Não tem nada a ver ser crítico da Copa e “só” por isso criticar também o(s) governo(s) e deixar de torcer pelo “Brasil”?
Acho curioso (mas por outro lado entendo) que pessoas de “esquerda” repercutam a fórmula do subtítulo deste texto, em sentido afirmativo, demonstrando assim que não percebem todos os paralelos que existem entre este momento histórico e o da Copa do ano de setenta, no Brasil da “Ditadura Clássica” (adoto esse termo porque penso que o sistema, atualmente, se sofisticou, desenvolvendo o que chamo de “Democradura”)…
Nos anos setenta, o governo vigente também se empenhou em promover o “crescimento” – da produção e do consumo em massa, óbvio! -,assim como a expansão do sistema universitário – e se não criou sistemas de cotas, foi porque isto surgiu como uma estratégia posterior de integração, consequente ao crescimento das lutas das “minorias identitárias”.
Quanto à distribuição de renda – apesar dos atuais números absolutos (mais divulgados) serem mais expressivos do que o são os números percentuais -, lembremos que esta também era uma meta declarada da “Ditadura Clássica”, enunciada pelas seguintes palavras do seu ex-Ministro da Fazenda, Delfim Netto: “É preciso fazer o bolo crescer, antes de dividi-lo”…
Então, parece que os militares realmente cumpriram a sua parte na estratégia internacional do sistema de fazer “o bolo” crescer um pouco mais aqui… E, agora, tornou-se possível para o capital internacional, e até necessário – diante do grande desgaste da legitimidade das formas de “Ditaduras Clássicas”, bem como, também, da recente tendência internacional de crescimento da descrença para com a Democracia Representativa -, implementar estratégias renovadas (que incluem, por exemplo, a cooptação e colaboração de – e com – “esquerdas” “maduras”, “progressistas” e “desenvolvimentistas”) de “integração” de segmentos da população tradicionalmente “excluídos” do acesso ao mercado consumidor de produtos e serviços, com a finalidade de, por um lado, incrementar os “giros” da roda de produção e reprodução do capital, pela via do incremento da produção e do consumo em massa (inclusive de “cultura” e entretenimento), e, por outro lado, essa integração visaria também restabelecer a legitimidade em risco, promovendo a ideia de que é possível “humanizar” o capitalismo, assim como seria possível “democratizar” as suas instituições políticas…
Se se pode chamar de “humanizante” e “democrático” um sistema altamente hierárquico, tecnicista, cosificador das relações humanas (que passam a ser conformadas pelo paradigma da produtividade), massificante, e cujos maiores objetivos resumem-se em um materialismo vulgar pautado pela busca do incremento de lucros viabilizados pela produção e o consumo em massa (processo este que, inclusive, está levando à exaustão dos recursos naturais e ao colapso do equilíbrio ambiental), então, pode-se torcer pela Copa do Mundo (independentemente do time pelo qual se torça, dá no mesmo), e até resgatar a canção dos “anos de chumbo”, que diz “Este é um país que vai pra frente, ô, ô, ô, ô, ô”, pois a FIFA é um dos grandes representantes deste sistema (é um “Pool” de grandes corporações)!
Porém, para aqueles que têm visão crítica suficiente para perceber a natureza conservadora – do sistema – destas políticas de “integração”, resta apenas desenvolverem uma trajetória semelhante àquela desenvolvida pelos que combateram contra a “Ditadura Clássica” dos anos setenta: se opor frontalmente ao sistema e, com isso, enfrentar os espancamentos, os tiros, as prisões, as torturas, os processos e as estigmatizações públicas com termos como “baderneiros”, “vândalos”, “terroristas”…
Bem vindxs ao admirável mundo novo da DITA “(DEMOCRA)DURA”!
Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira
agência de notícias anarquistas-ana
noite alta
deixo a aranha dormir
no banheiro
Rosa Clement
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!