Desde há 5 anos para cá, nós, membros da CREA (Campanha de Requisição, Ajuda Mutua e Autogestão), ocupamos edifícios vazios, públicos ou privados, para ter casa, organizarmo-nos, viver segundo as nossas próprias necessidades e os nossos próprios meios. Rejeitamos ver uma cidade transformar-se de acordo com os desejos dos ricos e ver que os interesses financeiros levam a uma guerra contra os pobres. Desde o início das nossas ações que nos opomos às lógicas especulativas da miséria organizada pelos poderes estabelecidos e pelo capitalismo, porque queremos viver com dignidade; não surpreende a ideia de que sofremos repressão que aumenta de ano para ano. Sabemos, como vocês, que isso não vai parar, porque as nossas lutas ameaçam os seus interesses e privilégios. À nossa exigência de justiça social e dignidade, respondem com violência repressiva que justificam com grandes discursos políticos e de justiça burguesa. Durante todos estes anos não nos deixaram de lado: mais de 80 despejos, dezenas de processos, todo o tipo de pressões, golpes, humilhações… Assim, sentimo-nos naturalmente relacionados com outras histórias…
Da absolvição de Damien Saboudjan, o polícia que assassinou Amine Bentounsi, aos trabalhadores da Goodyear condenados a prisão por defender os seus postos de trabalho; às condições desumanas dos refugiados de Calais; ao racismo contra os habitantes dos bairros populares; ao controle administrativo de qualquer tipo de prisão pura e simples; à criminalização do movimento BSD; até ao estado de emergência…
A repressão continua e aumenta o seu trabalho a longo prazo.
Por isso, apelamos a dar forma, por nós e para nós mesmos, a uma rede de auto-defesa. Estabelecemos dez dias em Abril para criar momentos onde podemos encontrar-nos para falar sobre diferentes formas de repressão que sofremos a nível local, mas também a nível nacional e internacional.
Dez dias para nos encontrarmos, organizarmo-nos, ter um intercâmbio de análises e estratégias, construir ferramentas, criar redes para ampliar e alimentar a luta aqui (e em todas as partes) e agora, para que sejamos mais fortes perante a repressão cada vez maior.
Trata-se de construir uma frente comum mantida por gente no terreno, que se oponha à repressão no dia-a-dia, para desenvolver ferramentas adequadas. Esta iniciativa engloba-se na continuidade de encontros precedentes realizados por outros coletivos onde se participou (como a jornada de apoio aos acusados de Villiers-le-Bel, no verão passado) e é nesse estado de ânimo que queremos, hoje, tentar construir uma resposta comum à exigência do nível do problema.
Para estes dez dias foram iniciadas algumas ideias: construir ideias estes dias, em torno da luta particular e/ou da forma de repressão vivida por uns e outros. Desenvolver também temas à volta de diferentes formas de repressão, que não faltam: papéis, fronteiras, violência policial, alojamento, requisição, aborrecimentos administrativos, modo de olhar os bairros populares, violência laboral, plano de despejos, racismo, islamofobia, ciganofobia, prisões de todo o tipo, luta contra o patriarcado, sexismo, homofobia, transfobia, fascismos… Será também uma ocasião para vincular as nossas lutas locais e a nossa solidariedade com os combatentes anti-colonialistas e anti-imperialistas, encabeçadas por todos os povos em luta (Curdos, Palestinos…).
Estes dias serão também ocasião para a troca intercultural através de festas, concertos no fim-de-semana e momentos amistosos durante as jornadas: cozinha popular, atividades para crianças, intercâmbio de conhecimentos, microfone aberto… Uma parte dos lucros vai para uma caixa anti-repressão do CREA (utilizada para pagar todos os gastos inerentes ao movimento: multas, advogados e administrativos, ingressos…) e o que sobra será partilhado com as organizações/coletivos presentes e que necessitem.
A programação destes dez dias não está definida, o que quer dizer que cada coletivo e organização pode participar concretamente na planificação de novos temas e iniciar atividades segundo o modo mais adequado que encontramos: palestras, workshops, ações, projeções…
Enquanto as vossas respostas chegam, está ser estabelecido um plano, e será transmitido à medida que vá estando pronto, até ao programa definitivo no final de fevereiro. Pedimos que nos comuniquem a vossa disponibilidade o mais cedo possível para os dias de 14 a 24 de Abril.
Se planejas algo, envia por e-mail o tema, a hora, o tempo de duração estimado e uma descrição.
No que diz respeito a alojamento, encontraremos algumas camas, mas em número limitado. Tenta organizar-te com os contatos que tenhas em Toulouse. Para aqueles sem solução, envia por e-mail o dia de chegada e quantos são. Infelizmente não podemos ajudar nos gastos de cada um para que possam vir. Propomos que se organizem como povos ou por regiões para reduzir gastos de deslocações. Pode-se criar uma caixa comum, alimentada por cada um para participar nos gastos de todos, em particular os que vêm do estrangeiro.
Será escrito um texto público, mas claro, cada um está livre de difundir este apelo a qualquer organização, coletivo, associação, que possam estar interessados em participar.
Esperamos que se tenha transmitido a nosso desejo/vontade e a nossa motivação!
Tudo para todxs!
Poder ao povo!
E-mail para a organização: antirepcrea2016@riseup.net
E-mail da CREA: creatoulouse@squat.net
Facebook: Centresocialautogéré-Crea
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A lua passa pelos pinheiros
e o olhar de súbito detêm
uma outra imóvel lua.
Hokushi
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!