Provavelmente não se vende em livrarias comerciais. Os livros anarquistas – como seus precursores- preferem o submundo e a escuridão. Exceto que, como neste caso, se façam lugares (a apresentação coincidiu com uma das últimas intervenções de Horacio Gonzalez antes de sua emotiva partida) em uma instituição de prestígio, como a Biblioteca Nacional. E é precisamente o selo editorial da instituição que acaba de publicar o livro fac-símile Folletos Anarquistas em Buenos Aires (Panfletos Anarquistas em Buenos Aires). Publicação do grupo Questão Social e Expropriação, compilado por Christian Ferrer e Martin Albornoz, responsáveis pela investigação cuidadosa que os levaram a mergulhar nas prateleiras que preservam a literatura anarquista que circulam na Babel que foi Buenos Aires em 1895/96. “Se pugnava nesses folhetos a destruição da sociedade industrial, desmantelar os exércitos, as prisões, não utilizar cassetetes e abolir a instituição do casamento. Parte se toma partido pelo Grande Livro da Natureza e pelo amor livre”, diz Ferrer no e-mail da convocatória que foi feita para 23 de dezembro passado, e, portanto, teve de esclarecer: “Tenha em mente que os sindicatos anarquistas de antanho exigiam dos empregadores a abrir fábricas e escritórios no Natal, porque eles não estavam dispostos a respeitar feriados estatais ou religiosos”.
Os folhetos foram encontrados em uma biblioteca de antiguidades na Av. Pueyrredón que passava despercebida. Quatro dos catorze livretos foram publicados na Espanha, mas o resto tinha o carimbo de impressoras de Buenos Aires, embora muitos circularam na sua língua original. Três deles integravam parte da coleção “propaganda emancipatória entre as mulheres”. O anarquismo é muitas vezes surpreendente em mais de um aspecto por seu senso de avançado, apesar dele mesmo ser contra qualquer forma de vanguarda ou forma de codificar as diferenças hierárquicas.
Os panfletos, que era sustentado por assinaturas, não tinha um “preço” ou, em qualquer caso, o seu preço era “a cada um segundo a sua força”.
Talvez o panfleto menos estranho para o leitor moderno seja aquele que dá testemunho sobre a experiência na Colônia Cecília, uma espécie de comunidade utópica fundada no sul do Brasil por imigrantes italianos que pregavam o amor livre e terminou, pelo que sabemos, em um desastre. Talvez seja esse o maior erro do anarquismo: você pode ir contra uma política, contra um sistema econômico, mas não pode ir contra as paixões. Em qualquer caso, só alterando aquelas formações sociais pode encontrar outros diques para as paixões. A verdade é que o ciúme terminou por engolir tudo.
Mas, claro, não só liberar os corações defendiam os libertários. Ferrer diz que “para os autores destes panfletos, a fábrica é o castelo feudal da idade moderna”. E não é que os anarquistas fizeram causa comum com os socialistas: o anarquismo não queria aumentar os salários, mas aboli-los; para eles, como disse Pierre-Joseph Proudhon “a propriedade é um roubo”.
Martin Albornoz aponta em seu prefácio: “A publicação de panfletos e livros era inseparável da própria existência do anarquismo. Dentro desta vasta cultura impressa pode ter sido o folheto o formato de entrada que melhor iria coincidir com a natureza do seu projeto. Frente o caráter bíblico da doutrina marxista, os anarquistas avisaram desde o início que a tarefa de manter uma sensibilidade anti-hierárquica só poderia ser feita de maneira coletiva e múltipla”.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
vaga-lume
entre um brilho e outro
escuridão
Paladino
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!