O 22 de Março, no marco das Marchas da Dignidade, contou com a presença de um grupo fascista que não foi a tempo identificado e rechaçado do protesto. Há poucos meses, foi distribuído pela internet um manifesto do grupo “A Bandeira Negra”, no qual se chamava à criação de uma república, a defesa dos trabalhadores, a organização assembleária e a autogestão. Mas quem e qual política defende realmente este grupo?
Como em múltiplas ocasiões anteriores, em momentos de grande depressão econômica e social, o fascismo tenta enraizar sua mensagem racista e populista mediante sua introdução nas plataformas de luta coletiva, como associações estudantis ou de bairro, em protestos populares ou inclusive em centros sociais. Para ele não há problema em se mascarar com nomes famosos, como o caso do grupo “A Bandeira Negra”, que toma seu nome do antigo Grupo Bandeira Negra das Juventudes Libertárias. No entanto, detrás de suas falsas palavras e declarações “trabalhistas” está a criação e promoção direta por parte do líder ultradireitista Ricardo Sáenz de Ynestrillas. Fundador de diversas organizações fascistas, Ynestrillas gestou também este grupo que se reclama “autogestionário” e “revolucionário”, e divulga seus comunicados em seu blog pessoal. Este insigne fascista e criminoso se une à linha daqueles que desejam romper com a imagem militarista e agressiva a que se lhes associa.
Copiando a estratégia do partido Aurora Dourada na Grécia, a Aliança Nacional criou um banco de alimentos e também o grupo “A Bandeira Negra” disse estar repartindo comida entre os indigentes do centro de Madri. Igualmente, aderem ao movimento antirepressivo e asseguram ter dois detidos como consequência das atuações policiais do 22 de Março (22M), cuja representação legal está a cargo do próprio líder fascista. Mas Ynestrillas não se tornou um ativista social de esquerda, senão que retoma esta corrente de José Antonio Primo de Rivera que reclamava um falangismo “operário” e critico à burguesia. Este giro ao contrário não é novo, pois o próprio Benito Mussolini provinha do Partido Socialista Italiano e utilizou os discursos de conteúdo social para consolidar um regime autoritário de brutal repressão interna. O líder do fascismo britânico e amigo de Adolf Hitler, Oewald Mosley, também procedia do Partido Trabalhador e explicava esta estratégia baseada na necessidade de criar “um veículo do fascismo para a luta dos desempregados”. Então como hoje, o lobo se disfarça de cordeiro.
Em sua propaganda, o grupo “A Bandeira Negra” oferece enlaces com organizações europeias de similar corte, grupos da Itália, Alemanha ou Inglaterra que compartem com as ideias de uma Europa nacionalista, que imponha cotas de imigração e acelere as deportações. Debaixo de seu palavrório ambíguo que apela à rebelião social dos trabalhadores, estes grupos não propõem tocar em nenhum dos privilégios da classe dominante a que defendem. Seu ideário e difusão de textos formativos na internet estão baseados em personagens como Ramiro Ledesma, fundador e ideólogo do nacional sindicalismo falangista; Ernst Jünger, um obscuro intelectual de direita alemão que manteve uma relação de amor-ódio com o governo nazi; ou Leon Degrelle, fascista francês protegido e asilado por Franco na Espanha, e que foi inspirador dos nazis espanhóis.
Outro exemplo similar é o de Resposta Estudantil, um grupo universitário que diz lutar pelos direitos educativos, mas que é um instrumento de captação de jovens para as organizações ultradireitistas. No passado 5 de Abril, Resposta Estudantil realizou uma manifestação em Toledo com a presença de delegações de outras partes de Castilla, com assistência de membros da Aliança Nacional. De fato, é casual que o logotipo da associação estudantil seja quase idêntico ao de Baluarte, grupo de bandidos do partido fascista.
Exemplos recentes como o do Aurora Dourada na Grécia, ratificam que o fascismo avança quando não se o combate. Tentaram preencher as fissuras do sistema capitalista e cobrir os espaços que deixam livres os movimentos sociais emergentes desde o início da crise-estafa. Enquanto o grupo “A Bandeira Negra” e Resposta Estudantil se infiltram em manifestações e assembleias contra os cortes na educação, a velha guarda fascista aglutina forças e busca as ferramentas para expandir na população suas políticas xenófobas, homofóbicas, racistas e autoritárias. No ano passado, A Falange, Nó Patriota Espanhol, Aliança Nacional e Movimento Católico Espanhol fundaram A Espanha em Marcha, um pacto que selaram com a ação conjunta de assalto à livraria La Blanquema durante os atos de comemoração da Diada em Madri. Até agora o trato policial e judicial com os agressores parecer ser estranho, em contraste com os espancamentos, montagens e petições desmesuradas de sanção que sofrem os ativistas sociais de esquerda. Seu advogado é o presidente e fundador da Aliança Nacional, Pedro Pablo Peña, que não tem escrúpulos em defender a violência fascista desde o estúdio de TV da infame Intereconomia.
Por outro lado, a Democracia Nacional, que em princípio pertencia à coalizão antes mencionada, está preparando sua aliança estratégica com o partido Soluciona, provavelmente com vistas a sua apresentação nas eleições europeias.
O fascismo de corte “operário” é um perigo latente que não deveria ser ignorado quanto a sua associação com os elementos mais abertamente nazis. Suas raízes de totalitarismo opressor são ocultadas com vernizes de cooperação social e interesse pelos desfavorecidos. O falangismo de Primo de Rivera, igual ao manifesto fundador do grupo “A Bandeira Negra”, considerava aos cidadãos competentes para falar sobre as tarefas administrativas e municipais, e era critico com o parlamentarismo, com a intenção de transcender a clássica divisão entre esquerdas e direitas. Mas é preciso recordar que tinha como intenção impor uma sociedade totalitária, onde as maiorias não pudessem questionar os “valores eternos” da “nação imperial”, pois considerava à gente inculta para decidir sobre o destino da dita nação. A harmonia a imporia um chefe “que não obedece ao povo, que deve servi-lo, pois é outra coisa bem distinta; servi-lo é ordenar o exercício do mando para o bem do povo, procurando o bem do povo regido, ainda que o mesmo povo desconheça qual é o seu bem”.
O primeiro passo para combater este flagelo é abrir bem os olhos em cada um dos espaços sociais que se tem criado como resposta às políticas de austeridade, nas plataformas, nas assembleias, nos centros sociais. É imprescindível estar alerta nestes tempos de carnaval em que os nazis se disfarçam de democratas e os fascistas de ativistas pela mudança social.
Vozes de Pradillo
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Sobre o varal
A cerejeira prepara
O amanhecer
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!