Estamos em guerra e nos toca decidir de que lado da trincheira vamos pelear. Do lado do Estado, da civilização ocidental, dos colonizadores, dos dominadores e exploradores ou do lado da resistência, do lado dos rios, das montanhas, das pedras, das onças, das florestas e dos pássaros. Do lado de todos nós que somos terra… Com cada pisada… escolhemos nossa história.
A terra está com febre… está sendo devorada, engolida e estuprada pelos que acham que são donos de tudo. Os rios estão violentamente presos nas barragens, escorregando sangue e cheirando a morte. Os povos estão sendo exterminados…
Nas cidades as pessoas tem medo. Pedem proteção a quem os governam: que os protejam dos roubos. Preocupam-se por suas coisas… Será que não sabem que coisas que se possuem acabam possuindo-os?
Choram por ver vidraças quebradas, bancos expropriados, celulares e carros. Não há choro pelas águas se secando, pelo mato sendo assassinado, nem pelos outros povos sendo massacrados…
A guerra colonial e civilizatória nunca acabou.
Faz mais de 5 séculos que o povo branco tenta monopolizar as decisões e disposições sobre estas e outras terras, sobre todas as terras, sobre todos os seres… Desde então se vive uma guerra, uma guerra entre os que assassinam a terra e os que a defendem.
Uma guerra que é desigual e escondida, mas que jamais foi abandonada. Os Munduruku sabem disso: “Nossos troféus eram as cabeças de nossos inimigos. Dificilmente perdíamos um guerreiro na batalha. Atacávamos de surpresa e em grande quantidade, assim vencíamos os nossos rivais. Hoje os dias são outros, há muito tempo que não precisamos fazer uma expedição de guerra, mas, se for necessário, o rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação Munduruku, os cortadores de cabeça.&rdquo ;
Hoje o tempo aponta à necessidade de atacar e cortar cabeças novamente.
Roubaram-nos a terra, mas além disso, nos roubaram também a guerra, tentando nos pacificar em reservas indígenas, com direitos que não são mais que instruções para virar, como eles, civilizados. A guerra tem sido roubada de todos nós, de todos os povos, usurpada só pra os brancos, ladrões sábios em artimanhas legais e burocráticas, que continuam roubando legalmente o pouco que queda do território livre da civilização exterminadora.
A civilização é legitimada e perpetuada graças ao sistema jurídico do “estado de direito”. Os juízes tem poder para oferecer nossas vidas nas mãos dos nossos inimigos, entregando territórios ancestrais à fazendeiros destruidores da terra.
O juiz Jânio Roberto dos Santos mandou a despejar os Kaiowá de Caarapó com uma ordem judicial em junho deste ano. Uma assinatura carimba o destino de estes povos. Ele, como os outros juízes é responsável pelos massacres. Os juízes, procuradores e advogados assassinam os indígenas com papéis e caneta, assinando ordens judiciais, processos de reintegração de posse, e mandados de prisão. Ainda quando ninguém se importa, sentimos a dor dos Kaiowá que estão nas prisões de Dourados, sabemos qu e somos livres com os pés na terra e não dentro de uma gaiola.
Fica claro que a lei não está dando, nem dará nenhuma resposta. Para os Guarani Kaiowá faz tempo que isso estava claro também: “fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de gen ocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas.”
As leis dos brancos só servem para os brancos, para a sua civilização, e para sua fome de tudo.
Vendo o genocídio acontecer debaixo dos nossos narizes, estamos os que não podemos ficar sem fazer nada. Não acreditamos que seja possível reformar ou melhorar um mundo divido entre quem domina e quem é dominado.
Acreditamos que a única saída para acabar com a dominação é recuperar nossas práticas guerreiras e retaliar aos assassinos dos povos da terra.
Por isso, decidimos mandar uma mensagem ao legitimador, legislador, dominador, explorador e destruidor da terra, “Doutor” juiz Jânio Roberto dos Santos, enviando-lhe ao seu lugar de trabalho e à sua casa, duas balas de calibre 9mm e duas balas de AK 47, para lembrar-lhe que cada ação tem suas repercussões.
Nossa não indiferença frente ao genocídio dos Kaiowá se manifesta através desta ação…
Para que a violência possa ser expropriada das mãos dos eternos dominadores…
Alguns amaldiçoados pela civilização
agência de notícias anarquistas-ana
O silêncio
As vozes das cigarras
penetram as rochas
Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!