Dois anos depois de apresentada a chamada para a perspectiva de criação de uma Organização Política Anarquista por quatro coletivos anarquistas em Atenas (“Círculo de fogo”, “Local Antipnea”, “Na estrada”, “Anarquistas Pela Libertação Social”), se concluiu o processo de diálogo pré-congressual.
A chamada inicial foi acompanhada por uma série de grupos que responderam e comprometeram-se em com o marco político plasmado em sete pontos-base. A aceitação desses pontos foi a condição para participar do processo de formação subsequente:
Α. O convite é dirigido a grupos políticos anarquistas (não indivíduos), que funcionem com procedimentos libertários, se posicionem coletivamente em matéria de exploração e opressão, se refiram em suas aspirações à revolução social e encontrem-se abertamente contra o Estado e o Capital.
Β. Destina-se a coletivos anarquistas que compreendam a dimensão de classe da luta, excluindo de seu seio aqueles que obtenham mais-valia em termos materiais.
C. A organização política anarquista deve basear-se em conceitos políticos comuns e acordos tão coesos quanto possível, para que seja possível desenhar estratégias de luta de longo prazo. A criação de uma organização que cubra o “âmbito” não se encaixa em nossos desejos. A Organização política anarquista que perseguimos é parte do movimento anarquista/antiautoritário em geral, funcionando dentro deste e interagindo com ele.
D. A Organização Política Anarquista deve intervir continuamente e consistentemente no plano político central.
E. A Organização Política Anarquista deverá centrar-se no desenvolvimento de um movimento social e de classe emancipado e organizado, com o qual irá interatuar um movimento anarquista organizado.
F. A Organização Política Anarquista deve se posicionar de modo a ser capaz de criar um programa anarquista que constitua um elo entre a luta diária e as aspirações finais da anarquia e do comunismo (libertário).
G. A proposta de uma Organização Política Anarquista não é destinada a reduzir a autonomia dos grupos, ou promover a lógica de autodissolução em uma organização de massa. Por outro lado, o coletivo anarquista deve ser a célula da organização anarquista.
Ao longo de todo este tempo, a maioria dos coletivos que participaram no processo em toda a Grécia apresentaram por escrito as suas posições sobre os princípios, as posições, os fins (táticos e estratégicos) e o modo de funcionamento do projeto de organização. Sobre o mencionado material político se realizou oito reuniões em nível de Grécia para registrar um quadro inicial de acordos e determinar a metodologia pela qual se conformaria um plano político, o mais coeso possível, sobre o qual estabelecer a Organização Política Anarquista. Assim mesmo, tinham como objetivo definir o processo que seguiria ao debate pre-congressual e levaria ao congresso fundacional.
Através de uma inusitada experiência de desenvolvimento e interação entre coletivos anarquistas e também em nível de toda Grécia, em muitas questões, se conseguiu conhecer largamente as posições e finalidades de cada grupo, as experiências da sua participação nas lutas sociais e de classe, a concepção que expõem nelas e a direção que deve seguir a luta política anarquista para o horizonte da revolução social. Aprofundaram-se os acordos e se cristalizaram as diferenças enquanto surgiram desvios significativos do marco inicial dos sete pontos. Durante este longo período de debate, coesão e diferenças, decidiu-se tanto a continuação ou não no processo por cada grupo, como a possibilidade de sua coexistência em um projeto organizacional.
O produto coletivo composto a partir desses processos é o acervo político e a riqueza de toda essa trajetória. Considerando-o a base política elementar, em que a Organização Política Anarquista pode se constituir, se apresentando como o texto estatutário a aprovar no congresso fundador, uma vez que reflete a mais ampla capacidade de convergência a nível dos princípios/posições/efeitos/estrutura organizacional entre todos os coletivos anarquistas que participaram desta tentativa de organização – mas sendo ao mesmo tempo consequente com a estrutura política inicial dos sete pontos iniciais que marcou desde o início a orientação coletiva.
Hoje, em um período de crise global do sistema, o Estado e o Capital estão em um permanente processo de reestruturação, tendo feito seu ataque extensível à sociedade com a imposição de condições de exploração e opressão cada vez mais insuportáveis, forçando a pobreza e a miséria para setores cada vez mais amplos da sociedade e privando-os dos bens sociais mais fundamentais; com a destruição e a pilhagem do mundo natural em nome do desenvolvimento; com a promoção do papel das forças repressivas e mecanismos de controle e supervisão; com a tentativa de calar todas as vozes da resistência, brutalmente reprimindo e aterrorizando as pessoas da luta, difamando ou silenciando as lutas e tentando isolar aqueles que opõem obstáculos aos planos de poder; com a migração forçada e os milhares de assassinatos de migrantes e refugiados nas fronteiras e no interior das grandes cidades ocidentais, execuções a sangue frio pelas forças policiais, as mortes de trabalhadores nas galés patronais renomeadas de “acidentes de trabalho”.
Em nível global está se tornando cada vez mais clara a tendência do poder de impor o absolutismo moderno para a completa submissão dos de baixo. Se trata da ofensiva antissocial de um sistema político-econômico em falência que não se encontra somente em crise, que é uma característica estrutural que lhe é inerente, mas em estado de decomposição. Frente a ele se levantam as resistências dos oprimidos, resistência que aspiramos que se façam coletivas. Frente à lógica sem saída da delegação, propomos socialmente e em termos realistas a perspectiva coletiva do mundo da igualdade, solidariedade e liberdade.
Neste contexto, a necessidade de organização da luta política anarquista, melhorando suas estruturas e processos, continua a ser urgente e oportuna. O modelo informal tem sido por muitos anos o modo fundamental de organização de uma grande parte dos anarquistas. Escolhidos em um ambiente social e político completamente diferente, consideramos sua proposta organizacional insuficiente, especialmente no que se refere às circunstâncias atuais. A colaboração ocasional entre grupos e companheiros anarquistas isolados, a improvisação, a combatividade e o caráter decidido são elementos que têm sido dominantes no “âmbito” anarquista grego e que por um lado contribuíram para construir um vívido e múltiplo espaço político que deu origem a importantes eventos e levantaram respostas dinâmicas ao sistema capitalista e ao Estado, mas por outro lado muito claramente revelaram suas limitações específicas. A incoerência, a falta de compromisso, a ausência nos processos do movimento e o funcionamento do “âmbito”, muitas vezes em termos sociais de grupos de amigos e não com base em critérios políticos, compõem uma área limitada que contribui para o contra-ataque social e de classe, sem ser capaz de superar os limites da fragmentação e da denúncia, da revolta e da insurreição. Nosso objetivo é superá-los, a fim de traçar uma estratégia de longo prazo, que os efeitos da luta anarquista adquiram maior profundidade, podendo criar uma consciência, estabelecendo as condições necessárias e apresentando à sociedade uma proposta realista para o colapso revolucionário do Estado e do Capital.
A necessidade de definir as diretrizes básicas da luta que servirá tanto para os objetivos em longo prazo como em curto prazo constituindo a base sobre a qual somos chamados a dar nossas respostas organizacionais. Por isso apresentamos como opção estratégica, o objetivo de contribuir para a criação da Organização Política Anarquista, que será um veículo de luta nas batalhas da guerra social e de classe em curso. A comunicação-debate estável no seio de uma organização ajudará a coordenar e facilitar a organização de movimentos massivos e dinâmicos, para reforçar a solidariedade, para elaborar uma estratégia comum nas lutas sociais de classe, para intervir com continuidade e coerência no plano político tanto da Grécia como em nível local, e criar uma nova proposta política que incluirá o horizonte da organização social das pessoas em uma sociedade antiautoritária.
Buscamos, portanto, a criação de uma Organização Política Anarquista de caráter federal, cujas células serão coletivos que funcionarão em uma estrutura horizontal. Uma organização estabelecida em acordos políticos suficientes e de coesão entre os coletivos anarquistas, que conformarão o seu movimento político unitário ao nível da Grécia através de órgãos coletivos que coexistam em igualdade. Uma Organização Política Anarquista que pode ajudar a criar um movimento radical de caráter coeso. Que ponha freio a qualquer tentativa de manipulação, usurpação e mediação de lutas sociais e de classe e qualquer tentativa de incorporação pelo reformismo. Que claramente levante a questão da revolução social como a única saída realista para os de baixo para livrar-se do poder de uma vez por todas e que conecte as lutas parciais com o objetivo revolucionário global do colapso do Estado e do Capital.
Nós convidamos aos coletivos anarquistas que sentem a necessidade de participar de uma organização política com objetivos e marco político comuns para o congresso de fundação, que será realizado em Atenas, em 7 e 8 de novembro. Para uma mais profunda disseminação do horizonte coletivo anarquista pela transição para uma sociedade de justiça, igualdade, liberdade e solidariedade. Pela contribuição da luta política anarquista de emancipação social e de classe. Pela revolução social e a construção de uma ponte entre a luta diária e o horizonte da anarquia e do comunismo (libertário).
Nenhum outro mundo é possível enquanto existir o Estado e o capitalismo
Organização e luta pela revolução social, comunismo (libertário) e anarquia
Coletivo pelo Anarquismo social “Vermelho e Negro” (Tessalônica)
Grupo anarquista “Cavalo sem rédeas” (Patras)
Grupo anarquista “Dinamitera” (Patras)
Coletivo anarquista “Círculo de fogo” (Atenas)
Coletivo anarquista “Omicron72” (Atenas)
Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1549071/
O texto em grego:
O texto em castelhano:
Tradução > Liberto
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!