Pelo quinto ano consecutivo em Seattle, foi celebrado e lutado pelo que parecia ser cerca de 200 pessoas furiosas que pareciam empenhadas em se manterem nas ruas e negando ordens da polícia. Por volta das 17h30, um grupo com cerca de 30 anarquistas black block e simpatizantes chegaram em Westlake Plaza para juntarem-se a um pequeno grupo que já se aglomerava desde as festividades permitidas ocorridas mais cedo, com bandas punk, com o movimento Food Not Bombs e com mesas literárias. Faixas foram levantadas e usadas para cobrir-se contra a crescente massa crescente de câmeras e jornalistas, de modo que os manifestantes pudessem “compartilhar” materiais tais como pedras, máscaras e bastões. Uma faixa bastante grande que conduziu a marcha no dia dizia belamente “(A) SEJA LÁ EM QUEM ELES VOTEM, SOMOS INGOVERNÁVEIS (A)”, enquanto outra faixa negra simplesmente permanecia sem nada nele escrito.
Durante a hora seguinte, diferentes aglomerações continuavam a chegar em Westlake e juntavam-se ao já crescente círculo de faixas, enquanto múltiplos helicópteros pairavam acima de nós, jornalistas passeavam ao nosso redor se coçando para captar imagens suculentas para suas transmissões ao vivo e uma mobilização massiva de policiais de toda Seattle e cidades vizinhas ficavam por perto esperando. Por volta das 18h30 a paciência foi abandonada, e sem dizer uma palavra, os bastões e vigas de metal, quase em uníssono, começaram a marca a hora da partida, criando um metrônomo enquanto eram lentamente batidos no chão. Com as faixas na frente, a multidão movimentou-se ao norte de Westlake Plaza numa tentativa de alcançar o leste em Pine St., em direção ao Capitol Hill. A polícia estava claramente preparada para esse movimento da multidão, de modo que fomos encontrados no fim do quarteirão por uma grossa linha de policiais com equipamento anti-motim, apoiada por outra linha de policiais de choque em cada rua fora desse cruzamento. As bravas pessoas que carregavam as faixas empurraram a linha de policiais, pedras foram lançadas, mas nossa raiva não foi o bastante para atravessar as linhas e o spray de pimenta usado bastante e muito de perto durante todo o dia. Com certa confusão, nos viramos e nos movemos do lado norte da praça e seguimos para Northbound, na 4ª Avenida, passando o Westlake Center Starbucks, o qual recebeu pelo menos algumas janelas quebradas.
Em seguida, começaram as longas horas de marcha em meio às linhas de policiais de choque, a pé e de bicicleta, que guiavam a marcha para o bairro de Belltown, ao norte do centro comercial do distrito, e então redirecionou a marcha na direção oposta ao longo de uma rua paralela, voltando pelo centro comercial de Seattle e para dentro do bairro de SoDo, em grande parte desocupado e industrial. Na verdade, essa contenção foi o que criou a maioria dos conflitos entre os manifestantes e a polícia. A polícia rodeou a marcha com policiais de bicicleta nas calçadas de cada lado da rua, facilmente capazes de acompanharem aqueles de nós que estavam a pé e terem a palavra final sobre qual direção a marcha deveria seguir. Atrás de nós havia duas formações de policiais de bicicleta e de policiais em equipamento anti-motim, que constantemente trocavam de posição a fim de aliviar para cada um deles a tarefa de seguir a marcha. Muitas vezes, quando a marcha ia fazer uma pausa em um quarteirão, ou para tentar decidir como proceder ou em uma troca de projéteis e spray de pimenta com a polícia, uma linha de policiais com cassetetes e bikes aplicavam pressão por trás e empurravam os manifestantes para avançarem. Quanto à insana quantidade de policiais seguindo a marcha ao longo das ruas laterais em incontáveis vans e SUVs, apenas a mídia tradicional pode nos dar uma ideia da contagem real. Há informações de que Seattle contratou um terço a mais de policiais nesse ano do que no 1º de maio do ano passado, e isso se mostrou real. Se a marcha tivesse quebrado com êxito qualquer linha da polícia de choque ou chegado à frente daqueles policiais que nos seguiam pelos lados, haveria outras incontáveis vans cheias de policiais prontos para agir para enfrentarmos.
Apesar do seu absurdo número e das agressivas táticas de rua, ou talvez por causa disso, anarquistas e manifestantes responderam à altura com raiva e coragem, conseguindo ferir policiais e atacar símbolos do capitalismo ao longo do corredor do centro. Quase todas as vezes que a polícia utilizava spray de pimenta, ela se deparava com pedras voando, garrafas de vidro e foguetes. Um vídeo de uma fonte de notícias tradicional mostra policiais de bicicleta tentando empurrar manifestantes para longe com uma nuvem de spray de pimenta, apenas para se depararem com uma chuva de pedras, enquanto percebiam que sua força bruta não era o bastante para parar a raiva. Outro vídeo mostra um policial fazendo uma careta de dor enquanto corre sangue de um grande corte, necessitando de pontos imediatamente. Um policial precisou ser hospitalizado, enquanto correm relatos de outro sendo mordido por uma pessoa detida. Também correm relatos de pelo menos um coquetel molotov apagado arremessado contra a polícia. Quando a polícia jogava granadas de atordoamento, usava spray de pimenta ou inúmeras outras táticas de dispersão de multidão, manifestantes tomavam isso como uma oportunidade para contra-atacar. Como no 1º de maio do ano passado, estávamos testemunhando uma força e coragem crescentes entre aqueles que escolheram tomar as ruas, especialmente tendo em conta que a participação nesse ano foi marcadamente menor que no ano passado. No 1º de maio de 2012, um único uso de policiais de bicicleta dispersou uma marcha anticapitalista de centenas de pessoas; nesse ano, centenas de policiais não puderam nos pacificar; isto é, até marcharmos em direção ao estacionamento de Costco no distrito industrial. Nesse momento, muitos manifestantes haviam se retirado da marcha, e ao pôr do sol estava claro que as coisas haviam acabado.
Há muitas coisas a se levar em consideração ao se refletir sobre esse dia pensando no ano seguinte, que certamente verá mais conflitos nas ruas; mas talvez a localização seja o que valha mais a pena ser focado aqui. A polícia tinha bloqueado todo o distrito de Westlake e o centro de Seattle horas antes da Marcha Anti-Capitalista mesmo começar, para não mencionar que as ruas longas e retas revelaram-se extremamente favoráveis para que a polícia contivesse os protestos. Isso, somado ao grande número de câmeras e os sistemas de vigilância interligados em cada beco e vitrine de loja, tornou incrivelmente difícil para se achar locais mais escondidos para que os anarquistas montassem barricada.
Outra coisa importante de notar é o time de médicos de rua que se disponibilizavam rapidamente para mover manifestantes feridos para fora da área de contenção para segurança e tratamento médicos. A polícia estava novamente ansiosa para usar balas de borracha esse ano, bem como grande quantidade de bastões e sprays de pimenta, e a mídia mostrou pelo menos uma imagem de um repórter com ferimentos provocados pelas balas de borracha. Não pode ser atribuída muita importância à presença dos médicos de rua, na medida em que eles se colocavam voluntariamente em situações perigosas para ajudar aqueles que entravam em conflitos violentos com a polícia.
As equipes de notícia estavam demasiadamente presentes novamente nesse ano, mas com algum aumento em sua consciência tática. Cada equipe de notícia parecia ser composta de um cameraman, um repórter e muitos seguranças. Eles se posicionavam apenas nas beiradas dos black blocks, perto o bastante para capturar imagens, mas também próximo aos participantes para cuidadosamente atacar sem atingir outros em bloco com projéteis. Elas ficaram em grande parte fora do caminho dos black blocks, o que pode se explicar sua relativa segurança em nossas mãos durante a tarde. Um repórter, no entanto, viu que as costas de sua camisa foi marcada com um A num círculo em algum momento da marcha. As equipes de notícia noticiaram a maioria dos ferimentos como vindos das táticas de dispersão de multidão da polícia; em um ponto próximo ao fim da marcha, uma linha de policiais de bike que vinha seguindo a retaguarda foi vista quase dois quarteirões atrás do último dos manifestantes gritando “Recuem!” para uma linha de cameramen que pareciam estar mantendo sua própria linha, e então a polícia usou grande quantidade de spray de pimenta e mesmo algumas granadas de atordoamento para se livrar das câmeras.
Em revista, a polícia prendeu 9 pessoas e feriu tantas outras. Sabe-se que até o fim da semana todos que estavam detidos foram soltos, além de um jovem sobre o qual simplesmente não saberemos mais nada. As equipes de notícia assumiram os papéis previsíveis, mas conseguiu escapar da maioria dos ferimentos das mãos dos black blocs. O 1º de maio desse ano pareceu estar mais focado na violência contra a polícia, apesar do que os cães da mídia tentaram postular. Enquanto os supostos escritos do Seattle Weekly e do The Stranger salientaram a necessidade de protestos pacíficos e de conteúdo mais digestivo, é importante lembrar que a anarquia não se encaixa e não se encaixará em sua agenda política. Seja lá em que eles votem, somos ingovernáveis. Por uma tradição turbulenta de 1º de maio, e que essas lutas nos deem lições para continuar tomando as ruas.
Alguns anarquistas.
Fonte: https://itsgoingdown.org/may-day-2016-seattle-reportback/
Tradução > Jorge Holanda
Mais fotos:
agência de notícias anarquistas-ana
Ah! claro silêncio do campo,
marchetado de faiscantes
pigmentos de sons!
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!