Por SolFront
A esquerda do Azerbaidjão apela à solidariedade a Bayram Mammadov e Qiyas Ibrahimov, ativistas anarquistas que foram detidos pelas autoridades do Azerbaidjão por pintarem um grafite dizendo “Foda-se o sistema” e “Feliz dia dos escravos” no monumento ao falecido ex-presidente Heydar Aliyev, num ato de protesto contra as contínuas injustiças perpetuadas pelas elites dominantes. Isso foi feito na véspera do aniversário de Heydar Aliyev, no dia 10 de maio de 2016, que vem sendo celebrado anualmente pelo governo de uma maneira esbanjadora. Dado o culto à personalidade absoluta de Aliyev, tal ato foi severamente condenado pelo governo (sob a liderança do seu filho, Ilham Aliyev), e os ativistas foram presos no dia 10 de maio de 2016. A polícia plantou drogas com eles para evitar acusá-los no terreno do vandalismo.
O vandalismo é punível com aprisionamento de no máximo um ano (o que para o regime de Aliyev é uma punição branda demais), enquanto que as acusações de posse ilegal de heroína são puníveis em até doze anos de prisão. O fato de que a polícia “descobriu” quase três quilos de heroína em posse de cada um dos detidos no momento da prisão atesta o fato de que o caso foi fabricado (uma pessoa em sã consciência não estaria andando pela cidade com tanta heroína escondida nos bolsos, não é?). Em 12 de maio, um tribunal ordenou a detenção deles por um período de quatro meses. Entretanto, se condenados, eles enfrentarão doze anos de prisão. Bayram e Qiyas foram severamente torturados tanto antes quanto depois da audiência. O advogado deles, Elchin Sadigov, compartilhou no Facebook a declaração detalhada de Bayram sobre as torturas continuamente enfrentadas por eles no 12º Departamento de Polícia de Baku e no Centro Policial da Cidade de Baku. Segue abaixo a tradução da declaração de Bayram:
“Em 10 de maio de 2016, por volta das 14 ou 15h, três pessoas com trajes civis me forçaram a entrar num “Jeep” branco e me levaram ao 12º Departamento de Polícia. Eles me levaram para o maior chefe dos frios [forças de segurança]. Havia 7 ou 8 policiais frios em trajes civis. Eles começaram imediatamente a me dar socos, tapas e chutes. Eles estavam me perguntando por que eu tirei fotos do grafite, quem está associado a mim e por aí vai. No entanto, eu não fui capaz de responder suas questões, pois fiquei inconsciente. Eles me levaram para o Centro Policial da Cidade de Baku em um carro desconhecido. Fui espancado novamente e me foi dito para aceitar as acusações de relação com narcóticos. Eu disse a eles que eu nunca tinha visto narcóticos na minha vida e que eles não podiam me prender por tirar uma foto, e isso fez com que me batessem com ainda mais força e exigissem que eu aceitasse as acusações. Eles estavam me xingando e me insultando. Eles tiraram minhas calças e me ameaçaram dizendo que usariam o cassetete “imoralmente” em mim, e é por isso que eu tive que aceitar as denúncias. E eu tive que “confessar” um testamento que eles queriam.
Eles me levaram então ao general dos frios e me disseram que “se você colocar flores na frente da estátua e falar com a AzTV pedindo desculpas na frente da estátua, será liberado”.
Eu me recusei a fazer isso, então eles me bateram de novo. Eles me levaram ao Narimanov TDC (Centro de Detenção Temporária). Na manhã de 11 de maio, o chefe dos frios me ordenou a limpar o pátio e catar as bitucas de cigarro. Me recusei, e então ele começou a me bater com socos e tapas. Me recusei novamente, e ele ordenou que seu homem pegasse um cassetete e forçasse-o dentro de mim e então tirasse uma foto. Tive que concordar novamente. Eles me deram uma vassoura e uma pá e tiraram uma foto de mim. Esses espancamentos passaram a acontecer diariamente.
Depois de uma audiência no tribunal no dia 12 de maio, eles me levaram ao chefe dos frios do TDC. Havia duas pessoas em trajes civis, eles me disseram para soletrar alguns nomes e acusá-los de trabalharem comigo. Eles me falaram para eu por flores em frente à estátua e falar com a AzTV, e assim eles iriam me liberar até que não fosse tarde demais. Eu recusei isso, e eles ligaram para alguém dizendo “cuide dele por um instante”. Eles me levaram para um dos andares mais baixos, e eu fui então algemado enquanto eles me batiam com socos, chutes e cassetetes.
Eles ainda algemaram meus pés e taparam a minha boca para que ninguém pudesse me ouvir enquanto eles me batiam.
Eles viram que algemas e grilhões deixaram marcas de tortura em mim, então eles colaram com fitas minhas mãos e pernas nas minhas costas. Eles me puseram no chão, um deles estava segurando meu pé enquanto o outro estava dando bastonadas [batendo com o cassetete na sola do pé]. Então eles me puseram no alto, me soltando de repente, fazendo com que eu caísse muitas vezes. Depois de 4 ou 5 vezes, as fitas se esfacelaram, e dessa vez eles começaram a pressionar as pernas deles nas minhas mãos. Outro ainda estava me chicoteando nos pés. Então eles golpearam meu peito e meus joelhos com a parte de trás do cassetete. Eu estava ficando inconsciente, e então eles me colocaram no chão. Eles também estavam cansados. Eles puseram um papel branco sobre mim e disseram que se eles vissem esse papel caindo eles iam me bater novamente. Foi o que fizeram depois.
Depois de um tempo, exigiram que eu limpasse o banheiro. Quando eu me recusei a fazer isso, eles começaram a me bater cada vez mais forte, dessa vez fazendo isso enquanto me filmavam com uma câmera.
Fiquei inconsciente depois disso, eles me acordaram derramando água em mim. Eles me levaram descalço para a minha cela. Nesse momento, estou cheio de contusões nos meus braços, pernas e joelhos por causa da tortura. Estou com feridas abertas nas minhas mãos e meu punho. Ainda estou com traumatismo craniano. Estou também com feridas abertas nas minhas pernas. Minha urina está com muito sangue, minha boca me causa dor intensa enquanto como, meu peito, costelas, braços, pernas… cada parte de mim dói.”
Não é a primeira vez que autoridades exigem de ativistas no Azerbaidjão que peçam desculpas por seus atos em frente ao monumentos de Heydar Aliyev e deixem flores nele. Como mencionou James Scott, “Remorso, desculpas, pedir perdão e, de modo geral, fazer reparações simbólicas, é um elemento mais vital em quase todo processo de dominação do que a punição em si… O que todos esses atores oferecem (através das desculpas) é uma DEMONSTRAÇÃO da afirmação discursiva vinda debaixo, que é ainda mais valiosa, uma vez que contribui para a impressão de que a ordem simbólica é voluntariamente aceita pelos seus segmentos menos favorecidos.” Os Aliyevs vêm empobrecendo a nação e explorando o povo e os recursos do país para seu benefício próprio há mais de duas décadas. Enquanto isso, eles têm sido intolerantes com qualquer dissidência política, oprimindo severamente os dissidentes com seu massivo aparato de segurança.
Apelamos aos nossos camaradas na Europa e de outros lugares que se ponham em solidariedade a Bayram e Qiyas e protestem contra o aprisionamento e as torturas ilegais feitas a eles em frente às embaixadas do Azerbaidjão e aos consulados em seus países, exigindo sua libertação imediata. Por favor, espalhem também esse apelo para o maior número de pessoas possível.
Fonte: https://avtonom.org/news/v-azerbaydzhane-sudyat-anarhistov-razrisovavshih-pamyatnik-alievu
Tradução > Jorge Holanda
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agência de notícias anarquistas-ana
Voar sempre, cansa –
por isso ela corre
em passo de dança
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!