Em 5 de agosto de 2014 morre Sergio Urrego, um jovem de 16 anos que não resistiu à perseguição, discriminação e a rejeição por parte das diretivas do colégio Ginásio Castillo Campestre. A rejeição se devia ao fato de que Sergio levava uma relação amorosa com uma pessoa do seu mesmo sexo. Nosso amigo, como ato político, decidiu lançar-se do terraço do Centro Comercial Titán Plaza, falecendo no dia seguinte.
Sergio David Urrego Reyes, um estudioso, amigável, piadista e muito maduro pensador; um libertário criterioso, excelente amigo, muito solidário e entregado anarquista. Filho de Alba Reyes e Robert Urrego. Nascido e crescido na cidade de Bogotá (Colômbia) entrou a militar em sua primeira e única organização em 2 de março de 2013: na União Libertária Estudantil (ULE), um anarco sindicato que o agrupava como estudante e ideologicamente. Sergio de imediato ocupou uma função importante sendo o secretário da tesouraria da ULE devido a seu fenomenal sentido de organização em tudo o que fazia.
Desde que ingressou nesta organização informou dos muitos problemas que havia em seu colégio Gimnasio Castillo Campestre (e seu apêndice Gimnasio Castillo del Norte). Informou a respeito de os sobre custos; a irregularidade de ter que comprar suprimentos com as empresas que pactuava o colégio; a falta de professorado; a discriminação e a perseguição que havia no colégio a quem expressava ideias contestatórias e antiautoritárias – ressaltando que Sergio era muito coerente ateu e libertário – ; a proibição e discriminação de expressar qualquer demonstração de amor se se tratasse de pessoas do mesmo sexo e a falta de garantias para uma aprendizagem crítica e construtiva. Todo o anterior graças à criminalização e o autoritarismo das diretivas e à moral odiosa que impregna este colégio apesar de que seu projeto diz basear-se na formação de valores “em um ambiente físico e psicossocial adequado para lograr um ótimo desenvolvimento”.
Já que todas as queixas de Sergio foram ignoradas por todo o conduto institucional, até metade do ano de 2014, o colégio estalou em indignação, cólera e hipocrisia quando descobriram que nosso bom amigo Sergio tinha uma relação amorosa com seu companheiro de colégio Danilo Pinzón já faz tempos. Ante esse acontecimento o colégio chamou ao papi e mamãe de nosso companheiro (que estão separados fazem anos) a entrevistar-se com a direção para tratar “esse preocupante problema”. A mamãe, que estava nesse momento na cidade de Calí, voou imediatamente ao saber dessa situação e, com um atraso de 20 minutos em relação a hora citada e diante da ausência do pai de Sergio, a senhora Amanda Azucena Castillo Cortés, reitora do colégio decide não atender à mãe do companheiro Sergio.
Seguidamente começa um trabalho sistemático e organizado por parte da senhora reitora e de seus/suas subalternos para desgraçar a vida de Sergio. O discriminam, maltratam e ameaçam repetidas vezes com não deixá-lo entrar na sala. Ademais do anterior, o inscrevem em compromissos em psicologia – tratando seus sentimentos como um problema – o negam os últimos informes acadêmicos – deixamos claro que estava em paz e salvo com sua pensão, rota e alimentação, as condições impostas pelo colégio para a entrega de resultados – e se cria a ele dia após dia uma carga emocional e psicológica que é insustentável e que o leva finalmente a morte.
Era um excelente estudante que havia obtido uns bons resultados no simulacro da prova de Estado para ingressas à educação superior e que tinha um comportamento irretocável (isto se pode comprovar no livro de acompanhamento de aluno que leva ao colégio). Assim fica claro que o colégio não tinha nenhuma desculpa para estas artimanhas mentirosas de perseguição, que alimentam no estudantado a rejeição e a criminalização de nosso companheiro por suas preferências sexuais.
Não contente, a senhora reitora com todo o anterior, faz o mesmo com o par de nosso amigo e com a família dele. Danilo, seguramente por medo de que sua família se inteirasse de suas preferências sexuais e depois da ameaça de sanções por este comportamento amoroso, decide acusar legalmente Sergio de assédio sexual. Além disso, o colégio se soma demandando a Alba (mãe de Sergio) de abandono familiar e decide pedir a nosso companheiro que abandone a instituição.
Alba instaura uma queixa na Secretaria de Educação Departamental no 1 de julho de 2014 pedindo esclarecimentos sobre a violação ao direito a integridade, a não discriminação, e deixando claro as negativas e os ataques que foram sofridos por Sergio por parte das autoridades do colégio e que o levaram a arruinar sua integridade. Sendo este um direito de petição, deve dar-se resposta dentro dos 15 dias úteis seguintes, mas a resposta ainda não foi entregue, mais de um mês depois, demonstrando a falta de efetividade e possível corrupção entre o sistema.
As últimas reuniões e conversações de nossa parte com Sergio foram um par de semanas antes de acontecer a desgraça. Ele nos informou das demandas legais contra si e o ajudamos em tudo o quanto podíamos desde o momento em que o conhecemos até quase um mês antes de sua morte, data em que o colégio descobriu sua relação amorosa e que sua família o impediu de ver-nos. Além disso, devido a suas constantes enxaquecas o neurologista o receita Valcote, um medicamento excessivamente forte com efeitos secundários como sedação, sonolência, tremores, transtornos emocionais, depressão, psicose, formação de hematomas e hemorragias.
Sergio agredido, espantado, drogado, decide como protesto e último ato político lançar-se desde o centro comercial TITAN PLAZA deixando antes cartas para as pessoas mais próximas, e explicitando tudo o que havia passado com seu companheiro sentimental, assim como evidencias para clarificar sua inocência enquanto às demandas que o haviam posto. Este foi um ato público contra a discriminação, e contra aqueles que a promoveram até levá-lo a morte. Cabe ressaltar que Sergio não era uma pessoa depressiva – segundo aqueles que o conheciam desde a infância – ao contrário, geralmente estava sempre de bom humor, possivelmente o medicamento que estava tomando também pode ter influenciado em sua decisão.
Atuaremos socialmente e denunciaremos ao colégio, seu representante legal, à senhora Amanda Azucena Castillo Cortés e a toda pessoa que se atravesse no ato de limpar a memória de Sergio. Igualmente, denunciaremos ao Centro Comercial Titán Plaza pela ausência de medidas de segurança. Fazemos responsáveis também a família de Danilo Pinzón e a ele até que mostre arrependimento e solidariedade real na ação, à sociedade excludente, à moral hipócrita, fria, religiosa e burguesa, e a toda pessoa que se ofendeu contra nosso amigo para levá-lo a morte.
Atualmente, a polícia investiga o caso como um possível homicídio culposo e a direção do colégio Gimnasio Castillo Campestre fizeram assinar um acordo intimidante aos estudantes do curso em que se encontrava Sergio para que não dessem informação à imprensa nem a nenhuma organização ou pessoa sobre o caso.
Consideramos que tudo isso foi um assassinato premeditado, sistemático e pseudo-legalizado. Pedimos a colaboração e ação de toda a sociedade que sinta a dor que sentiu nosso companheiro, que sentimos agora suas amizades, sua família e demais pessoas que já se uniram à ação reivindicativa no nome de nosso companheiro. Pedimos também a todas as pessoas e organizações jornalísticas, de difusão, de ação LGBTI, ateus, libertárias, de direitos humanos, estudantis, e demais que defendam a liberdade e a igualdade em qualquer setor social, e a quem sinta dor ao ver injustiça, a que nos organizemos, nos informemos e atuemos a favor de não deixar em impunidade esta morte induzida pelo ódio, o perjúrio, a discriminação, a intolerância e a indiferença.
“…meu sonho e que segue inteiro, e saibam que só morro se vocês vão afrouxando. Porque quem morreu lutando vive em cada companheiro e companheira…”
Companheiro e amigo Sergio David Urrego Reyes, lutando te recordaremos!!!
União Libertária Estudantil
Anarcosindical
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Nuvem, ergue a pálpebra!
Quero ver o olho de cego
com que sondas a noite.
Alexei Bueno
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!