, Europa e ao mundo árabe. Estão com medo de uma possível propagação da rebelião nos Bálcãs.
Vieram com ataques ao povo grego, culpando os manifestantes por vandalismo e danos ao consulado grego [em Istambul]. A verdade é que nenhum grego foi atingido e, tanto é assim que o consulado de tão preocupado “esqueceu-se” de traduzir as palavras de ordem que foram pichadas, ”Tayyip vai para casa, você e os outros” e ” solidariedade ao povo da Grécia”, “Aqueles que estão trabalhando com o regime turco são o alvo”.
Em face dos acordos geoestratégicos e políticos entre Samaras [primeiro-ministro grego] e Erdogan, os povos na Europa levantam-se e resistem. Além dos gasodutos existentes e do petróleo do Mar Egeu, as pessoas gritam ”Yeterli” (até agora).
O sequestro do turco refugiado político Bullut Yayla, de 24 anos, na quinta-feira, dia 30 de maio, por volta 9h30, no centro de Atenas, em frente dos transeuntes, não pode ser considerado um fato exterior aos acontecimentos.
Bullut foi encontrado por um grupo de advogados e apresentado para os serviços de inteligência da Turquia, em Istambul, dois dias mais tarde. Um grupo de pessoas que falava grego e outro que falava inglês tinham batido nele, e entregaram-no a agentes turcos. Outro “Caso Ocalan¹”, com o governo grego e a embaixada dos EUA trabalhando juntos.
Solidariedade com o prisioneiro político Bulut Yayla!
Irmãos e irmãs, mantenham-se firmes!
A morte da revolta é a morte de nós próprios!
Na Grécia e na Turquia o inimigo são os bancos e os ministérios!
Grupo de Pensamento Libertário Vermelho e Negro
Korydallos, Grécia
Sexta-feira, 7 de junho de 2013
Tradução > Liberdade à Solta
[1] Abdullah Ocalan liderou a guerra civil curda pela independência da Turquia, nas décadas de 1980 e 90, durante a qual morreram mais de 30 mil pessoas. Foi capturado no Quênia, em fevereiro de 1999 e julgado quatro meses depois. A Justiça turca condenou Ocalan à morte por crimes de traição e separatismo. Ocalan está cumprindo pena numa ilha-prisão, em Imrali, no mar de Mármara, onde é o único recluso.
agência de notícias anarquistas-ana
Alto da serra —
Passa sobre a terra arada
A sombra das nuvens
Paulo Franchetti
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!