Nós, o Sindicato de Estudantes Independentes em “Ação Direta”, apelamos aos nossos camaradas Russos e estrangeiros, e para todos e todas que não são indiferentes a questão. Nós lhes pedimos para não se afastarem da situação em curso, para protestar contra a invasão militar Russa na Ucrânia contra a possibilidade de Guerra que se apresenta. Também incitamos a todos os Russos a tomarem as ruas de suas cidades e lutar contra o regime autoritário da ditadura de Putin, por soberania do povo e pela democracia direta na Rússia.
A televisão Russa e todas as outras mídias que estão sob controle governamental banham o povo de mentiras inacabáveis. Afirma-se que, na Ucrânia, o poder estatal foi tomado por Nazistas, que toda a Kiev está em chamas, que gangues de bandidos estão saqueando a cidade, que pessoas falantes da língua Russa estão sendo atacadas nas ruas, e que bravos lutadores da polícia Ucraniana tentam desesperadamente proteger as pessoas da desordem e da tão chamada “anarquia” que reina suprema nas ruas.
É claro que, nesta corrente de mentiras, às vezes um grão de verdade pode ser encontrada. De fato, durante os confrontos que ocorreram em Kiev nos dias 18-20 de Fevereiro, ao redor de cem pessoas foram assassinadas e milhares foram feridas. Mas a polícia, não os manifestantes, foram os agressores. Foram atiradores de elite da polícia que atiraram contra as pessoas utilizando cartuchos reais, e os manifestantes tiveram de se proteger de alguma forma.
De fato, muitos partidários e membros das forças de extrema-direita participaram dos protestos. A maioria eram representates do “Setor Direita” (que é uma organização central que inclui alguns movimentos de direita e extrema-direita) e do partido Ucraniano de extrema-direita “Svoboda”. Mas, de acordo com algumas pesquisas, eles não têm apoio da população Ucraniana. Além disso, o partido “Svoboda” descreditou a si mesmo severamente mesmo aos olhos de seus eleitores originais ao provar ser virtualmente indefeso durante o momento de maior perigo para a Maidan [Praça da Independência de Kiev]. Na realidade, haviam muitas outras organizações na Maidan (a maioria liberais) que rivalizaram com a extrema-direita. Ademais, muitas organizações de esquerda de base lutando por democracia e pelos interesses sociais do povo emergiram.
De fato, alguns representantes das organizações de extrema-direita se tornaram membros das estruturas governamentais. Mas o Gabinete dos Ministros da Ucrânia consiste majoritariamente de diversos nacional-democratas e neoliberais. É claro que isso não é bom, mas é muito cedo para falar sobre uma ditadura Nazista na Ucrânia.
De fato, a desordem reinou na Maidan durante e depois dos confrontos com a polícia; pneus queimaram e a praça destruída estava negra de fuligem. Realmente, a Casa dos Sindicatos queimou (servia de sede e hospital para os manifestantes, e a polícia a incendiou). Mas no momento tudo está silencioso em Kiev. Ninguém mata ou rouba, as casas não queimam. No dia 1º de Março, a limpeza da Maidan foi organizada. Muitos voluntários foram limpá-la após os confrontos. Hospitais nos quais os feridos são tratados estão transbordando de medicamentos e comida doada por pessoas comuns que querem ajudar. Um trabalho incessante foi estabelecido nos prédios governamentais que ainda estão ocupados. Voluntários responsáveis asseguram que nenhum documento desapareceu dos escritórios selados nestes edifícios. Mesmo na residência de Yanukovych, Mezhyhirya, o trabalho constante foi estabelecido para proteger o estado da potencial pilhagem.
Ataques contra os cidadãos Russos e falantes de Russo também é ficção. Leis adotadas alegadamente banindo os falantes de Russo também são impensáveis – os canais Ucranianos transmitem discussões ao vivo de seus estúdios onde as pessoas falam a língua que quiserem falar. Mesmo a extrema-direita, que costumavam dizer que é necessário “proibir” o Russo ou algo assim, agora não arriscam mais dizer tais absurdos, mesmo se assim desejam: grande parte da Maidan falava Russo.
É claro, não há dúvidas de que a oposição Ucraniana de ontem, que hoje se tornou situação, é improvável ser muito melhor do que o velho poder. A Maidan, onde demandas sociais começaram a soar após a fuga de Yanukovych, já criticou o novo poder por servir às oligarquias. O novo governo já está servindo as mesmas abertamente, apontando oligarcas aos postos para governos regionais e fazendo a invasão Russa a razão para tal, dizendo que os oligarcas irão “proteger o povo Ucraniano”. Perceba também que a presente invasão militar pode se mostrar bastante útil para o novo poder, visto que a ameaça externa ofusca numerosos desacordos internos. Na presença de uma ameaça externa as pessoas começam a se consolidar ao redor de ideias patrióticas e nacionalistas, e não ao redor de questões sociais, o que é inclusive muito rentável para os representantes das ideologias de direita e extrema-direita, assim como para aqueles que detém o poder. Além disso, no caso da preservação da integridade territorial da Ucrânia o novo governo irá atribuir múltiplos méritos para si, e mesmo no caso de separação irão provavelmente ser os “líderes” ao redor dos quais a nação (restante) irá se afirmar e apoiar.
Portanto, uma vez mais gostaríamos de frisar o fato de que a mídia Russa alimenta as pessoas com mentiras incríveis. Não há ditadura fascista e direitos infringidos dos Russos ou falantes de Russo na Ucrânia hoje. Não há desordem nas ruas. A invasão das tropas Russas apenas miram a elevação dos lucros das grandes corporações e o fortalecimento do regime de Putin, que sentiu a proximidade de ameaças derivadas dos eventos que ocorreram na Ucrânia. Entre outras coisas, a invasão promove a propagação de ideias de direita e extrema-direita na Ucrânia, ajudando de fato a extrema-direita Ucraniana ao invés de enfrentá-los como alegam fazer.
Uma vez mais, chamamos a todos que se preocupam para fazer o que for possível para prevenir um massacre. Nós não queremos nenhum conflito pelos interesses daqueles que detém o poder, por interesses financeiros de grandes corporações e magnatas de ambos os lados. Nós, assim como você, não queremos morrer e não queremos matar.
Também chamamos, invocamos, todos os cidadãos e cidadãs Russos a se juntarem às iniciativas da esquerda democrática e lutar contra a verdadeira ameaça fascista proveniente de Putin e da máquina estatal Russa. Nós mesmos iremos lidar com a extrema-direita Ucraniana. Não permita que o governo Russo finalmente se transforme em uma versão análoga do Terceiro Reich e colocar em perspectiva a destruição deste mundo. No entanto, a história se desenvolve, e todos os nossos descendentes ainda viverão neste planeta.
O Sindicato de Estudantes Independentes em “Ação Direta”
Tradução > Malobeo
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agência de notícias anarquistas-ana
chegado para ver as flores,
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sem sentir o tempo
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!