Em uma entrevista exclusiva, Ahram Online conversou com membros do mais controverso e misterioso grupo de oposição [no Egito], o fora da lei “Black Bloc”, a frente das manifestações nacionais anti-Morsi [Mohamed Morsi, presidente do Egito] em 30 de junho.
Depois de 45 dias de detenção, forças de segurança libertaram oito jovens homens presos em abril [de 2013] por fazer parte do difuso e fora da lei grupo “Black Bloc”.
Oito jovens atacados com as mesmas acusações, incluindo espalhar o terrorismo e ideias proibidas na internet, posse de armas de fogo, uso de violência contra servidores públicos e queimar edifícios da Irmandade Muçulmana.
O “Black Bloc” do Egito arrepiou as penas das autoridades desde que apareceu misteriosamente em 24 de janeiro de 2013. Apenas cinco dias depois, o Procurador Geral Talaat Abdallah emitiu um mandado de prisão a qualquer um envolvido com o que ele chamou de “grupo organizado praticante de atos de terrorismo”. A mídia enlouqueceu.
Um dos “Black Bloc” detidos é Youssef Ali, um estudante ativista, conhecido por seus camaradas revolucionários como “Joe, a lenda”. Durante sua detenção, Ahram Online falou com um amigo de Ali que, com medo de ser preso, preferiu se manter anônimo.
“Joe é acusado de fundar o “Black Bloc”, mas ele é inocente”, diz seu amigo. “Ele não é sequer um membro, mas é bastante ativo na internet escrevendo contra a Irmandade Muçulmana e Mohamed Morsi, bem como documentando os confrontos”.
Depois de sua recente libertação, Ali negou todas as acusações e acusou por sua vez o Ministério do Interior de maltratar a ele e outros durante sua detenção sem investigações.
O “Black Bloc” surge
A primeira vez que os egípcios ouviram sobre o grupo “Black Bloc” foi quando uma conta no Twitter e uma página no Facebook apareceram anunciando que o recém-formado “Black Bloc” egípcio organizaria uma marcha na praça Tahrir um dia antes dos protestos para o segundo aniversário da Revolução de 25 de janeiro.
No mesmo dia, o grupo liberou um vídeo intitulado “A primeira declaração do Black Bloc”, que delineou sua razão de ser: derrubar os desmandos da Irmandade Muçulmana.
O vídeo mostrou jovens encapuzados e mascarados caminhando na Ponte Stanley em Alexandria tarde da noite, carregando uma bandeira do Egito e diversas bandeiras estampadas com o símbolo internacional da Anarquia: a letra A em um circulo.
No dia seguinte, em meio aos protestos do segundo aniversário, o “Black Bloc” produziu manchetes em vários jornais quando eles teriam incendiado a sede do website da Irmandade Ikhwan, bem como outras propriedades do grupo islâmico no centro do Cairo.
O gabinete do procurador geral, posteriormente, pediu aos cidadãos para prenderem qualquer suspeito de ser um membro no ambíguo grupo, incluindo quem se vestisse como os membros do “Black Bloc”, chamando as pessoas para entregá-los às forças de segurança.
Segurança Interna e Inteligência Geral do Egito, o Procurador Geral disse em declaração oficial que havia alegadamente chegado aos líderes do grupo. “É apenas uma questão de tempo” antes de exporem a enorme conspiração por trás da organização.
O resultado foi uma “mania” de cidadãos entregando ativistas às forças de segurança. Jovens egípcios usando preto ou balaclavas se tornaram alvos do Estado.
“Nós não estamos com medo da prisão ou da polícia. Não importa mais do que e como as forças de segurança mataram [os ativistas] Jika e Christy, meus amigos, então eu não estou mais assustado”. Disse Morro, administrador da página no Facebook “Black Bloc Egito”.
Por que Black Bloc
Gaber Salah, ou “Jika” foi morto a tiros durante um confronto entre manifestantes e a polícia na praça Tahrir em novembro de 2012. Mohamed Salah, Aka “Christy”, foi assassinado nas batalhas de fevereiro perto do palácio presidencial Heliopolis.
“Black Bloc Egito”, a primeira e maior página “Black Bloc” no Facebook, é mantida como página oficial do grupo. A página já assumiu a responsabilidade por muitas das chamadas ações “Black Bloc”, como o fechamento de pontes, ataques aos portões do palácio presidencial, bem como marcar como alvo as propriedades da Irmandade Muçulmana.
“Eu quero enviar uma mensagem ao Ministério do Interior e à Direção de Segurança do Cairo, que vou vingar a morte de meus amigos”, disse Morro ao Ahram Online, acrescentando que três membros do grupo foram recentemente presos.
“Eles são homens, eles não vão expor o resto de nós”, afirma Morro.
“A ideia de formar um “Black Bloc” no Egito não surgiu repentinamente, nós somos um grupo de amigos que se conhece há dois anos, antes de todos os confrontos“, explica Morro.
“Já estávamos atrás de vários outros distúrbios, como os confrontos na Embaixada Americana [no ano passado] e os motins no Nile Corniche. Pensamos em formar um movimento não-pacifista e começamos com um movimento hooligan até chegar à ideia do Black Bloc“.
Morro descreveu a busca pela internet de vídeos de protestos e distúrbios ao redor do mundo até que ele e seus amigos encontraram “por coincidência” sequências de membros do “Black Bloc” na Grécia.
Um mundo arábico primeiro
O “Black Bloc” se originou na Alemanha dos anos 80, quando manifestantes de esquerda começaram a usar roupas pretas e balaclavas para resistir a prisões durante as manifestações. O movimento começou pacífico, mas logo se desenvolveu em uma organização mais anarquista e violenta, adotando táticas como vandalismo e perturbação da ordem. O “Black Bloc” no Egito é o primeiro capitulo local a ser gravado no mundo Arábico.
“Nós ficamos interessados e lemos livros sobre eles para saber suas ideias e técnicas e consequentemente decidimos formar um “Black Bloc” no Egito”, conta Morro.
As metas do grupo, explica Morro, são “botar abaixo o regime, destruir a Irmandade Muçulmana e suas propriedades, levantar-se frente à opressão do Ministério do Interior e proteger todas as manifestações revolucionárias”.
No entanto, são mais de 40 páginas no Facebook alegando representar o “Black Bloc” no Egito, incluindo alguns para províncias e áreas específicas, como “Black Bloc Alto Egito”, “Black Bloc Sharqia” e “Black Bloc Port Said”.
Os episódios locais tem sido bastante ativos: a cidade natal do presidente Morsi, Zagazig, em Sharqia, assistiu a vários confrontos violentos entre membros “Black Bloc” e forças de segurança durante os últimos meses.
Também há uma página “Black Bloc” dedicada às mulheres, intitulada “Black Bloc Girls”, que principalmente critica o presidente e a Irmandade, mas que ainda não reclama responsabilidade por ação nas ruas.
Muitas dessas páginas são espaços pró-revolucionários que existem antes do “Black Block” emergir precocemente este ano, e simplesmente mudaram suas atividades e nomes para apoiar mais efetivamente o grupo ilegal.
“Não ser a única página “Black Bloc” no Facebook é, na verdade, uma forma de conforto. Nós achamos que as pessoas nos apoiam através dessas páginas”, diz Morro, acrescentando: “Nós não somos os donos exclusivos da ideia”.
Muitos dos admiradores da página querem se juntar ao grupo, continua Morro, mas eles não respondem a todas as solicitações por “medo de serem infiltrados e consequentemente expostos”. Ele afirma que a página “Black Bloc Egito” é a única monitorada pela inteligência e forças de segurança.
Morro continua a afirmar que a sua página é a página oficial no Facebook do “Black Bloc” no Egito: “Afinal de contas, nós somos os únicos que estão na rua“. A alegação é impossível de verificar.
Identidades mascaradas
“Não há um único pedaço de informação revelada por uma investigação oficial sobre esses garotos, quem eles são na verdade, o que eles querem ou quem os financia, para que as pessoas possam discutir apropriadamente o fenômeno Black Bloc”, diz Fouad Allam, um policial aposentado e ex-subsecretário de Segurança do Estado da era Mubarak.
O policial veterano, que tem anos de experiência lidando com os chamados grupos terroristas desde os anos 70, exigiu que o gabinete do Procurador Geral divulgue os resultados das suas investigações para que as pessoas possam conhecer a verdade.
O sigilo que rodeia os jovens alimenta uma especulação massiva: a mídia continua fascinada com eles.
Dina Abdel Fattah apresentou em um horário privado na Dream TV uma entrevista com um jovem mascarado que falou anonimamente sobre as metas do grupo anarquista.
Wael Al Abrashi da Dream TV seguiu o exemplo. Ambos foram posteriormente acusados de apoiar uma organização terrorista.
Enquanto isso, os canais da TV Islamita como o ultra ortodoxa Salafista Al Hafez acusaram figuras de oposição, incluindo a igreja, de estar por trás da organização ilícita.
Liderando a Al-Gamaa Al-Islamiya, Aboud El-Zomor, que foi preso por acusações de terrorismo sob o governo Mubarak, rotulou os membros do “Black Bloc” de “terroristas”. O Movimento Juvenil 6 de abril, “Movimento Democrático”, entretanto, descreveu o bloco como uma Irmandade “bicho-papão” usada para caçar os oponentes do grupo Islamita.
A virada violenta
Samir Naeem, professor de sociologia na Universidade Ain Shams, entretanto, explica que a juventude adotar expressões não pacifistas como o “Black Bloc” é uma consequência da brutalidade do Estado.
“Violência gera violência e toda a atmosfera em que vivemos é violenta. Porém, isto não pode ser atribuído à revolução, que começou pacificamente e continua pacífica”, explica Naeem.
“As autoridades em comando, de Mubarak à Irmandade Muçulmana, são responsáveis por essa violência. Eles começaram usando a brutalidade, seja através de armas ou mercenários, para matar jovens revolucionários, que foram sequestrados e torturados e só possuíam pedras para se defender”.
A brutalidade das forças de segurança, acredita Naeem, tornaram o Egito um estado sem lei governado apenas pela “lei da selva”.
A juventude frustrada e brutalizada – alguns dos quais, após décadas de opressão, já tem tendências violentas – tomaram a situação em suas próprias mãos usando todos os meios possíveis. “O que mais poderíamos esperar das pessoas jovens?”, pergunta Naeem.
Com as engrenagens nacionais alertas para os protestos em todo o país no primeiro aniversário de gestão do presidente Morsi, o “Black Bloc” anunciou na semana passada através de uma das suas páginas do Facebook que seus membros não vão usar violência e protestar pacificamente.
Eles também alegaram que iriam parar suas operações contra a Irmandade Muçulmana.
Talvez, com dezenas de jovens ainda presos e ameaças de novas prisões, o mais comentado grupo de oposição radical do Egito tenha sido intimidado à moderação.
Fonte: Ahram Online
Tradução > Carou
agência de notícias anarquistas-ana
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Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...
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Olá, me chamo Vitor Santos e sou tradutor. Posso traduzir do Inglês, Espanhol, Alemão, Italiano e Catalão. Inversamente, somente do…