Na terça-feira, 13 de agosto, à noite, um rapaz de 19 anos tomou um trólebus para ir ao bairro em que vive, na periferia de Atenas. A poucos minutos um inspetor chamado Nikos Platís abordou o veículo e lhe pediu o bilhete, com um tom de voz imperativo. O jovem explicou que estava desempregado, assim como todos os membros da sua família, e que não tinha dinheiro para pagar o bilhete, mas o inspetor ficou mais agressivo e como se fora um policial, lhe pediu que desse seus dados, de uma forma coatora, com a finalidade de aplicar-lhe uma multa, ameaçando levá-lo a polícia se o ignorasse.
Na luta que sucedeu a discussão entre o jovem e o inspetor (que, por sinal era membro da Juventude do partido direitista Nova Democracia, que é o maior dos partidos da coalizão governamental), participou também o condutor do trólebus, pondo-se do lado do inspetor. Nesta luta o inspetor rasgou a camiseta do jovem. Segundo uma testemunha ocular, o condutor do trólebus parou o veículo e abriu uma de suas portas. Segundo outra testemunha o jovem nem havia puxado nenhum botão de abertura de emergência com o trólebus em movimento, nem havia aberto a porta do trólebus. Num instante o jovem se encontrou deitado e sangrando no asfalto da rua. Uns minutos mais tarde, faleceu. É preciso assinalar que o corpo do rapaz de 19 anos foi encontrado no chão deitado de barriga pra cima, tal como havia caído do veículo. Segundo os pais do menino, seu filho foi jogado do veículo na rua. Ainda no suposto caso de que o jovem houvera saltado, o incidente não é uma morte acidental ou aparentemente acidental, como querem apresentar os meios de desinformação gregos e estrangeiros. É um assassinato. O inspetor-caçador de comissões e o condutor do veículo, atuando como o braço comprido do Regime, são os autores deste assassinato.
Em um vídeo¹ gravado uns minutos depois do incidente, vários passageiros do trólebus e outras pessoas trataram de atacar e agredir o capanga do Regime. Os policiais que haviam acudido ao local do incidente, na realidade o protegeram da cólera das pessoas. O conduziram a Delegacia, junto com o condutor do trólebus, mas não os detiveram. Umas horas depois os deixaram em liberdade.
Na quarta-feira, 14 de agosto, um dia depois do assassinato, umas 300 pessoas, em sua maioria anarquistas, realizaram uma passeata pelas ruas do bairro em que vivia o jovem (vídeo²). Antes da passeata, a assembleia dos participantes expulsou os jornalistas e fotógrafos de todos os meios de desinformação e propaganda para fora do local da concentração. Durante a passeata foram pichadas e gritadas várias palavras de ordem (por exemplo: “SS, policiais e fiscais” e quebraram máquinas de venda de bilhetes (fotos e vídeo³).
Na sexta-feira, 16 de agosto, mais de 2.000 pessoas presenciaram o funeral do jovem assassinado pelos capangas do Estado. Anteriormente a celebração do funeral, a maioria dos participantes havia tomado parte em uma passeata que partiu do ponto do assassinato do jovem e terminou no cemitério onde se celebrou a cerimônia. Durante a passeata gritaram palavras de ordem como: “Por um bilhete nos matam, basta com o aumento dos seus lucros” e “Os assassinatos não são instantâneos, constituem a política do Estado”. Quando os manifestantes cruzaram com um trólebus, quebraram algumas de suas janelas e pintaram nele a palavra “assassinos”. Depois do funeral as pessoas se dirigiram a praça maior do bairro, onde estalaram conflitos entre os manifestantes e a polícia. Realizaram-se dez detenções. Depois desta primeira onda repressiva, as pessoas voltaram a reunir-se no local do assassinato. Então os cães do Regime procederam a outras dez detenções e se puseram a perseguir e expulsar da praça maior do bairro as pessoas reunidas. Umas horas mais tarde todos os detidos menos um foram postos em liberdade.
No sábado, 17 de agosto, pela tarde, muita gente começou a reunir-se de novo no local do assassinato, sob a vigilância de uma multidão de policiais uniformizados e secretos. Quando a polícia exigiu aos reunidos que se retirassem da rua, ameaçando com prisão, eles se dirigiram a praça maior do bairro, onde se realizou uma assembleia.
O incidente de 13 de agosto não é nem isolado nem fortuito. É o resultado da violência que exercem diariamente os valentões que se chamam inspetores a centenas de pessoas que não podem pagar o bilhete do transporte público ou se negam a pagar defendendo seu caráter público e seu uso gratuito pelo povo. Os inspetores são os policiais dos meios de transporte de massa. São os mercenários do Regime neste setor da repressão: Por cada multa que colocam, ficam com a metade do dinheiro. Se alguém sustenta que “eles simplesmente fazem seu trabalho”, terá que explicar em que consiste esse “trabalho” e sobretudo a que interesses serve.
Nesta sociedade o direito a vida depende da possibilidade de pagar (neste caso o bilhete, em outros casos por qualquer bem ou produto). Nesta sociedade não só podes fazer o que te permite tua situação econômica, senão que és o que podes pagar. Os policiais e os inspetores são os que salvaguardam a perpetuação desta situação e deste sistema, com o qual seu trabalho é tão sujo como os objetivos de seus patrões. Neste caso de 13 de agosto, tiraram a vida de um jovem de repente. No caso de nossa vida o estão fazendo dia após dia.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=H-ONmZa-0Qg
[2] http://www.youtube.com/watch?v=Xe52_cBucH8
[3] https://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1486518
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Disparos de flashes.
Vaga-lumes fotografam
minhas retinas.
Francisco Moura Campos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!