[Nos dias 17, 18, 19 e 20 de maio acontecerá a 1ª Jornada de Educação Libertária de Pelotas (RS). Atividade realizada no âmbito da Pesquisa Memória, teorias e práticas de Educação Libertária no Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Pelotas.]
A p r e s e n t a ç ã o
Quando nos referimos à Educação Libertária, imediatamente nos remetemos à uma filosofia política que a fundamenta que é o Anarquismo. O adjetivo Libertário foi dado pelos anarquista à Educação que eles se propuseram a realizar.
Para pensar/analisar o que foi e o que é a Educação Libertária é fundamental ter em conta o seu caráter plural e diversificado de ideias e práticas que se unificam em alguns princípios gerais como a Autogestão, o anti-autoritarismo, a ação direta e o apoio mútuo. A partir desses pressupostos éticos, encontraremos um conjunto de múltiplas experimentações que foram realizadas no passado e que são realizadas no presente pelos anarquistas.
Mas como seria possível um anarquista, com toda a carga negativa que este conceito teve e ainda tem, ser um educador? Se a anarquia foi e continua sendo para muitos, sinônimo de caos, baderna e rebeldia, o que uma educação feita por anarquistas ensinaria? Essas perguntas acompanharam e acompanham a Educação Libertária até hoje. E a resposta mais coerente que podemos encontrar talvez seja a de que a educação dos anarquistas tem por objetivo exatamente formar anarquistas, rebeldes, ou seja, indivíduos livres capazes de se rebelar contra tudo que ameace sua liberdade. Motivo pelo qual, em uma sociedade da ordem, esse tipo de educação necessariamente torna-se perigosa e, portanto, inaceitável. Principalmente para todos aqueles que objetivam com a educação exatamente o contrário do que buscam os anarquistas, ou seja, a formatação de indivíduos disciplinados, obedientes às leis, passivos e tementes a todo e qualquer tipo de autoridade.
O fato é que, se a palavra grega a-narkia que significa sem governo, tornou-se sinônimo de caos, baderna, desordem, rebeldia, coetâneas a ela encontraremos, ao longo da história, ideias e comportamentos antagônicos a esse determinismo, fruto do pensamento e da ação de indivíduos que não aceitavam nenhum tipo de autoridade que não fosse a sua própria.
Portanto, a Anarquia como ideia e o Anarquismo como prática, bem mais do que elementos de uma filosofia política, ou doutrina ideológica, consistem de um ethos, um comportamento, uma forma de vida, ou como diz Tomás Ibañez um movimento e, portanto, um vir a ser, um devir, algo em permanente transformação. Por isso, para se referir ao anarquismo/anarquia seja necessário sempre falar no plural. Ou redefini-lo sempre, dado que, como afirmou Émile Armand, o anarquismo nada mais é do que um procedimento para se chegar ao mais além…
Mas o que significaria esse mais além na ética/procedimento anarquista? Mais além do quê? Talvez do mundo em que se vive. Mais além do homem que se é; de como se vive no mundo. Poderíamos, portanto, encontrar nesse ethos libertário anarquista o espírito livre e o Único de Stirner? Ou o super-homem extemporâneo de que nos falava Nietzsche? Talvez algo mais simples, mas não menos significativo, que se aproxima mais da definição de Émile Armand de que o primeiro anarquista foi aquele que deliberadamente reagiu contra a opressão de um ou de alguma coletividade.
Dessa forma, ao olharmos para nossa sociedade moderna, fundamentada no autoritarismo e na opressão de uns sobre os outros, podemos dizer que é possível reconhecer alguns destes tipos humanos, os anarquistas, seja no passado ou no presente, que reagiram e reagem a essa lógica e que também como portadores de uma Ideia, encontraram na educação uma importante ferramenta para a reprodução de seu ideal de vida e de ser humano.
Inconformados, espíritos livres, revoltados, revolucionários, visionários, utópicos e rebeldes, enfim, libertários. Assim foram denominados esses tipos humanos desde a antiguidade, tais como Sócrates, Diógenes, Epicuro, passando pela Renascença com Rabelais, Erasmo de Roterdã, Montagne, chegando no Século das Luzes com Willian Goodwin, posteriormente Stirner e encontrando finalmente, na segunda metade do Século XIX, um tipógrafo rebelde francês de nome Pierre-Joseph Proudhon que tornou-se o primeiro à autodenominar-se anarquista. Proudhon, como um dos pais do pensamento anarquista moderno, positivou um conceito historicamente negativo. Deu um sentido novo a um ethos libertário, caracterização corroborada por Sebastien Faure quando definiu como anarquista todo aquele que nega a autoridade e luta contra ela. A partir daí novos rebeldes reivindicaram para si não só o título de anarquista, mas a prática de um comportamento antiautoritário, do livre agir e pensar.
É sobre a ação desses educadores de espíritos livres, essa reação ao autoritarismo no campo da educação, esse procedimento para ir mais além desses tipos humanos libertários que atuaram desde o século XIX e no Brasil da Primeira República, protagonizaram as primeiras práticas de Educação Popular que realizaremos nos dias 17, 18, 19 e 20 de maio a 1ª Jornada de Educação Libertária de Pelotas. Atividade realizada no âmbito da Pesquisa Memória, teorias e práticas de Educação Libertária no Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Pelotas.
Convidamos a todas a participar dessa Jornada de troca de saberes sobre a Educação Libertária contribuindo para resgatar essa história da contribuição dos anarquistas para a Educação bem como conhecer às práticas atuais que estão sendo realizadas nos mais diversos espaços.
Mais infos: http://jeduliber.wix.com/educacaoanarquista
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Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!