Sábado, 26 de abril, fizemos o ato final do “Festival Free Mumia”, do lado de fora da embaixada gringa, graças ao apoio dos artistas Gustavo Chávez e Mitzi Vergara, que coordenaram a elaboração de uma incrível manta; a música e dança de Eva Palma, Argelia Guerrero, Cayo Vicente, a Vikinazul, Oficina Tecolote, Milagro Danza em Resistencia, Taller del Sur e os companheiros Nyabhingi, que tocaram tambor enquanto soltávamos balões pela liberdade de Mumia. Nossas desculpas a Lírika Podrida, MC Xozulu e Raíz Anahuac, que vieram participar mas não puderam por falta de lonas na temporada de chuvas – também a Taller del Sur, que havia idealizado toda uma orquestra popular que não foi possível realizar pela mesma razão.
Agradecemos a cobertura de Desinformémonos, La Pirata e Más de 131. E um agradecimento especial aos compas do Comedor do Okupaché, que uma vez mais nos apoiaram com umas deliciosas torradas vegetarianas. Pela primeira vez tivemos um excelente equipamento de áudio com uma aparelhagem de luz adequada, um importante aporte, mas o problema principal, como em Bombay, foi a extrema demora na chegado do equipamento – uma falta de respeito aos demais participantes.
Edith Rosales e Eva Palma iniciaram o ato com a leitura de duas mensagens de Mumia. Na primeira ele compartilha um grande sentimento de gratidão. “Estou aqui, entre os vivos, devido a cada um de vocês, pessoas conhecidas e desconhecidas, que se uniram conosco nesta batalha pela vida, liberdade e justiça… As lutas como esta demonstram o que é possível e o que não terminamos… E como a luz do sol, como a chuva, seguimos avançando, seguimos movendo-nos”.
Na segunda, Mumia chama para construir um movimento para acabar com “a obscenidade do encarceramento massivo, a tortura do confinamento solitário e a indignidade da pena de morte”. Diz: “Nos ensinam que os tribunais protegem os direitos constitucionais de todas as pessoas. Mas este definitivamente não é o caso. Eles apoiam o governo, as corporações, aos ricos, ao estabelecido. Eles apoiam ao próprio sistema do qual fazem parte. Para os pobres, as pessoas sem poder, o preso e o indigente, eles representam portas fechadas, mentes fechadas e prisões cheias até o topo. Una-te conosco e transformaremos esta dura realidade. Una-te a este movimento de liberdade”.
Juan Anzaldo leu o pronunciamento de Amig@s de Mumia do México, que começa com as seguintes palavras: “Bem vindos todos e todas que estão participando hoje no Festival Free Mumia – toda uma semana de eventos para festejar o aniversário de 60 anos de um grande homem, Mumia Abu Jamal. Um pensador, ativista, jornalista, escritor e companheiro solidário, que está aprisionado a mais de 32 anos no estado da Pensilvânia, condenado a morte por um crime que não cometeu. Hoje, diante da embaixada do governo que exporta guerra, repressão, terrorismo, encarceramento massivo e tortura, ao México e ao mundo inteiro, celebramos sua vida e sua luta. Hoje cantamos, dançamos e lançamos balões exigindo sua libertação imediata. Hoje, convidamos a todo o mundo a ler os sete livros que ele escreveu, da sua cela e os ensaios para o rádio que escreve a cada semana, para conhecer sua maneira de pensar e atuar”.
No ato tínhamos muito presentes dois grandes amigos de Mumia, Kuy Kendall, assassinado pela polícia federal com um projétil “não letal” nos protestos anti-Peña Neito de 1º de dezembro de 2012, e Teodulfo Torres, ‘El Tío’, que aparentemente se encontra desaparecido por ter testemunhado o assassinato. Eva Palma e Eduviges Govea falaram de seus casos e pediram ajuda na busca de Tío.
No transcurso do evento, lemos uma carta para Mumia, escrita por Álvaro Sebastián Ramírez, preso político dos Loxicha desde 1996 em Oaxaca, em que diz: “Muito distinto e apreciável companheiro prisioneiro Mumia Abu-Jamal, jornalista e escritor norte americano, preso político. Por meio desta carta te mando muitas saudações e um forte abraço, de um amigo mais que se solidariza incondicionalmente contigo. Como disse o Indígena Norte Americano, “a dor de um é a dor de todos”. Estejamos onde estejamos, na prisão a solidariedade conta muito entre nós os presos políticos. Seguimos em luta incansavelmente pela liberdade que nos foi arrebatada injustamente, por pensar e por ter uma visão política diferente…”. Cabe assinalar que esta carta foi escrita justamente antes que o companheiro Álvaro fosse transferido do centro de tortura em Mengolí de Morelos, Miahuatlán, até o penal Ixcotel em Oaxaca.
Falou no ato Obed Baobab, que sofre um processo desde o 1º de dezembro de 2012, quando foi detido por protestar na posse do tirano Peña Nieto. Ainda assim, sua resposta à ameaça de uma condenação injusta não tem sido calar-se, senão seguir lutando pelos demais presos encarcerados durante o último ano e meio, quase cem dos quais todavia sofrem processos. Obed chamou todos a pôr suas diferenças de lado e trabalhar pela liberdade dos presos políticos de 2 de outubro que se encontram no Reclusório Norte – Abraham Cortés Ávila, Daniel Palacios Cruz, Alejandro Bautista Peña – e Mario González Garcia, que está em Tepepan. Também exigiu liberdade para Fernando Bárcenas, acusado de incendiar a árvore de Natal da Coca-Cola e para Luna Flores, que afortunadamente acaba de sair.
Também falou Leo Aguilar, uma das pessoas detidas com Mario González Garcia em um caminhão antes de chegar à marcha de 2 de outubro. Agora só Mario continua encarcerado depois de uma longa greve de fome, mas os demais também sofrem processos por atos que não cometeram. Por defender a educação laica, gratuita e pública foram golpeados, torturados com choques elétricos e encarcerados. A Mario negaram o direito a sair sob fiança, com a absurda justificação que ele é um perigo para a sociedade. Os demais foram obrigados a pagar fianças altíssimas. Desde que saíram da prisão têm sido perseguidos e a casa de Leo foi invadida por policiais ministeriais que revistaram suas coisas e amedrontaram sua família, sob o pretexto de suspeitar de terrorismo ao jovem defensor da educação. Mas apesar dessa perseguição, Leo segue trabalhando pela liberdade de Mario e por uma sentença de absolvição para todos os injustamente processados.
Ao final do ato, Nuria, a companheira de Mario, nos entregou uma carta dele para Mumia que ela vai transcrever e compartilhar.
Recebemos pelo correio as seguinte palavras de Gustavo Chávez que, a não ser por tanta chuva, teria gostado de dizer ao entregar a manta:
“Companheiras, companheiros, agradeço por convidar-nos a seguir com este obstinado trabalho de acreditar na liberdade e justiça, e lutar por isto, inventando caminhos, construindo sonhos, falando de igual para igual e que a palavra e o pensamento e os atos se unam em uma coerente poesia de cores e de versos que inundem o mar e as cidades e os campos e povoados e céus, para que ninguém, ninguém nunca possa fechar nem calar nossas consciências. Nossos atos criativos são o sinal de que estamos vivos e que somos livres e que compartilhamos a liberdade nestes caminhos em que construímos nossos sonhos impossíveis, e por isso estamos aqui, com Mumia, junto a Mumia e com vocês, lutando por sua liberdade, por nossa liberdade, pela liberdade de todos, aqui lhes entregamos esta manta mural, no aniversário da liberdade, de Mumia, e nossa, é uma flor para a vida e a liberdade. Agradeço aos companheiros, por compartilhar a luta. Agradeço a Mumia, por lutar desde o corredor da morte. VENCEREMOS!”.
Amig@s de Mumia do México
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