Texto do Grupo Anarquista de Berea Baruti (Pólvora) publicado em 30 de dezembro de 2013 em sua página na web, com motivo da Sexta Declaração da Selva Lacandona.
Em dezembro de 2012 os zapatistas de Chiapas, México, fizeram uma chamada internacional pela solidariedade e a difusão da luta pela democracia, a igualdade e a justiça em todo mundo. Nós somos a Sexta.
Há anos que temos deixado de buscar salvadores que nos conduziriam a uns paraísos que eles planificariam para nossa redenção. Cremos que nós mesmos somos os responsáveis do paraíso, o qual temos elegido viver no agora, sem nenhuma expectativa de um futuro que não concirna à vida e às relações do presente.
Através de nossas lutas temos visto os muitos erros que temos feito, e como a negação de um mundo que está baseado na exploração, na desigualdade, no Poder, não é suficiente por si mesma para derrotá-lo, e muito menos para mudá-lo. Nós percebemos que a recusa é enxertada apenas naquelas almas que acreditam (geram) relações cotidianas de alegria, edificando a solidariedade, a autonomia por e para a gente decente, sem a necessidade de patrões, políticos ou de qualquer outro representante. Já começamos a construir, e queremos construir um mundo de autonomia.
Reconhecemos, claro, ainda que seja agora, que a destruição do autoritário existente enche nossos pulmões de ar fresco e vontade de construir o novo sobre as ruínas do velho. Vemos como muitas pessoas como nós, que não vão carregadas da etiqueta de anarquista, de quebrador de vitrines ou de extremista, desfrutam desta destruição da mesma maneira que nós. Por outro lado, à destruição e ao caos do capitalismo não se contesta só fazendo sabotagem a ele, senão que também com a liberação social de estruturas, recursos e sobretudo de relações, os quais, “os de cima” tem atado e seguem atando com grande esmero ao carro que está arrastando nossos cadáveres, nos mercados, nas fábricas, nas escolas, nos hospitais e em outros lugares.
Consideramos que haja um grande sol vermelho que sai do leste e se põe no oeste para todas as pessoas em todo o mundo. Este sol de hoje a lógica dominante do Estado e a patronal o priva a milhares de milhões de pessoas em todo o mundo: aos operários e às operárias, aos desempregados e às desempregadas, aos homens e às mulheres, sejam nativos em uma terra ou imigrantes. “Os de cima” privam os meios (recursos) a “os de baixo”, ferramentas, as maneiras de construir um mundo de felicidade coletiva. “Os de cima” fecharam uma cortina negra sobre a humanidade de “os de baixo”, e os ataram com as correntes que ainda levam postas.
Não aspiramos a substituí-los, como uma vanguarda, como um novo “partido”, como um Poder que conduz “os de baixo”, não temos nenhum conhecimento superior do acontecido, não atuamos de uma maneira hierarquizada em relação com as forças sociais existentes que destroem e criam, resistem e desencadeiam a evolução de nossa vida diária. Somos parte destas forças e nos colocamos conscientemente dentro delas, contra os “de cima” pela liberação social.
Entre nós, vai encontrar desempregados e desempregadas, operárias e operários, médicos e advogados, professores e estudantes, pessoas diferem entre si, mas em conjunto constituem o poder da autonomia de “os de baixo”.
Reconhecemos a diversidade como uma força de retenção de qualquer Poder, mas também como uma força de intervenção ativa até a mudança e a evolução. As autoridades utilizam a diversidade, classificando às pessoas em tabelas de linhas e colunas, desejando deste modo extrair delas o máximo de sua energia, com o fim de transformá-la em produtividade, consumo, espetáculo. “Os de cima”, em todas as instituições sociais ordenam a “os de baixo” estar encerrados nas celas de sua vida cotidiana, nas escolas e nas fábricas, no seio da família e nos governos locais, nas filas do supermercado e nos grandes armazéns, nos consultórios médicos e nas clínicas.
Queremos liberar cada recurso, cada estrutura, cada canto desta terra, na qual vivemos sendo elos da cadeia da ganância e da exploração. Não reconhecemos a nenhum patrão na Terra em que vivemos, a nenhum banqueiro ou banco, a nenhum caudilho na família e nos partidos, o direito a governar nossa vida. “Os de cima” levam séculos gerindo nossa própria miséria, com a cenoura ou com o chicote, para sua satisfação imoral e para obter mais benefícios, mais riqueza, mais poder. Lutamos e seguiremos lutando até o final para liberarmos da escravidão de “os de cima”, criando resistências assim como novas estruturas em cada setor da vida, no qual não há nem “os de cima” nem “os de baixo”.
Descobrimos no decurso dos séculos que a única maneira de conseguir um bom governo é o diálogo e a criação de pequenos e grandes acordos (unanimidades) entre os que pertencem a “os de baixo”. Para nós a Democracia, ou seja, o Poder do demos (povo, cidadania), pode existir só em formações coletivas, nas quais tudo é decidido por todos, tudo é controlado por todos, tudo está a cargo de todos, em umas estruturas sem alguns eternos “desde cima”. E isto se consegue mediante o uso comum e não a propriedade (privada ou estatal) dos meios de produção, dos recursos, das ferramentas, dos espaços públicos. Ninguém tem direito a usurpar a riqueza que criamos coletivamente durante toda uma vida. Todos têm direito a todos os recursos, ferramentas, espaços públicos, para satisfazer suas necessidades e desejos, para desenvolver suas habilidades (destrezas), que generosamente oferecem aos demais com o fim de que se alcance a felicidade coletiva. E esta felicidade, inclusive hoje em dia a conjuntura de crise, se encontra em cada momento de nossa convivência, nas assembleias, em nossas lutas, na edificação de uma vida nova.
Vemos que nossos irmãos e irmãs em todo o mundo, pouco a pouco vão despertando-se da letargia da felicidade de plástico do capitalismo e do estatismo, e estão reclamando o óbvio, a autonomia de seus corpos, de suas relações, dos espaços públicos, das fábricas, das universidades, etc. Na Turquia, Egito, Espanha, Alemanha, América, México, China…, em todo o mundo se estão desencadeando explosões pequenas ou grandes, cuja principal característica é a ativação de “os de baixo” contra “os de cima”. Estamos nos fixando neles, estamos comparando, analisando, estamos nos colocando em contato com eles, aprendendo de suas lutas e erros, já que eles também aprendem dos nossos e estamos seguros disso. Já que é tempo que todas estas pessoas diferentes entre si em todos os cantos da Terra desenvolvam um movimento global de solidariedade e luta pela democracia direta, por justiça, por bens públicos e livres.
Pela paz mundial, em um mundo de mundos e singularidades autônomas, pela felicidade e a vida coletiva, em uma Terra de seus seres humanos e animais.
Por todas estas razões e por todas as razões dos insurgentes em todo o mundo, somos a sexta. Vinte anos zapatistas… Somos vocês… Somos a Sexta.
Grupo Anarquista Baruti (Pólvora), janeiro de 2014.
O texto em grego: http://baruti.espivblogs.net
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Neve ou não
neve onde há amigos
a vida é leve
Alice Ruiz
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!