O periódico “Tierra Nueva!” (Terra Nova!) acaba de publicar clandestinamente seus dois primeiros números.
Desde sempre existe uma tradição libertária no Caribe. As idéias ácratas sempre têm impregnado o povo cubano, sendo uma expressão revolucionária que nasceu muito cedo, nas primeiras lutas contra a escravidão e a independência no século XIX. O movimento libertário tem muito mais de cem anos em Cuba, porém, têm sido excluído da história oficial por historiadores e editores a soldo do Partido Comunista de Cuba. Em 1960, várias organizações anarquistas que lutaram na clandestinidade ou na guerrilha junto a Castro foram proibidas. Nesses anos, os libertários foram assassinados, encarcerados ou forçados ao exílio.
Temos comentado reiteradamente em nosso periódico Cuba Libertária e no blog Polêmica Cubana (em francês) o renascimento nos últimos anos do movimento libertário em Cuba. Depois da criação, fazem alguns anos, da Rede Observatório Crítico e, mais recentemente, da Oficina Libertária Alfredo López em Havana, nossos compas libertários vem lutando para reviver o anarquismo. Este grupo de jovens ativistas investigam a realidade cubana, a história do movimento anarquista e suas idéias. Apesar da repressão e da censura para falar pelos meios de comunicação em mãos do regime, já que qualquer ponto de vista libertário é julgado contra-revolucionário pelas autoridades, os libertários saem pouco a pouco da clandestinidade.
A Revolução criou uma grande frustração e decepção, sobretudo entre as gerações mais jovens. Um profundo desejo de liberdade, de dignidade, de falar e de atuar existe em Cuba. Se devem reinventar os vínculos sociais a fim de contribuir com uma “revolução dentro da revolução” e de lutar contra o autoritarismo, a burocracia e a corrupção generalizada.
Damos as boas vindas hoje, apesar da censura e da repressão, ao renascer de uma imprensa anarquista clandestina em Cuba, quando nossos jovens compas de Havana acabam de publicar os dois primeiros números de Terra Nova! depois de mais de 52 anos de silêncio. Cabe recordar que ao final de 1960 foram proibidas todas as publicações libertárias na ilha.
Para dar voz aos valentes editores do periódico, reproduzimos a nota editorial do número 1:
“Tierra Nueva!” por que nos sentimos herdeiros do grupo libertário que editou durante 22 anos o semanário “Tierra!”. No início do século passado.
Esta publicação nasce para contribuir com a conexão de indivíduos e coletivos que vivem no cotidiano relações livres, prazerosas, solidárias… que fazem parte de um espírito anarquista selvagem e espontâneo.
Acreditamos que é possível uma sociedade sem mediação, sem espetáculo, sem miséria, sem autoridade, sem leis exceto as que escolhemos, sem discriminação, sem simulação, sem opressão, sem servidão.
Não temos nada contra a utopia, nada mais longe da verdade, porém sabemos que é muito mais utópico pensar em um futuro “estado de bem estar” que em uma sociedade desenvolvida por nós mesmos nos tempos que virão.
Para os que crêem que queremos viver em desordem, amamos o único tipo de ordem que não nasce das correntes da servidão, senão de nossa liberdade realizada: a única ordem que entendemos como natural e antagônica na desordem atual, imposta por tantas autoridades.
Como aspiramos a uma sociedade de indivíduos livres e plenamente realizados, como entendemos que os Estados garantem a continuidade do atual regime de exploração destes tempos modernos (a escravidão salarial), não podemos fazer menos que declararmo-nos seus inimigos. Assim, são convidados a colaborar todas as pessoas interessadas, EXCETO aquelas que de alguma maneira vivam do esforço do trabalho alheio.
Se bem as classes dominantes nos mantêm na inação, na confusão, na falta de solidariedade, no isolamento, a espera dos escolhidos que nos deem um futuro melhor, acreditamos que o principal culpado que não nos deixa viver bem aqui e agora, é a polícia que levamos quase todos internamente. Esta será uma vítima de nossos constantes ataques.
Rechaçamos todo tipo de participação política no jogo do poder, porque entendemos que o poder político não é uma ferramenta de transformação social, senão a via expressa com que a classe dominante faz sua vontade, utilizando a armação do Estado, seu exército, polícia, juízes e carrascos. Não queremos legislar o funcionamento de tais instituições, senão eliminá-las! Queremos viver de maneira diferente ao que propõem os partidos de esquerda, centro e direita, ou intermediários dentro ou fora do país.
Não pretendemos erigirmos porta vozes de ninguém, exceto de nós mesmos e dos que se nos unam no caminho. Não esperamos nada do Estado, porém duvidamos em utilizar o que nos tem tirado. Dadas as dificuldades, esta publicação saíra sempre que possível“.
Com a publicação deste periódico, nossos companheiros cubanos sofrem grandes riscos, se expõem a anos de prisão, segundo a lei cubana, que proíbe a publicação livre. Por isso, a solidariedade política internacional é importante, para prevenir a repressão e a obstrução dos serviços de espionagem e segurança do Estado, que certamente estão atentos às atividades de nossos companheiros.
O renascimento de um movimento libertário em Cuba, com a existência de um Fórum Social próprio, são elementos chaves para levar a cabo um amplo trabalho de sensibilização. Porém o desenvolvimento das correntes libertárias e das correntes críticas autogestionárias, federalistas e ecologistas, necessitam de meios materiais que são difíceis de encontrar na ilha. Daí a importância da ajuda externa, inclusive por que se trata de uma ação delicada, porque a ajuda internacional aos movimentos de oposição são consideradas pelo governo como um financiamento do “império” para a contra-revolução.
Lembramos que a Internacional de Federações Anarquistas (IFA) e o Grupo de Apoio dos Libertários e Sindicalistas Independentes em Cuba (GALSIC) lançaram uma campanha internacional de solidariedade com os libertários cubanos. Para enviar o material (livros, revistas, CD, DVD, etc.), comunique-se com o GALSIC através do e-mail: cubalibertaria@gmail.com.
Para apoiar a oficina dos compas libertários em Havana, você pode enviar sua ajuda financeira a um fundo de apoio permanente que está a cargo da Internacional de Federações Anarquistas.
Envie seus donativos à IFA:
Société d’Entraide libertaire (SEL) c/o CESL, BP 121, 25014 Besançon cedex, França (cheques a ordem de SEL, escrevendo “Cuba” no verso).
Daniel Pinós (integrante do GALSIC).
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Borboletas mil
Multiplicando jardins
São flores aladas.
Francisco Ferreira
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!