Por Makame Lara, de Areíto Arte Acción
“O primeiro passo de todo governo totalitário consiste em suprimir a liberdade criativa e converter o criador em instrumento do Estado”. Maria Luisa Berneri
Ante a situação atual do país de criminalização/cooptação de toda proposta criativa em constante crítica com os “modelos” sistêmicos, e em proximidade com a comunidade, vemos a necessidade de continuar somando esforços a partir das políticas de apoio mútuo, autogestão e o desconhecimento de qualquer política partidária. É por isso que nos reunimos e nos posicionamos a partir da livre associação para a realização do 3º Encontro de Teatro Libertário/Performance. Cremos na arte como catalizadora de processos reivindicativos, como meio de transformação social, na busca e apropriação de nossa vida e sentido de existência.
“Nem o caminho, nem a caminhada tem fim, só cresce; se agregam caminhantes e caminhos” (Seres Wenekaz). É por isso que seguiremos e fazemos um chamado a quem queira colaborar para seguir interrogando, construindo e gerando pontes.
Em 15 e 16 de março passados, realizamos o 3º Encontro de Teatro Libertário/Performance na cidade de Cuernavaca, Morelos, desta vez em coordenação com diferentes coletivos sede e convocantes: Bloque de Colectivos de Morelos, Viaje de la Serpiente, CGCIP, que se somaram ao esforço por compartilhar dinâmicas liberadoras a partir de princípios autônomos de arte. O objetivo deste 3º Encontro foi questionar as políticas da arte na atualidade e continuar com a criação/geração de espaços expressivos, com a finalidade de aproximar-nos daqueles “não-lugares”, zonas “lumpen” quase invisíveis para as políticas hegemônicas da arte. Nos apresentamos em espaços como El Tianguis de Chamilpa, o Mercado Adolfo López Máteos e o centro da cidade.
Em 15 de março iniciamos com o debate em homenagem e em memória do diretor e militante Francisco Kuy Kendall Leal (ferido pelo operativo policial do DF com uma bala de borracha, o 1DMX, e devido a isso sofreu uma fratura cranioencefálica. Seu estado de saúde sempre foi delicado, e em 26 de dezembro do ano em curso faleceu, ficando impune o seu caso, como evidência da arbitrariedade do sistema legal e seus “dirigentes”). O debate abordou diferentes questões, desde como habitar o espaço – corpo físico com ressonâncias – para exercer o diálogo partindo das políticas/dinâmicas libertárias, a partir de uma conversação mais próxima/horizontal e em constante reflexão. A continuação, foi como concebemos coletivos e participantes na arte libertária, partindo de processos autogestionários, sem cair em tópicos mortos ou imobilizados. Não buscamos o fim, senão sulcar caminhos. Concluímos (levando em conta que estamos em constante construção) que nós apostamos em uma arte mais crítica (autocrítica, ao fato de ser e existir), e na situação com consciência política, social, cultural, ambiental. Cremos em uma arte consciente, em que as fronteiras da vida e da arte se entrelacem e sejam coerentes. Não cremos na mediatização da obra de arte, e sim na livre experiência pré-expressiva como qualidade de todo ser humano.
É por isso que ligamos as experiências criativas em sua ação coletiva, isto é, construir o indivíduo e dar individualidade ao coletivo. Princípios inerentes de toda criação, os quais tem sido prostituídos pela lógica mercantil que subverte a capacidade criadora e a subordina a interesses particulares de dominação do Estado.
Nós acionamos uma arte em situação, – em liberdade – “a estética libertária chama a experimentação, o culto ao ignorado”, André Reszler. O ignorado na arte, é seu sentido humano reflexivo, devido às formas hierarquizadas e alienantes, constitutivas do biopoder.
Temos sido considerados produtos, captadores de informação e processadores do capital para o caldeirão do consumo neoliberalista. Hoje em dia é urgente voltar à organicidade dos eventos de arte – às zonas temporalmente autônomas – que geram e que trazem consigo uma réplica na vida, uma tomada de consciência. É urgente voltar à atividade humana e humanizadora, que em seu sentido essencial detona – MEMÓRIA-IDENTIDADE – práticas criativas consequentes aos processos sociopolíticos do entorno que se esteja pisando.
É por isso que nossa alegria pela destruição é uma paixão criadora, nas palavras de Bakunin, devido a que violentamos, a partir do ato criativo, os “pilares” que historicamente nos têm cooptado e enxertado formas e usos fora de nosso instinto selvagem e criador, com o fim de domesticar nossos atos ao servilismo e alienação para o enriquecimento de alguns.
Nós sabemos que a arte é o veículo para a reivindicação social e tomada de consciência, portanto uma arma sutil e sob este aspecto construímos nossa trincheira.
Por isso é que para o segundo dia do encontro (16 de março), habitamos/acionamos diferentes espaços, com lugares, atmosferas e situações que são parte do ritual cotidiano do ser humano e que portanto os autores/participantes deste fazer diário (locatários, comerciantes, etc.) nos demonstraram ter uma recepção mais sincera – tanto negativa, como positiva – o que representou em muitos casos um desafio, sobre como se transformar no espaço para não transgredi-lo, e revitalizar a partir de diferentes tópicos e ações poéticas a situação atual do país, como o despojo, a perda de identidade, memória, o sistema patriarcal, etc., para logo gerar um diálogo com os espectadores.
Para quem tem assumido uma postura contrária ao uso alienante da arte, representa um desafio, pelo fato de voltar ao sentido orgânico de sua enunciação: o ato criador acima da obra em si, isto é, viver a arte em seu âmbito de liberdade e intransferível em sua concepção de reduto, apostando no rompimento das fronteiras entre a arte e a vida, para demonstrar outros mundos possíveis. Portanto, nos recusaremos a converter em taxa obrigatória, nossas práticas criativas e – sim – lhes daremos conteúdo e forma a partir de sua diferença e sentido liberador, com o fim de continuar dentro e fora da arte com um horizonte político libertário.
Continuaremos questionando os poderes únicos e manifestando-nos a favor do respeito à diferença, trabalhando por uma arte que nos ajude a re-humanizarmos (Lxchel Castro). Abraços fraternos aos criadores/coletivos de arte de outros lugares e deste território, que tem sido e são parte deste Encontro e aos que continuam em pé de luta, criando outros mundos possíveis.
Coletivos/Criadores participantes:
Zenzontle Exkizito, Fausto Luna, Fosa Común, Laboratorio Interdisciplinario, Areíto Arte Acción, Colectivo Seres Wenekaz, Loukaniko y los perros, Dos Raíces, Don Gua, Red por Tierra, Arte sin Fronteras, Bloque de Colectivos Morelos, Cuicacalli e Intervención Decorporalizada.
Registro Audiovisual:
https://www.youtube.com/watch?v=2fr9BDXZm8Y
Mais infos:
http://areitoarteaccion.blogspot.mx/
Tradução > Sol de Abril
agência de noticias anarquistas-ana
Gotas ao chão
Tudo escurece
Solidão
Silvia Avila
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…