Há uma diferença substancial entre dois tipos de anarquistas. As/os anarquistas do passado e as/os atuais. Não quero me referir ao que dizem a maioria, “que el-s” sim eram anarquistas ‘de verdade’, e os atuais uma tropa de pessoas que desconhecemos o anarquismo. Curiosamente muitas das pessoas que realizam dita informação pouco ou nada conhecem das ideias anarquistas e desconhecem o trabalho no resto do mundo pelos anarquistas.
Dessa diferença não falarei. A diferença se bem é temporal, estamos pensando nos anarquistas de princípios do século XX, com os de princípios do século XXI. Também tem que ver com a concepção do tempo. Neste caso os velhos acreditavam na revolução futura, por fim, olhavam o horizonte, pensavam no futuro e a partir dele transformavam seu presente: Greves, jornais, reuniões, liga de arrendatários, o internacionalismo, etc.
Muitos dos e das anarquistas atuais – não tod-s-, entre elas nos incluímos. Temos em mira o passado, olhar aqueles anarquistas do século passado, ver a era de ouro do anarcossindicalismo, suas discussões, ler textos, jornais, citar a muitos companheiros e companheiras. É um bom exercício, gostamos e seguiremos fazendo. É bem entendido que acreditamos que no passado há discussões que seguem vigentes e outras nem tanto.
Está bem olhar o futuro, pensar a revolução e como poderíamos viver em uma sociedade anárquica, sem classes, sem governos, sem religião, o apoio mútuo, a conquista do pão e tudo isso que nos diz Manuel Rojas em ‘Sombras contra el Muro’. E também está bem olhar o passado, as práticas que tinham os-as companheiras-os, os piqueniques, clubes de futebol, as greves, jornais que bem nos dão fôlego para seguir. Não nos sentimos sós, temos a eles, que se bem estão mortos fisicamente, vivem em nossas ações cotidianas.
Mas há uma diferença de tempo entre as duas que mencionei e a que vivemos atualmente. Nós não vivemos no passado nem no futuro. Entendido está que não se pode viver no passado, tampouco no futuro. O passado já passou e o futuro é incerto. Por mais “leis materiais”, “condições concretas para” ou predições outras que se façam. É incerto. Provavelmente vivamos em anarquia dentro de três mil anos mais. Talvez isso que chamam ‘revolução’, não se concretize nunca. Vivemos o presente. E o presente é tão finito que não pressentimos, posto que a ide ia de presente está na ideia de movimento constante.
O problema é como nos fazemos cargo agora dos problemas atuais que nos atormentam. E se bem disse com anterioridade, não todas nossas companheiras-os estão no passado ou futuro, é porque estão assumindo esses conflitos no hoje. Companheiros de diversos lugares da região lutam contra o extrativismo, – entre eles estão os companheiros da Revista Mingako, que recomendamos ler e reflexionar -, outros companheiros sobretudo na região de Coquimbo e La Serena tem a luta contra o IIRSA [Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana], um dos centenas de projetos desta nova “ofensiva capitalista e colonial” que afetará a todo o continente sul-americano. A luta contra o racismo e a xenofobia vai se intensificando pouco a pouco na sociedade chilena, é uma luta que se bem é abordada por alguns companheiros e companheiras, temos que fazer-nos cargo.
Por exemplo, uns companheiros do bairro de Santiago centro realizam aulas de espanhol para imigrantes, que é uma ideia que poderíamos replicar em múltiplos espaços já que o crescimento de imigrantes haitianos cresceu em 700% este último ano em comparação com anos anteriores, e claro, uma aula não basta. Necessitam-se multiplicar estas instâncias. Ou bem oficinas onde imigrantes terminem o 4 médio com exames livres para que assim tenham melhores locais de trabalho – sim, temos uma crítica à escola e à educação do Mineduc [Ministério da Educação]; sem falar de nossa crítica ao trabalho assalariado, mas se vamos aos poucos podemos melhorar ainda que seja pouco a vida de diversas pessoas e não com um tom de caridade, mas sim de solidariedade já que temos muitíssimo que aprender com os imigrantes, tanto de sua cultura, sua história, até poderíamos aprender francês com os haitianos -. O quem sabe oficinas de sindicalismo a imigrantes. Isso poderia gerar novas redes de proteção tanto para eles, em caso de que em algum momento esta xenofobia/racismo explode em violência nacionalista contra eles.
Recordemos a luta que tem os anarquistas gregos recebendo a refugiados nas casas okupa e suas lutas contra os nacional-socialistas do território.
Estudar o passado, imaginar e projetar-se ao futuro. Trabalhar e lutar o presente.
Tradução > KaliMar
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— já é dia
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!