Como se já não bastasse o nível de gravidade de se ter armas e homens criados para a guerra circulando cotidianamente no meio urbano, a coisa se torna mais grave ainda quando ampliamos a visão do fenômeno para além do fato imediato dos ataques no RN [Rio Grande do Norte] e o relacionamos com os contextos nacional e internacional:
Quando lembramos que a indústria bélica é um dos negócios mais lucrativos do mundo; que o Brasil vem se consolidando como o quinto maior comprador de armas de Israel (da mesma empresa que fornece armas para o genocídio dos palestinos); que desde 2013 vêm sendo promovidas ocupações militares de áreas de favelas e periferias urbanas no Brasil; que em 2013 as “Jornadas de Junho” deixaram claro para os grupos dominantes que o papel que o governo do PT jogava de pacificação e “conciliação” de classes das organizações e movimentos populares em benefício do grande capital (desde o Governo Lula que o número de ações do MST e da CUT, p. ex., diminuiu sensivelmente) se exauriu com a eclosão de uma cultura de lutas sociais e de organizações populares autônomas (além de não vinculadas, avessas mesmo aos partidos); que o Governo Dilma editou e sancionou uma “Lei Antiterrorismo” (para um país que não tem terrorismo, só o de Estado) que abre margem para a criminalização de movimentos de protestos quando caracteriza o “terrorismo” de forma vaga e dúbia como sendo tudo o que “provoca terror generalizado na ordem social”; que o desemprego, a precarização do trabalho e a concentração de riquezas crescem a olhos vistos no mundo capitalista, inclusive, o “desenvolvido”; que o fenômeno da migração ilegal de populações de países pauperizados em direção à “opulência” da Europa central cresce exponencialmente; que as sociedades europeias cen trais – tais como as francesa e alemã – estão presenciando – e se acomodando – com um movimento de ocupação militar crescente das suas cidades; que mesmo com este movimento de ocupação militar crescente e com a instauração de leis de exceção “antiterrorismo” (sempre “provisoriamente prorrogadas” por um pouco mais de tempo) os eventos de ataques terroristas, curiosamente, não cessam de acontecer nestas sociedades “centrais” (mesmo quando os terroristas já eram conhecidos e fichados há tempos pelas polícias, tal como é o caso dos que cometeram os ataques da Sexta 13 de Novembro de 2015 em Paris, o que dá panos pra mangas para nós brasileiros pensarmos se as ocupações militares no Brasil poderão ser mais “eficientes” ); que se sabe que existem denúncias sérias (tais como as feitas por Vl adimir Putin e pelxs guerilheirxs curdos de Kobane) de que o ISIS é patrocinado pelos EUA; enfim, quando sabemos que a tendência desse sistema de merda é explodir em ondas cada vez maiores e mais intensas de revoltas sociais violentas (como tem acontecido nas últimas décadas em várias grandes cidades pelo mundo – como em Paris, p. ex. -, inclusive, no Brasil, especialmente em 2013) devido à intensificação da exploração e exaustão dos recursos humanos e naturais de populações e povos inteiros, bem como quando sabemos que a “Nova Ordem Mundial” é MUNDIAL – e portanto suas táticas e estratégias de auto perpetuação são internacionalizadas -, podemos começar a suspeitar seriamente que as ocupações militares de cidades no Brasil – tal como nos países centrais que lideram esta tendência – teriam uma ou tra finalidade para além das apresentadas pelas justificativas imediatas de “combate ao crime organizado” (e/ou ao “terrorismo”)…
É mais ou menos assim: “primeiro, eles invadem sua calçada, e você não diz nada; depois, eles invadem seu jardim, e você também não diz nada; finalmente, eles invadem sua casa, e aí já é tarde para dizer alguma coisa…”
Aliás, no caso em questão, pior do que se acostumar com as invasões militares das vidas públicas das cidades, as populações estão sendo levadas a irem mais longe, ou seja, a pedirem, elas próprias, por estas invasões (e a gostarem disto)…
Não, eu não consigo acreditar que a ocupação militar no RN se deva à insuficiência das polícias – e de suas tropas de elite, como o BOPE – para combaterem alguns ataques esparsos de grupelhos com coquetéis molotovs em bairros periféricos… Conforme eu já disse em outro lugar, se as polícias foram suficientes para reprimir manifestações legais com milhares de pessoas pelo Brasil afora, porque agora, de repente, se tornaram incompetentes diante de algumas dezenas de pessoas com, no máximo, algumas armas de porte médio (tanto quanto as de que as polícias dispõem)…?
Ou senão, o filme “Tropa de Elite” – do diretor José Padilha – terá sido uma mera obra de “propaganda enganosa” e agora teremos que colocar toda a justificativa da necessidade de chamar o Exército e os Fuzileiros para o RN na conta do mero “cagaço” das polícias e suas tropas especiais…
Sim, “As Instituições Pensam”, e levam xs que as compõem a se alinharem aos seus modos de pensar…
Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira – Doutor em Ciências Sociais.
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!