Agência de Notícias Anarquistas > Quando e como surgiu o Coletivo Areíto Arte Acción?
Coletivo Areíto Arte Acción < O Coletivo Areíto Arte Acción surgiu em 2011. A primeira ação realizada foi um mural coletivo na cidade de Xalapa, Vera Cruz, como resposta à ausência/morte das pessoas desaparecidas pelo crime organizado. Posteriormente toma forma como coletivo de intervenção cênica em espaços públicos e não convencionais, no Primeiro Acampamento de Jovens Ante o Desastre e a Emergência Nacional, na cidade do México. O coletivo nasce a partir de diferentes processos de resistência no país, e tem se nutrido em ações com comunidades rurais em nosso trânsito pelo México e América Central. Nós, as pessoas que formamos o coletivo, somos atores e não atores, provenientes de diferentes áreas do conhecimento e arte (antropologia, história da arte e teatro).
Algo importante a destacar é que Areíto se caracteriza por sua constante transformação e configuração, sempre apreendendo/aprendendo com os outros, desde as poéticas/políticas da liberação com disciplina e conhecimento do meio ou contexto no qual se insere. Estando claro que o aqui e agora é uma constante construção.
ANA > E quais as principais ações do grupo até o momento?
Coletivo Areíto Arte Acción < Intervenções em espaços públicos: com temáticas diferentes, realizamos ações performáticas ou partimos de uma estrutura mais conectada ao texto dramatúrgico, dependendo do momento sóciopolítico.
Oficinas em comunidades rurais e em Encontros de conteúdo sociopolítico.
Autogestão Cultural: Primeiro Festival pela Autonomia em Xalapa, Vera Cruz, Cartografias em resistência: viagem e intervenções pela América Central; Realização do Primeiro Encontro de Teatro Anarquista na cidade de Oaxaca e realização do Segundo Encontro de Teatro Libertário e Performance no marco do Aniversário da Biblioteca Anarquista Maria Luisa Marín, em Xalapa, Vera Cruz.
Montagem da obra de teatro anarquista: “La sirena roja” de Marcelino Dávalos e contos, para teatro infantil “Zóongoro Bailongo” de Zenen Zeferino Huerva.
ANA > Quais os temas que vocês abordam nas apresentações do grupo?
Coletivo Areíto Arte Acción < Inicialmente temos compartilhado e acionado textos de Eduardo Galeano, Moisés Mato (Teatro de la Escucha) e Práxedis Guerrero (Literatura Anarquista). Nossa última intervenção cênica coletiva foi “La sirena roja” (1908) de Marcelino Dávalos (Teatro Anarquista), apresentada em La Casa de Nadie (Xalapa, Vera Cruz) para o Segundo Encontro de Teatro Libertário/Performance no marco do primeiro aniversário da Biblioteca Maria Luisa Marín.
Os temas giram em torno de diversas problemáticas sociais do contexto no qual desenvolvemos nosso que fazer: Persistência da memória dos movimentos sociais; A violência simbólica e estrutural; Massificação e corrupção dos meios de comunicação; Prostituição infantil; O medo global ante a repressão existente; O anarquismo como poética de liberação, etc.
ANA > Como está sendo a experiência de organizar os encontros de teatro libertário e performance? Está valendo a pena?
Coletivo Areíto Arte Acción < Organizar encontros tem sido um trabalho complexo, que consiste em encontrar grupos e espaços solidários afins que, em sua vida cotidiana, façam uma réplica das políticas de autogestão, apoio mútuo e um posicionamento político definido. Muitos dos coletivos e/ou performancers que participaram, compartilhamos um espaço de intercâmbio entre o público assistente, companheiros afins e o mesmo trabalho criativo. Vale a pena porque expusemos poéticas de teatro/performance que não seriam vistos ou escutados em um espaço oficial ou comum, devido a sua matriz/gênesis não focada na espetacularidade, nem em chegar às grandes “massas” – mas evidenciar as problemáticas que nos afetam de forma direta e explícita como seres humanos em constante relação política com nosso entorno.
ANA > E quais os projetos que vocês têm para o futuro?
Coletivo Areíto Arte Acción < Organização de um terceiro encontro de Teatro Libertário e Performance, continuação das oficinas com o grupo especial e crianças da comunidade afrodescendente: Coyolillo, Veracruz. Intervenções emergentes teatrais e cênicas em espaços não convencionais, em resposta e confrontação à situação/devir histórico do país.
ANA > Por acaso há algum episódio histórico anarquista que gostariam de encenar?
Colectivo Areíto Arte Acción < Sim, “La sirena roja” (1906) do dramaturgo Marcelino Dávalos (Guadalajara, México), uma obra de teatro anarquista. Apresentamos-na no Segundo Encontro de Teatro Libertário e Performance, estamos redefinindo o processo de montagem e fazendo algumas adequações na dramaturgia. Nos interessa muito que a intervenção possa ser flexível, para adequar-se a espaços abertos como parques, praças, mercados e para lugares fechados, algo que nos permita realizar poéticas desde o in situ. Em questões de dramaturgia só faremos breves modificações para que a obra se torne mais próxima/humana, e convide a tomar consciência sobre os processos ditatoriais na atualidade, pelos quais está passando nosso país e que a história se repete; para nós é muito importante o uso da memória histórica.
ANA > Existe uma tradição de teatro libertário no México?
Coletivo Areíto Arte Acción < Não explicitamente como um movimento teatral visível e com um posicionamento político anarquista definido. Contudo, desde os anos sessenta, existem diversas experiências de teatro de grupo, coletivos e de obras teatrais que respondem à realidade do país. Na atualidade nos temos encontrado com coletivos afins que não têm uma formação teatral acadêmica, mas que incidem na sua realidade social aplicando os princípios libertários.
ANA > Acreditam na arte como ferramenta de transformação social?
Coletivo Areíto Arte Acción < Sim, totalmente. Pensamos e cremos que ante o estado atual de desumanização pelas políticas repressivas que vivemos dia a dia, a arte oferece uma janela para a liberação individual e no coletivo, como canal para a reivindicação ante à alienação constante e estupidez humana perpetuadas pelas dinâmicas sistêmicas de despojo e desmembramento do tecido social.
ANA > Falando em coerção… Já aconteceu algum tipo de repressão estatal ao trabalho de vocês, durante alguma atividade?
Coletivo Areíto Arte Acción < Sim, em nossa viagem pela América Central, quando realizamos diversas intervenções cênicas fora da Assembleia Legislativa em San José de Costa Rica, para expressar nosso repúdio pela chegada de Enrique Peña Nieto (Presidente de México) para receber a “Gran Cruz Placa de Oro de la Orden Juan Mora Fernández” e pelas alianças efetuadas com Laura Chinchilla. Havia muita ignorância da população de Tiquicia ou falta de interesse sobre isso, por isso decidimos sair às ruas para informar a situação social e política do México. Nos encapsularam em uma cerca metálica e fomos cercados por policiais, pudemos sair do encapsulamento graças a compas tchicos afins que os confrontaram e assim abrimos passagem. As atividades que temos realizado em nosso país sempre têm sido sob um marco de segurança com os mesmos compas e com estratégias adequadas.
ANA > Para finalizar, podem nos contar um pouco a respeito do projeto de recopilação de obras de teatro anarquista?
Coletivo Areíto Arte Acción < A recompilação das obras de teatro anarquista é um projeto de iniciativa da companheira Makame que participa no coletivo (o Coletivo Areíto não participa especificamente neste projeto); ela se especializou na investigação e análise de obras de teatro anarquista no México. Sua intenção é convidar companheiros de diferentes países que estejam interessados no resgate e recompilação da dramaturgia anarquista, para que, em conjunto, se realize uma antologia de textos e logo se publique por uma editora anarquista e em uma plataforma virtual. A ideia é seguir contribuindo com o resgate textual do anarquismo – poucas são as publicações que constam na arte e há vários exemplos de que o teatro, gráfica e plástica têm sido e são a arma e veículo para a transmissão do ideário anarquista e para pô-lo em prática. Cada integrante do coletivo têm um projeto individual como, por exemplo: a companheira Iachel realizará em alguns meses um projeto de dramaturgia com as mulheres do cárcere de Pacho; Jazz compartilha oficinas de Dança Butoh com meninos e meninas de educação especial na comunidade rural de Coyolillo; Kachas investiga e colabora no movimento antirepresas, especialmente em Temacapulín, Jalisco, etc.: cada qual em coisas diferentes segundo sua formação e interesse no individual e que por conseguinte têm influência em nosso fazer coletivo, sempre nos temos apoiado em algum ponto.
ANA > Algo mais que dizer?
Coletivo Areíto Arte Acción < Sim, estamos organizando o 3º Encontro de Teatro e Performance libertário em conjunto com o Bloco de Coletivos Morelos, que acontecerá na cidade de Cuernavaca, Morelos, no mês de março. Ainda estamos na fase da logística e brevemente terão informações sobre ele.
Blog do Coletivo Areíto Arte Acción: http://areitoarteaccion.blogspot.mx/
E-mail: areitoarteaccion@gmail.com
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
chuva e sol,
olhos fitando os céus –
arco-íris ausente.
Rosa Clement
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!