A todos aqueles/as que se limitam a olhar para o chão e não para as estrelas, a todos aqueles/as que se limitam a passar por aqui de braços caídos, como zombies que são, tenho a dizer-lhes que têm todo o meu desprezo.
Sempre odiei prisões. Todas as prisões. Não só as para os presos políticos. Todas as prisões. Todos os presos sociais são em última análise também políticos pois só estão dentro das prisões os pobres, os desajustados deste sistema, onde se prende quem viola a lei da propriedade privada e essas penas são maiores do que para torturas, violações e até mortes… enquanto os seus sequestradores, de arma na mão ou não, podem matar impunemente, tantas vezes, dentro e fora das cadeias…
Ontem, 25 de Abril de 2016, fui – juntamente com muitos/as daqueles/as que verdadeiramente se empenharam na luta pela preservação da memória histórica da luta contra a ditadura fascista e lembrar também todos aqueles e aquelas que passaram pelas prisões fascistas – entrar na prisão do Aljube, mais de 200 anos de torturas, mortes, de tentar aniquilar todos e todas que não rastejavam… aniquilar todos os e as que tentassem voar!
Entrar nesse centro de extermínio e olhar para dentro de uma cela… estava lá a memória de alguém, em gesso, a cela tinha menos de 2 metros de largura, sem luz… um pequeno espaço apenas para um colchão pequeno…
Muitos dos visitantes nem se terão apercebido… o meu coração quase que estalava de dor… a um canto uma mulher encostava-se a uma parede, com o neto a ampará-la… era uma antiga presa política antifascista… disse-nos que eram para sempre… as marcas de uma prisão.
Por isso, todos e todas aqueles e aquelas que se limitam a olhar para o chão e não para as estrelas têm todo o meu desprezo!
Quanto a mim, tinha 18 anos no 25 de Abril de 1974. Em 1973 tinha realizado uma ação direta, na Universidade, no Instituto Superior Técnico (I.S.T.). Eramos incontroláveis, tínhamos perdido o medo. Por isso o fecharam. Antes tínhamos realizado uma ação direta, cerca de uma centena de estudantes: destruímos as máquinas de filmar da P.I.D.E, polícia política do regime fascista, que as utilizava para nos controlar, expulsar e prender… sim! tomamos de assalto o pavilhão de Química, e destruímos à cacetada, marretada, etc. e atiramos de lá de cima cá para baixo as máquinas ENORMES E MONSTRUOSAS!
Eramos incontroláveis e tínhamos perdido o medo… meses depois “caiu” o regime fascista… o I.S.T. reabriu…
Por isso, todos e todas aqueles e aquelas que se limitam a olhar para o chão e não para as estrelas têm todo o meu desprezo!
Emília Cerqueira
agência de notícias anarquistas-ana
nuvem de mosquitos
o ar se move
vento nenhum
Alice Ruiz
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!