O céu de Santa Ana estava gelado e cinza no último sábado [16 de maio], mas a única tempestade à vista estava surgindo embaixo do telhado do El Centro Cultural de México. Ali, dúzias de vendedores, voluntários e ativistas da comunidade se reuniram para a primeira Feira do Livro Anarquista de Orange County. O encontro poderia parecer um lugar bobo para reunião de excêntricos revolucionários no estilo “lute contra o poder” – e uma moderadora do evento, que se apresentou apenas pelo nome “Nancy”, reconheceu isto: ela admitiu que o mundo exterior talvez pudesse ridicularizar a população anarquista de O.C., mas seus seguidores estão crescendo rapidamente como resultado de algumas lideranças sinceras, que defendem algo mais do que “foda-se a polícia”. Anarquistas de O.C. querem igualdade e um mundo isento de opressão ou preconceitos. Uma meta ambiciosa, mas a organização da feira do livro é um importante primeiro passo para reunir anarquistas de todas as esferas da vida. A feira proporcionou um local para anarquistas do sul da Califórnia, feministas e defensores da justiça social para compartilhar suas histórias, criar diálogo e discutir literatura anarquista com indivíduos com pontos de vista semelhantes.
A feira foi realizada no pequeno prédio do El Centro Cultural de México, um centro multicultural de arte no centro de Santa Ana, ironicamente encostado em imponentes edifícios governamentais da cidade. Enormes pôsteres em preto e branco cobriam a frente do local, avisando em letras de mão, “Feira do Livro Anarquista de O.C.”, assim como “Literatura Inflamatória Grátis”, “Abacates Grátis” e “Livre Mercado de Verdade” dando roupas pela rua. No sonho anarquista tudo é gratuito – das pessoas aos abacates.
Do lado de dentro, o prédio estava dividido entre a feira do livro, um salão improvisado de leitura, e as salas de oficinas. A feira sediou uma colorida combinação de vendedores de O.C. a Bay Area, reunindo todo tipo de literatura radical, incluindo zines abstratos, livros de colorir para crianças com temas sociais e de justiça, e mesmo outros inesperadamente populares como “A People´s History of United States”, de Howard Zinn.
Na sala de leitura ao lado, debates aconteceram durante todo o dia, com participação de proeminentes anarquistas da área, defendendo algo mais do que apenas a morte do capitalismo. Todas as pessoas falaram de forma eloquente e racional sobre seus planos para criar um mundo livre de colonialismo, opressão e discriminação.
Angela Mooney D’Arcy, diretora executiva do Sacred Places Institute for Indigenous Peoples, foi a primeira a subir no palco com uma camiseta em que se lia: “Proteja os Locais Sagrados”. Mooney D’Arcy, que também está diretamente envolvida na Iniciativa Sustentável da UCI, defende representação para as tribos nativas americanas da Califórnia e grupos sustentáveis de base ao longo da costa. Durante a discussão, ela enfatizou a importância da liderança de pessoas jovens – na UCI e além dela.
“Precisamos ensinar a próxima geração a usar a força e os recursos para criar um mundo livre de opressão, onde muitos mundos convivam juntos”, explicou D’Arcy.
Sua fé no anarquismo demonstrou a melhor alternativa ao colonialismo sancionado pelo Estado, que derrubou a vida de seu povo por séculos.
Outra palestrante, Kelly, cujo foco principal é o feminismo, argumentou que nossa existência depende de nossa resistência. Ela vê a anarquia como um meio de acabar com a discriminação baseada no sexo sancionada pelo Estado.
“Não temos outra escolha enquanto mulheres além de resistir”.
Copwatch foi outra organização presente no evento, cujo foco principal é a abolição da polícia. Galilea, uma jovem adolescente palestrante, falou com entusiasmo sobre seu envolvimento com a organização, descrevendo suas experiências pessoais com discriminação policial por ser uma mulher hispânica. Para Galilea, o racismo é profundamente enraizado na cultura policial para que a instituição seja efetiva. Ela e sua irmã agora defendem o anarquismo no ambiente escolar como uma solução para a violência policial baseada em raça.
Estas mulheres anarquistas não querem que a sociedade se torne uma bagunça sem estado e regras, e sim criar alternativas, que elas fortemente acreditam que irão ajudar a solucionar questões, do meio ambiente ao racismo. A ideia frequentemente mal compreendida da anarquia é sobre igualdade em sua forma mais crua.
Mesmo na notoriamente puritana Orange County, o movimento anarquista está ganhando velocidade. Seu impulso pode ser bem resumido por um membro da audiência na primeira fileira, que pegou o microfone no final do debate.
“Estamos nos oprimindo quando chamamos a nós mesmos de minoria. Nós somos a maioria”.
Megan Cole
Tradução > Anarcopunk.org
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