Após o nascimento no verão de 2015 da Feira Libertária do Livro e da Publicação na Cidade do México, neste passado 4, 5 e 6 de março foi a vez da cidade de Monterrey, Nuevo Leon.
No meio da violência e do medo causados pela guerra em que vivem há anos na cidade de Monterrey, neste fim de semana diferentes vontades do norte e centro do país juntaram-se com a intenção de fazer memória, influenciar a cidade e resistir com alegria. A reunião através da palavra e da celebração, o acesso ao libertário, o acesso a leitura libertária, independente e pirata, bem como oficinas para os participantes foram as ferramentas que deram vida a estes dias.
A construção coletiva e sem fins lucrativos ofereceu espaços de encontro, reflexão, solidariedade e questionamento do que aconteceu e está acontecendo em Monterrey como uma cidade assolada pela violência do sistema capitalista.
A feira foi realizada durante três dias consecutivos e de maneira itinerante, tendo como sedes a Faculdade de Filosofia e Letras como recordação às lutas e resistências estudantis na Universidade Autônoma de Nuevo Leon.
Mais tarde, em uma praça quase abandonada e esquecida no centro da cidade que é conhecida como a Praça do Mediterrâneo, atualmente incluída nos planos de gentrificação-espoliação urbana que executam o Estado, as empresas e as universidades privadas encobrindo esses atos como “Regeneração urbana” e ocultando assim o acúmulo dos quais alguns são participantes e deixando assim menos espaço de habitação para as pessoas e famílias trabalhadoras que buscam viver com dignidade no centro da cidade.
Enquanto o coletivo “Comida Sim Bombas Não” dava uma oficina de recuperação de alimentos e alimentava todos os participantes, se realizou um ato simbólico e para fazer memória, renomeando a estátua que está no centro da praça, já que anos atrás haviam removido a placa que constava o seu nome: “Ricardo Flores Magón”.
No segundo dia também se levou a cabo a terceira rodada negra que visa fazer memória e tecer solidariedade para com todos aqueles que foram tocados pela guerra e atualmente lutam por justiça para seus familiares que foram desaparecidos. Esta atividade teve o apoio dos companheiros solidarios do Coletivo Povo Bicicletero e de outros grupos bicicleteiros onde rodaram por diferentes partes da cidade, nos quais os deploráveis atos de violência têm ocorrido contra o povo regiomontano. Finalmente se ouviram as palavras de uma mãe e um pai que fazem parte do FUNDENL (Forças Unidas por Nossos Desaparecidos(as) em Nuevo Leon), onde partilharam com os presentes a sua experiência de luta e resistência.
As atividades continuaram no domingo, no Bairro Antigo; com uma atmosfera familiar, as crianças estavam presentes e aprenderam a fazer um pequeno livro pop-up (tridimensional, móvel) com os quais puderam soltar sua criatividade e, finalmente, mostrar com alegria seu pequeno trabalho.
No mesmo local foram feitos dois murais, onde em um deles se pintou que se fazia presente na cidade a companheira Berta Cáceres, assassinada em 3 de março, por defender a Mãe Terra no povoado de Lencas em Honduras, bem como em solidariedade com o companheiro Gustavo Castro pertencente à organização Outros Mundos, em Chiapas, e que a acompanhava durante os eventos e que se encontra atualmente detido pelo governo de Honduras.
Desde Monterrey: Berta Cáceres vive entre nós! Solidariedade com o companheiro Gustavo Castro!
No domingo, durante o evento de encerramento, se realizou uma rifa de solidariedade em apoio ao compa Jorge Emilio Esquivel Muñoz que, em 25 de fevereiro, foi preso quando estava saindo de um evento cultural realizado na Okupa Che, onde foram feitas ameaças nos últimos anos contra camaradas anarquistas organizados e contra a Okupa Che.
Esta manhã somos acordados com alegria com a notícia de sua liberdade e enviamos uma saudação e abraço ao compa e à sua família. Solidariedade com o compa e com a Okupa Che!
Finalmente, na noite de encerramento no domingo foi dada uma conferência na Biblioteca Portão Negro, onde se realizou a celebração e a festa acompanhada de hip-hop, performance e cumbia, que mostraram que com alegria e arte também se resiste.
Assim se encerrava esta primeira edição da Feira Libertária do Livro e da Publicação em Monterrey, onde o ambiente solidário, apoio mútuo e celebração estava presente como escolha oposta à violência, morte e caminhos inexistentes de liberdade que inundam a cidade. Convidamos a todos aqueles e aquelas que querem replicar esta proposta de organização livre e coletiva em suas cidades para se juntar a Feira Libertária do Livro e da Publicação.
Feira Libertária do Livro e da Publicação
ferialibertariaenlace@gmail.com
Tradução > Liberto
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!