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[EUA] Carta aberta do eco-anarquista Jeffrey Luers

By A.N.A. on 6 de Março de 2014

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O movimento ambientalista radical, em conjunto com a luta pela libertação animal, está frequentemente à margem dos movimentos de justiça social. Havia um tempo, não tão distante, em que estas lutas eram desconsideradas pela grande esquerda, inclinada a considerar tais movimentos secundarizados como não-essenciais. Nesta época, eu fui para a prisão.

Em Junho de 2000, eu, juntamente com Craig Critter Marshall, incendiamos 3 veículos em uma revenda de carros em Eugene, em um esforço para chamar a atenção sobre as mudanças climáticas. Sem o nosso conhecimento, eu estava sob investigação e vigilância pela mesma unidade contra-terrorista que anos depois seria responsável pela operação backfire [realizada pelo FBI para investigar grupos ambientalistas radicais]. Como resultado, fomos presos e, após um ano de batalhas em tribunais, Critter foi sentenciado a 5 anos e meio, e eu recebi a sentença de 22 anos e 8 meses.

Ao longo do país e do mundo, as pessoas expressaram indignação sobre o fato de que uma juventude idealista deveria passar mais tempo na prisão do que o tempo em que está viva, por uma ação que não feriu ninguém. Nos anos seguintes, esta indignação tomou forma no dia internacional de solidariedade a Jeff Luers e todxs xs eco-prisioneirxs.

A maior parte do meu encarceramento foi gasto defendendo minhas ações para um público cético e para a mídia, ao mesmo tempo que estava sendo punido pelo Estado pela minha defesa articulada da ação direta.

Foi através desta campanha midiática e do trabalho incrível do meu grupo de suporte que minha rede de apoio começou a crescer. Antes do meu segundo ano terminar, Critter e eu havíamos sido adicionados à lista de prisioneiros políticos sendo apoiados pelo Movimento Jericho, ABCF [Cruz Negra Anarquista], e numerosos outros grupos de apoio à prisioneiros. Nós estávamos entre os primeiros eco-prisioneiros nos EUA a serem aceitos nos círculos radicais enquanto presos políticos.

No dia 11 de Junho de 2004, após anos de conexões em rede e contato com a sociedade civil, o primeiro dia internacional de solidariedade com Jeffrey “Livre” Luers e todxs xs eco-prisioneirxs, foi realizado. O evento rapidamente ocasionou a fúria do Estado e o FBI emitiu um alerta de segurança nacional sem precedentes de um iminente ataque eco-terrorista ao redor da nação. As manchetes das notícias, por uma semana, alertaram sobre os ataques, mostrando minha foto com a legenda de eco-terrorista.

Nos anos seguintes, o 11 de Junho se tornou um “grito convocação” para movimentos de justiça social e ambiental do mundo, para agirem em prol do planeta e exigir que aqueles que sacrificaram sua liberdade pelo mesmo objetivo sejam reconhecidos como presos políticos, não terroristas.

Eu passei todos os anos da minha vida desde minha convicção combatendo a aplicação do rótulo de terrorista contra ativistas e eco-ativistas particularmente.

Recentemente, o significado associado ao 11 de Junho se transformou para prisioneiros anarquistas de longa data. Como alguém que se identifica como anarquista, eu me incomodo por isso por diversos motivos.

O legado do 11 de Junho tem ajudado o ambientalismo radical a ganhar aceitação geral dando à luta ambiental radical uma legitimidade social ampla que nunca tínhamos experimentado antes. O 11 de Junho, junto com todo o apoio e pressão internacionais, fizeram a mídia americana utilizar meu nome e as palavras ‘prisioneiro político’ numa mesma frase, modificando drasticamente a opinião pública à respeito dos ecoativistas.

Além disso, acho que a co-opção do 11 de Junho como dia anarquista de solidariedade é mais um exemplo de como as lutas anarquistas frequentemente utilizam nossa via de luta como plataforma para promover nossa própria pauta. Essa é uma crítica que tenho visto o movimento anarquista sofrer há décadas e que devemos regularmente desafiar a nós mesmos a superar.

Em um tempo de iminente convulsão ambiental como resultado da mudança climática, quando ativistas ambientalistas ainda são rotuladxs de terroristas e jogadxs na prisão, não podemos esquecer da memória do 11 de Junho.

O dia internacional de solidariedade com todxs xs Eco-Prisioneirxs é mais relevante agora do que nunca antes. Se nos esquecermos disso, se permitirmos que o 11 de Junho se torne algo que nunca objetivou ser, iremos perder grandes avanços que levaram 10 anos para se realizarem, e incontáveis sacrifícios pessoais. Iremos perder uma parte importante da nossa história e luta ambientalista radical, e continuaremos olhando para o futuro sem aprender com o passado.

Enquanto anarquista e ativista veterano que passou 9 anos e meio da minha vida preso – porque lutei para proteger um planeta doente – eu peço humildemente que possamos lembrar que o dia 11 de Junho é sobre conquistar reconhecimento político axs eco-prisioneirxs e às suas lutas.

Jeffrey Luers

Tradução > Malobeo

agência de notícias anarquistas-ana

A rua vazia
— Ressoa na escuridão
o cri cri do grilo

Alvaro Posselt

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