Essa declaração é baseada na nossa experiência pessoal e compartilhada na atual situação da luta anarquista na Grécia, em Atenas e Exarchia. Nós não tivemos tempo de consultar e concordar com os grupos gregos mais antigos de anarquistas e radicais, sendo apenas nosso sentimento como pessoas internacionais com pouca experiência e conhecimento limitado das dinâmicas dentro de grupos militantes.
Somos um coletivo ad hoc de estrangeiros de okupas em Exarchia que acabaram de iniciar uma nova ocupação numa grande casa em Zoodorou Pigis, 119, há três semanas atrás, unidos pela necessidade de desenvolver um espaço para viver e organizar, com o desejo de espalhar anarquia contra um Estado cruel na própria entrada da Fortress Europe [nome dado ao regime anti-imigratório europeu] e seus exércitos de agentes civis e uniformizados. Essa okupa, até agora, tem sido uma impressionante aventura cheia de energias criativas e tem ajudado diversos viajantes anarcos de rua, bem como refugiados, a ter um lugar para ficar, a ser uma estaca contra a sociedade e, no processo, construir laços com novas pessoas, algo que tem se tornado quase impossível nos dias de hoje em Atenas devido não só à repressão do Estado como também à política interna dos bem conhecidos okupas e à desmotivação/desmobilização de muitos anarquistas em Exarchia.
Localizado mais longe do centro de Exarchia do que das duas estações policiais, nas vizinhanças de um bairro bastante conservador cheio de bandeiras da Grécia nas varandas das casas e com uma grande igreja próxima – apesar de alguma solidariedade crescente vinda de vários outros vizinhos –, estamos enfrentando a cada dia e noite a ameaça real de ataque pelos fascistas e/ou de despejo violento pelos porcos – ocupando um edifício de propriedade privada que foi abandonado há apenas três anos atrás (okupas gregas são comumente abertas em prédios do governo ou da igreja) –, e eles estão bem preparados para isso.
Mesmo a situação da nossa okupa, por mais envolvente que possa ser, é apenas um ângulo estreito no contexto da luta antiautoritária e do lado grego da crise dos refugiados. Está claro que essa ocupação está na linha de frente da tensa e complicada batalha contra o despotismo das fronteiras e seu mundo e um grande e antagonista “foda-se” às hordas de defensores e consumidores da “cultura grega”, para os quais não importa que essa cultura seja estagnada, racista e pálida, ou os mais novos consumistas das gerações mais recentes, trabalhando juntos e de mãos dadas reduzindo às pessoas a escravos e cães da autoridade.
A questão sobre isso é que há uma necessidade urgente de mais ocupações internacionais em torno e na própria Exarchia, ao invés de se trazer mais “amigos” para as já estabelecidas e exclusivas okupas, para que possamos permanecer abertos tanto para pessoas com uma perspectiva insurgente e subversiva quanto para aqueles vários refugiados com necessidades urgentes. Uma vez que há prédios muito mais seguros para serem ocupados em Exarchia e que nós já estamos trazendo muitas pessoas a bordo, abrir novas ocupações anarquistas é a estratégia perfeita no atual contexto, ainda que atualmente as pessoas estejam trabalhando na ajuda de novas tentativas de okupas na área.
Enquanto escrevemos isso, uma importante parte da infraestrutura anarquista tem se encontrado de alguma forma mais fechada ou menos funcional, devido a tensões internas relacionadas à inclusão de alguns aspectos das pessoas migrantes da área, e isso está acontecendo enquanto há um esforço paralelo do Estado para reprimir os elementos subversivos ao redor e na própria Exarchia, num contexto de apatia consumista e invasão yuppie de um bairro crucial centrado no anarquismo e agora conhecido mundialmente. Recentemente, nossa casa foi alvo de alguns vizinhos reacionários, câmeras de vigilância e policiais disfarçados. Mas isso se conecta diretamente com conflitos sociais num escopo mais amplo.
Na última noite de domingo (dia 8 de maio), houve essa revolta que iniciou-se com o protesto contra as inúteis leis laborais em Syntagma e terminou com o comum confronto direto com a polícia no centro de Exarchia, onde a okupa de refugiados “Ginni”, instalada na [universidade] Polytechniou, foi cercada e bloqueada por muitos porcos contra os quais os anarquistas lutaram por várias horas a fim de afastá-los. Outra ocupação próxima foi também exposta a um potencial despejo enquanto os policiais estavam dominando as ruas. Várias pessoas, incluindo alguns de nossos queridos amigos e quatro refugiados do Irã, foram pegos no pânico das ruas causado pelos policiais. Isso aconteceu depois de uma noite se manifestando do lado de fora da Polytechniou, que tinha uma intenção dúbia e era dispendioso em termos de energia e molotovs.
O destino dos refugiados aqui está entrelaçado com as (não) estratégias de resistência que escolhemos (ou que rejeitamos), e a consequência de nossas falhas significa pessoas sendo deportadas de volta para a repressão assassina do Estado da qual fugiram ao sair de seus países. Por outro lado, tem havido essa tendência à assistência humanitária, através da qual alguns supostos anarquistas vêm reproduzindo as mesmas velhas relações administrativas/paternalistas, que acabam queimando suas energias para algo distante de qualquer insurgência real.
Isso obviamente não é mais 2008, nem mesmo 2011, e nós acreditamos e sentimos que o que resta da insurgência anarquista precisa desesperadamente do esforço e contribuição crítica concreta e situada de mais camaradas e comparsas internacionais.
Se você se sente envolvido por esse chamado, você é bem-vindo para vir aqui e juntar-se à luta!
Todos os gatos [Cats] são belos!
(especialmente os gatos de rua gregos… apóie eles também!)
Miau
– okupa “Cats Hit”
Contatos:
Tradução > Jorge Holanda
agência de notícias anarquistas-ana
tarde cinza
borboleta amarela
toda luz do dia
Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!