[Publicamos a seguir um chamado da Assembleia de bairro de Keratsini, Drapetsona e do espaço auto-organizado de solidariedade e ruptura Resalto, a uma manifestação antifascista em 18 de setembro de 2014, um ano depois do assassinato do músico e antifascista Pavlos Fyssas por um batalhão de assalto da gangue neonazista paraestatal Aurora Dourada.]
Em 18 de setembro de 2013 Pavlos Fyssas foi assassinado no bairro de Keratsini por um batalhão de assalto da gangue fascista Aurora Dourada, por dar de cara com a praga fascista. Este assassinato não foi o começo da ação da gangue neonazista. Ele foi precedido por uma série de ataques racistas, pogroms e assassinatos de imigrantes. Como a “evacuação” da Praça de Aguios Panteleimon em Atenas pelos imigrantes em 2009, com o apoio da Polícia e dos ministros competentes, e o estabelecimento de um “gueto branco” na área da praça, proibindo o acesso a ela de pessoas de cor de pele diferente. Como o pogrom que durou muitos dias, sob a supervisão e apoio da Polícia, mais uma vez no centro de Atenas, depois do assassinato de Manolis Kantaris no centro de Atenas, em setembro de 2011. Como as centenas de ataques sangrentos nas ruas e casas de imigrantes, incluindo o ataque à casa de pescadores egípcios, no verão de 2012, em Perama, em que um imigrante ficou gravemente ferido, e o assassinato do imigrante paquistanês Lukman Sajzat em Petrálona na madrugada de 17 de janeiro de 2013.
Também (o assassinato de Pavlos Fyssas) havia sido precedido durante os anos anteriores pelos ataques incendiários ou de grupos de assalto a centros sociais auto-organizados, espaços e okupas, como no caso de um ataque de pessoas armadas com facas ao espaço anarquista Antipnia, em 30 de junho de 2008, no qual dois companheiros ficaram feridos. Este caso será julgado em 19 de setembro de 2014 em um tribunal de Atenas (dois dos fascistas tinham sido detidos acidentalmente durante a fuga do local, e admitiram seu envolvimento no ataque). Além disso, poucos dias antes do assassinato de Pavlos Fyssas havia acontecido um ataque de um batalhão de assalto da Aurora Dourada contra sindicalistas do Partido “Comunista” no bairro de Pireo Pérama.
A ascensão da Aurora Dourada, que por muitos anos tinha sido uma gangue marginal paraestatal neonazista de uns supostos cidadãos “indignados” – e sua entrada no Parlamento após as eleições de junho de 2012 não foi acidental (aleatória). Foi promovida pelas próprias forças sistêmicas (agências de Estado, os partidos do governo) como um mecanismo complementar da política oficial do Estado cada vez mais dura contra os trabalhadores imigrantes e os refugiados de guerra: perseguição e mortes nas fronteiras, operações “vassoura” diariamente (no âmbito do projeto Zeus Xenios), expulsões, humilhação, espancamentos, torturas e retenção de até 18 meses de imigrantes “sem papeis” nos campos de concentração modernos, sem sequer o pretexto de que eles tivessem cometido qualquer crime. Foi promovido como um contrapeso à crescente radicalização social e a disposição das pessoas para enfrentar as forças de repressão, gerada pela revolta de dezembro de 2008 e as grandes manifestações contra os memorandos da escravização e pilhagem da sociedade após a primavera de 2010, e que culminou com a rebelião de 12 de fevereiro de 2012.
A ascensão da Aurora Dorada foi promovida assim que esta gangue tornou-se uma força de ataque nas ruas, substituindo o partido ultradireitista Laos, o qual tinha o papel da extrema-direita institucional nos debates televisivos e no Parlamento, e que se considerou que “fora queimado” como uma solução sistêmica, após sua participação na coalizão governamental tripartite no inverno de 2011-2012, cujo primeiro ministro foi o representante do Capital financeiro transnacional Lucas Papadimos. Uma força anunciada como antisistêmica pelas entranhas do próprio sistema: pelo chamado “Estado profundo”: a Polícia, o Exército, a Agência de Inteligência, e que surgiu à sociedade com as reportagens montadas, manipuladas da mídia sobre a suposta proteção que os fascistas proporcionavam aos anciãos que tinham medo de sacar o dinheiro de suas pensões nos caixas automáticos dos bancos, e sobre a “promessa” de que “dariam muitas bofetadas nos canalhas, nos traidores da pátria e nos políticos”. Por último, como era de esperar, não se deu nem uma bofetada (exceto a agressão covarde do deputado neonazista Kasidiaris na deputada do partido “comunista” Liana Kaneli em um show da tevê), ao mesmo tempo que a organização “antisistêmica” votou no Parlamento a anulação da dívida das sociedades anônimas proprietárias das equipes de futebol, todo tipo de isenção ou bonificação fiscal para os armadores, a venda/privatização do Banco Rural, em que está hipotecada a maior parte da terra agrícola, e tem criado escritórios de emprego de tipo tráfico de escravos “só para gregos”, que encontravam trabalho remunerado com 15 euros diários.
Por mais de um ano Aurora Dourada foi o menininho mimado do Sistema na operação “reocupação das cidades dos imigrantes e dos arruaceiros”, como anunciado pelo próprio primeiro-ministro, no âmbito da doutrina de “Lei e Ordem”, em uma conjuntura de crise capitalista, da imposição de um estado de emergência e de lutas e conflitos de classe e social intensivos. As forças do governo e, especialmente, o pessoal da extrema-direita do partido Nova Democracia, teve relações íntimas com eles, como demonstra o caso Baltakos, enquanto as forças de repressão do Regime descia a lenha contra as manifestações antifascistas, sendo o exemplo mais ilustrativo de ação repressiva a detenção e a tortura de 15 antifascistas que haviam participado de uma marcha motorizada em Atenas, em 30 de setembro de 2012.
Os meios de desinformação de massas – que hoje os repugnam e os condenam – com contínuas reportagens, entrevistas e convites a debates televisivos, são os que durante muito tempo trataram de limpar (embelezar) a imagem desta gangue fascista, “depurar” suas várias e diversas atividades assassinas e seu servilismo, apresentar como íntima e trivial a presença de fascistas na vida política e nas ruas, e ratificar (legalizar) como uma normalidade a existência e a ação dos batalhões de assalto. Não é casualidade que o principal jornalista do sistema uns dias antes do assassinato de Pavlos Fyssas houvera apresentado abertamente a questão de uma possível futura coalizão com a participação de “uma Aurora Dorada mais séria”.
As tendências de autonomia, no entanto, dos cães de guarda do Sistema, suas iniciativas cada vez mais unilaterais e claramente assassinas, orientadas cada vez mais enfaticamente contra os comunistas e os anarquistas, correndo o risco (para o Sistema) de provocar um conflito generalizado, acontecimentos insurrecionais e a reativação de uma sangrenta guerra civil, ainda que fosse de baixa intensidade, converteram a gangue fascista de um fator de estabilidade para o Regime em um fator de desestabilização que tinha que ser controlado e limitado (restringido). Assim nasceu a piada mais curta, a do “Estado antinazi”, com as perseguições e os encarceramentos que sucederam ao assassinato de Pavlos Fyssas. Os mesmos aparatos do Sistema (políticos, econômicos, de propaganda) que haviam montado a base legitimadora do fascismo e promoviam a ação dos batalhões de assalto, são os que agora – devido às mudanças necessárias no seio do Regime – vendem antifascismo e fazem chamamentos à normalidade social. Ao mesmo tempo montam em todas as partes, centros de reclusão para imigrantes, tráfico de escravos e cárceres de segurança máxima para os desobedientes, e impõem a desertificação capitalista generalizada, a exploração mais cruel e o sujeitamento (submissão) “dos de baixo”. Enquanto aqueles que continuam votando, apoiando ou estando nutridos de alguma maneira pela gangue fascista, já não pode haver nenhuma reserva ou inibição: se trata de uns fascistas patenteados.
O assassinato de Pavlos Fyssas, no entanto, não deu origem só a ações por parte do Regime. No dia seguinte ao assassinato a raiva transbordou, em uma manifestação espontânea e muito massiva no bairro de Keratsini, durante a qual se desenvolveram durante muitas horas enfrentamentos com a chamada Polícia antidistúrbios, e ataques contra alvos capitalistas (bancos, casas de penhor de tipo negro “compro ouro”, filiais de cadeias comerciais locais e multinacionais), com um pequeno grupo de fascistoides estando inclusive naquele dia em sua posição conhecida entre os policiais da Polícia antidistúrbios, lançando pedras nos manifestantes. Nos próximos dias, no território do Estado grego e em vários países se desenvolveram diversas ações e atividades. Ao mesmo tempo a nível local as ações seguiram, com a organização de marchas, intervenções e eventos variados (projeção de documentários antifascistas, debates, apresentações teatrais, concertos, torneios de basquete e de futebol antifascistas, grafitis, pinturas, etc.). Foram criadas relações de companheirismo que contribuíram para que não prevalecesse o medo, senão a dignidade e a combatividade, enquanto que o espaço público adquiriu outro significado como campo de resistência, expressão e liberdade.
Hoje, um ano depois, estaremos de novo na rua, sem falsas ilusões. Porque o anti fascismo não consiste em fazer exercícios de lealdade, não se encaixa (cabe) em festas democráticas com discursos fúnebres, em pretexto de humanitarismo, em festivais de televisão. Anti fascismo é uma parte orgânica da luta diária contra o totalitarismo moderno emergente do Capital, do Estado, dos mecanismos transnacionais de Poder, contra a civilização do medo, contra o racismo, o nacionalismo, o sexismo. É um mundo inteiro que dá lutas e abre caminhos, respirando a brisa da liberdade.
Comunidades auto-organizadas de luta, criatividade e solidariedade em todos os bairros, contra o fascismo e o sistema que o gera e o alimenta.
Manifestação antifascista em Keratsini, quinta-feira, 18 de setembro de 2014, às 18h, na Praça de Nike, a 200 metros do lugar onde foi assassinado Pavlos Fyssas.
Assembleia da Praça de Keratsini, Drapetsona, Espaço auto-organizado de solidariedade e ruptura Resalto.
O texto em grego:
https://athens.indymedia.org/post/1530984/
O texto em castelhano:
Tradução > Sol de Abril
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