Nos dias 04 e 05 de Outubro de 2014 irá ocorrer o XIII Expressões Anarquistas em Araraquara. O evento será sediado na Chácara Sapucaia, Rua dos Libaneses (Rua 14), nº 1111, a partir das 9h, dando sequência a este momento de difusão e descentralização do anarquismo e das práticas libertárias no interior do estado de São Paulo.
Origens e Desenvolvimento do Expressões Anarquistas
Texto histórico escrito por Idilio Neto (Coletivo Fenikso Nigra – Campinas)
O evento foi idealizado pelos grupos Grupo Independente de Estudos Políticos e Sociais (GIEPS) e Coletivo Revolucionário de Ação Popular (CRAP) em Araraquara em 2002, mas não era anarquista, chamava-se Encontro da Juventude Rebelde, que pretendia reunir várias experiências de luta da esquerda e apresentá-las a sociedade focando no público jovem. Ocorreram 3 edições, todas realizadas em Araraquara, espaços públicos reservados e divulgados em jornais locais.
Em 2005, foi identificada a necessidade de enfoque anarquista e libertário, com a proposta que se mantinha dentro de uma coerência na luta pela emancipação social, econômica e política da humanidade. Tudo isso levado em conta surge o conceito de Expressões Anarquistas na intenção de trazer as diversas manifestações e ações que ocorrem dentro da grande bandeira negra do anarquismo, para o interior de São Paulo. Havia um entendimento de que enquanto a capital havia diversos grupos e muitas atividades anarquistas, no interior paulista a situação era diferente, poucos grupos e poucas atividades ocorriam, e esse seria um dos objetivos da realização do Expressões Anarquistas, fazer o anarquismo florescer intensamente no interior paulista.
O IV Expressões Anarquistas – variações do mesmo tema (2005) em Araraquara, foi um marco importante, porque não só tivemos as tradicionais conversas libertárias, como ocorreu também atividade aberta na forma de uma manifestação de rua, com faixas, bandeiras e carro de som, onde denunciávamos a farsa da política burguesa. Foi redigido um documento público neste evento, a “Carta de Araraquara“. Isso trouxe uma nova perspectiva para o evento, indo do convencional palestras e debates para a propaganda pela ação. Os assuntos abordados foram Voto Nulo, Recordando o I Congresso Operário Brasileiro e a Revolução Espanhola, Movimento Anarquista atual, Anarquistas na Revolução Russa.
O V Expressões Anarquistas – educação e autogestão (2006) foi em Santo André, inaugurando outra ideia, da realização do evento em outras cidades para que as vivências anarquistas sejam trocadas e espalhadas. A Casa Lagartixa Preta Malagueña Salerosa (espaço mantido pelo Ativismo ABC) recebeu o evento, que contou com materiais de diversos grupos e falas sobre Pedagogia Libertária, Vegetarianismo, Vegan e Freeganismo, Autogestão, Esperanto.
VI Expressões Anarquistas – autogestão e socialismo libertário (2007) foi em Campinas e contou muita gente e grupos que contribuíram muito para uma revitalização do anarquismo em Campinas, com o surgimento posterior de um grupo antifascista, a Coordenação Antifascista de Campinas, para o enfrentamento do problema real da violência de grupos e indivíduos totalitários de direita e esquerda. As conversas foram sobre os 90 anos da Greve de 1917 e o Anarcossindicalismo, Softs Livres, Pagos e Piratas, Educação Libertária, Sobre o conceito da dádiva, Propaganda Anarquista, Experiências na Chechênia. Houve alimentação coletiva no local, o que estreitou muitas amizades.
Em 2008, a organização coletiva do Expressões teve contratempos que fizerem com que o VII Expressões Anarquistas ocorresse em Dezembro, em apenas um dia, em Campinas. Tendo como tema “conheça, organiza e luta”, trouxe a homenagem a Edgar Rodrigues que dedicou sua vida pela memória operária. Nele foi lançado o Arquivo Bem Estar e Liberdade, de iniciativa do Sindivários Campinas, que conta com materiais digitalizados e documentos guardados importantes para a memória de luta de nosso movimento. Também conversamos sobre o Movimento Libertário Brasileiro e suas características. Tivemos a presença de companheiro da CNT espanhola que contribuiu com sua vivência anarcossindical.
O VIII Expressões Anarquistas – promessa de rebeldia (2009) foi realizado em Piracicaba, através de militantes que depois formariam o Coletivo Anarquista de Piracicaba e Região (CAPRE). Reuniu muita gente e houve distribuição de materiais, uma amostra de todos os livros de Edgar Rodrigues e a entrega em pré-lançamento de um livro sobre o Edgar Rodrigues da professora doutora Anna Gicelle, a noite ocorreu um sarau regado a violão e muitas poesias. O rango vegano foi realizado de forma coletiva e foi uma experiência empolgante. Nesse Expressões tivemos oficinas sobre plantas comestíveis, bioenergética corporal. As conversas foram sobre o Feminismo, Anarcossindicalismo, MLB.
Em 2010, foi o IX Expressões Anarquistas – em memória de Ferrer e da escola moderna. Foi em São Paulo, após uma troca de ideias com outro evento anarquista tradicional na capital, a Jornada Libertária de Protesto (JLP), houve a troca de lugares, ficando que ocorresse JLP em Piracicaba e o IX Expressões Anarquistas em São Paulo em Santo Amaro (sede da Corrente Libertadora), Com a presença de bastante gente, companheirxs do Rio Grande do Sul (FORGS-COB-AIT) e da Africa do Sul (Zabalaza Anarchist Communist Front). Nele, com a mesma dinâmica dos Expressões anteriores, conversamos, debatemos, dialogamos sobre a Educação Moderna de Ferrer, Esperanto, Anarcossindicalismo, Sobre a confecção de Bombas de Semente (técnica para plantio em terrenos abandonados ou áreas inacessíveis, chamando atenção a causa ecológica e reestruturação dos meios de produção em busca de equilíbrio com a natureza. Como aconteceu segundo turno, também discutimos sobre a importância do Voto Nulo e de Não Votar, construindo nossa organização sem partidos, sem políticos, sem patrões, sem Estado. Foi parcialmente gravado, garantindo o arquivo digital desse evento para a memória de nosso movimento.
Foi realizado novamente em São Paulo, no Centro de Cultura Social (CCS-SP), nos dias 15 e 16 de Outubro 2011. Choveu muito, mas não impediu de termos mais uma realização bem sucedida do evento. Em paralelo tivemos o início das Acampadas 15 de Outubro (baseada nas manifestações da Primavera Árabe, das Acampadas na Espanha e do Occupy Wall Street), da qual parte do participantes do Expressões também prestigiaram. O X Expressões foi inteiramente gravado e tivemos acalorados debates sobre Anarquismo e Direito. Outros temas abordados foram Linux, Esperanto e Anarquia; Discussão sobre Gênero; Anarcossindicalismo. Houve exibição do filme “Agora” baseado no incêndio da Biblioteca de Alexandria pelos cristãos e da filosofa Hepatia que foi assassinada também pelos cristãos.
Em 2012, foi realizado em Campinas, na Moradia Estudantil, o XI Expressões Anarquistas. Nele houve a participação de mais de 40 pessoas, e as conversas libertárias abordaram diversos assuntos como o impacto dos mega-eventos nas cidades (copa e olimpíadas), o feminismo e anarquismo, educação e anarquismo, o veganismo. Além disso, ocorreu uma confraternização entre os participantes, e a alimentação vegetariana feita de forma coletiva.
Nos dias 12 e 13 de Outubro 2013, o XII Expressões Anarquistas (12ª edição), foi em Ribeirão Preto (SP), no Memorial da Classe Operária, nº 59, organizado pela iniciativa do grupo Viver a Utopia. Com exposição, fala, expressão de todxs e com muita gente, foi intenso para todas as pessoas presentes, abordando temas relacionados as jornadas de junho, debatendo feminismo e pedagogia libertária.
XIII Expressões Anarquistas: Lutar não é crime!
Neste ano, o evento será em Araraquara, nos dias 04 e 05 de Outubro, passado um ano dos levantes de junho, e após as lutas contra a Copa do Mundo e o estado de exceção, que deixou amplo legado de destruição, desalojos, desterros, prisões, tortura e repressão. Adentramos agora um novo período de lutas, com o fortalecimento das greves nas universidades, assim como uma nova escalada repressiva. É agora, portanto, o momento de reafirmarmos nossa força, unificando os setores em resistência para conquistarmos nossas reivindicações, mas para também defendermos quem luta e está passando por prisões, ameaças, assédios e demissões.
Os governos empreendem nacionalmente uma tentativa de reprimir a juventude, as trabalhadoras e os trabalhadores que saíram às ruas em junho e em 2014. No Rio de Janeiro foram 23 presos, que recentemente receberam habeas corpus, mas seguem processados; no RS demitiram um rodoviário que fez greve, já ocorreram diversas prisões arbitrárias, que vêm causando um escândalo em escala internacional, na qual as pessoas são impedidas de manifestar e são presas de maneira “preventiva”, sem provas, tendo suas casas invadidas, num estado dito democrático onde teriam o direito de expressar e praticar suas posições políticas. Percebe-se, entretanto, que a democracia é uma farsa, e atende somente aos interesses das classes dominantes. Por isso seguimos lutando contra a ofensiva dos governos em criminalizar as lutas.
No estado de São Paulo, o governo Alckmin mandou prender, num dos atos contra a Copa do Mundo, um trabalhador e estudante da USP, Fábio Hideki, com acusações forjadas, levando-o à penitenciária do Tremembé em São Paulo. Ainda hoje, está preso Rafael Braga, morador de rua e catador de lixo preso por portar Pinho Sol. Antes disso, Alckmin colocou a polícia militar para reprimir trabalhadoras, trabalhadores e manifestantes em atos e piquetes feitos para garantir o direito de greve. Além disso, 42 metroviárias/os foram demitidos por lutar por melhores condições de trabalho e transporte para a população. Demissões de caráter unicamente político.
Diante destas questões, chamamos a todas para comparecer nos dois dias de evento, com programação aberta para auto-organização, debatendo uma série de questões no sentido de pensar a atuação e organização anarquista neste contexto de agudização da luta de classes. Segue a programação:
• 04 de Outubro
9h30 – Café.
10h – Abertura: Apresentação de Araraquara – contexto de lutas (históricas, estudantil, CTA).
11h – Debate: História do Expressões Anarquistas.
12h – 13h30 – Almoço.
14h – Filme-Debate: Criminalização dos Movimentos Sociais.
17h – Feminismo e Anarquismo.
18h-19h30 – Janta.
O resto do dia será dedicado pra capoeira angola e apresentação das bandas Revolta Popular e Os Regicidas.
• 05 de Outubro
9h – Café.
10h – Debate: Anarcossindicalismo e filme (Patagônia Rebelde) ou Leitura do núcleo duro do enredo de “100 Anos de Solidão”, no que se refere a greve dos anarcossindicalistas (Massacre das Bananeiras em 1928).
12h – Almoço.
14h – Voto nulo e organização anarquista.
Também haverá leituras de livros infantis que trazem temática das raízes afro e indígenas, em grupos mistos no espaço infantil.
Para melhor organizar a alimentação coletiva e alojamento para pessoas de outras cidades, por favor, entrem em contato confirmando presença e data de chegada nos endereços a seguir: yanumaka@riseup.net – exprana@riseup.net. Tragam barracas, sacos de dormir, cobertores, alimentos e contribuições, todo apoio será bem-vindo!
Lutar não é crime!
Solidariedade aos presos políticos!
Pelo fim de todos os cárceres, até que todos sejamos livres.
Alguns anarquistas em Araraquara…
agência de notícias anarquistas-ana
Ilhotas boiando.
Sob um céu vasto e sereno
este mar tranqüilo.
Fanny Dupré
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!