Ontem, domingo (29/05), me encontrei por 12 horas na praça de São Pantaleão [um bairro bem perto do centro do Atenas, onde costumam dizer que há um “problema” com imigrantes].
Depois do meio-dia e após a chegada da tropa de choque para esvaziar a praça se aproximou de mim uma senhora idosa e olhando a câmera fotográfica que eu segurava em mãos me perguntou:
– Você é repórter?
– Mais ou menos, lhe digo e rio, mas não sou como os outros!
Ela ri e me olha de cima a baixo como se me pesasse.
– Você é dos bons? Me pergunta.
– Sim sou dos bons, lhe respondi.
Ela também sorri e começa a me dizer:
“Quando vinham há alguns anos esses da Aurora Dourada [partido neonazista grego] aqui para distribuir panfletos faziam mais confusão do que os panfletos que distribuíam.
Eu via tudo isso e não podia falar porque tinha medo. Batiam e roubavam. Se viam algum imigrante usando ouro, ou tendo sobre si algo de valor, enquanto espancavam roubavam tudo. Alguns comerciantes da região me disseram que pediam dinheiro dos estabelecimentos onde havia imigrantes para que não destruíssem os locais.
É,… para que saibas, eu, quando então vinham aqui os jornalistas, contava tudo, mas ninguém deles me dava importância. Um desses que aparece na televisão, quando lhe contei sobre esses da Aurora Dourada, me perguntou se tinha medo dos imigrantes e se tinha medo de circular de noite e ser roubada.
Parei de falar. Alguns me entrevistaram mas nunca vi as entrevistas nos canais. Saiba que aqui em São Pantaleão nos injustiçaram, nos rotularam como racistas. Os canais e esses da Aurora Dourada rebaixaram toda a região.
Toda Atenas tem problemas, há sujeira em todos os lugares, não há escolas e parques para as crianças,… muitos,… são muitos os problemas… Mas os canais começaram a dizer que o problema da vizinhança são os estrangeiros. Estrangeiros, minha criança, sempre tivemos na vizinhança. Tantos problemas causam os gregos quanto os que causam os estrangeiros. Aquele que rouba porque não tem o que comer não tem culpa.
Rouba porque não existem ninguém que apoie. Nem eu, nem meus pais, nem meu avô foram refugiados, mas quando vieram os apoiaram, ajudaram-nos a ficarem em pé, pois é isso que fazem os seres humanos. Ajudam um ao outro…”
Parou um pouco de falar olhando a praça que estava cheia de crianças que corriam alegres de um lado para o outro brincando de todas as brincadeiras que se pode imaginar!, e depois me perguntou:
– Vocês que colocaram a música de manhã?
– Sim, lhe respondi.
– Bravo, era muito bonito. Espero te ver novamente.
JORNALISTAS CAFETÕES
QUE LAVARAM A AURORA DOURADA TANTOS ANOS
NÃO ESQUECEMOS NÃO PERDOAMOS
TEM SUAS MÃOS MANCHADAS COM SANGUE
@kinimatini
Tradução > Miguel Sulis
agência de notícias anarquistas-ana
Num prego entortado
penduro a folhinha nova
perto da janela.
Zekan Fernandes
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!