Em 6 de novembro fará um ano que 6 jovens foram detidos/as pela manhã em suas casas pela polícia em uma operação de caráter antiterrorista denominada Operação Ice. Destes 6 jovens ainda hoje temos a um deles em prisão preventiva, sem que tenha sido julgado, sem que exista algum tipo de alarme social por sua pessoa ou seus supostos atos. Falamos de Nahuel, de quem talvez tenha ouvido falar este último ano.
A Operação Ice se soma a outras operações policiais contra o entorno político anarquista como Pandora ou Piñata. Operações policiais que não têm outro fim que causar medo entre todo o ativismo político e dar golpes de efeito midiático à opinião pública criando um fantasma perigoso que sirva para justificar todo tipo de políticas repressivas por parte de juízes, polícia e o Estado. As pessoas detidas nesta operação faziam parte do grupo Straight Edge Madrid. O movimento Straight Edge (SxE) é um movimento internacional que luta contra o consumo de drogas, muito ligado à música hardcore, mas também ao antifascismo e nos últimos anos às lutas pela liberação animal. Essas eram as coordenadas nas quais se movia SxE-Madrid. Sua atividade cotidiana consistia na organização de atividades lúdicas nas quais as drogas ou o consumo de produtos de origem animal brilhassem por sua ausência, criando assim espaços de socialização mais livres, sãos e festivos. Ademais participavam em distintas lutas sociais, entre as quais se destacam a participação no movimento pela moradia, enfrentando-se de forma geral aos desalojos. E resulta que para a Audiência Nacional, baseando-se no enésimo informe policial da Brigada de Informação, SxE constitui um grupo terrorista. As razões? Meras suposições por pichações nas ruas a partir das quais se começa a fazer uma perseguição específica e a interceptar suas conversas telefônicas.
Prisão preventiva
Após a detenção, Nahuel passa diretamente a prisão sob regime FIES 3BA, um regime especial dentro da prisão que se caracteriza por um maior controle e vigilância que geralmente se combina com o isolamento da pessoa presa, como sucedeu no caso de Nahuel que esteve meses em isolamento, ainda que atualmente não esteja. A isto há que somar que em um só ano Nahuel tenha passado por até 5 cárceres diferentes: Soto do Real, Navalcarnero, Estremera, Morón de la Frontera (Sevilla) e Aranjuez. Desde o cárcere lhe colocaram todas as dificuldades possíveis. Ao isolamento há que somar a aleatória interrupção de comunicações com o exterior ou negar-lhe a assistência médica quando o solicitava. O fato de levá-lo longe de Madrid, seu lugar de residência, até Sevilha constitui uma das formas de maltrato em prisões mais severas, pois é um castigo para sua família e seres queridos que devem realizar viagens de centenas de quilômetros para poder visitá-lo. No entanto um dos castigos mais significativos estiveram na questão da alimentação. Nahuel é vegano e se a alimentação na prisão já é de por si insuficiente, se encarregaram de fazê-la mais difícil negando-lhe uma alimentação de acordo com a sua dieta. Ainda assim, uma campanha solidária conseguiu que desde 3 de fevereiro o Tribunal de Vigilância Penitenciária aderisse a dar-lhe uma alimenta& ccedil;ão vegana. O problema é que com cada translado de prisão a história se repete e se deixa de respeitar o mandato.
Racismo institucional
Legalmente uma pessoa não pode estar mais de 24 meses, prorrogáveis até os 48, em prisão preventiva a espera de julgamento. Ademais, as razões para estar de forma preventiva são o alarme social ou o risco de fuga. Ambos são termos bastante ambíguos, o que dá lugar a todo tipo de abusos. Por alarme social podemos entender acontecimentos que criam comoção pública, desde assassinatos, violações ou atentados de grandes proporções. No caso do risco de fuga geralmente leva em conta o vínculo da pessoa presa com o lugar da detenção. Quer diz er, se considera que uma pessoa tem vínculo em um lugar se nele habitam seus familiares ou amigos, se está há anos vivendo no mesmo entorno, se trabalha ou estuda. Nahuel cumpre com todos os requisitos, então, onde está o problema? Pois resulta que Nahuel é de origem peruana, ainda que esteja vivendo em Madrid há quase 10 anos. A este fato se agarram as autoridades para mantê-lo preso, o que reflete um claro traço racista por sua parte. Ademais, desde os meios de comunicação se assegurou que era chileno, em uma tentativa de vinculá-lo com a atividade anarquista de dito país.
Manipulação e medo
O de Nahuel não é um caso isolado, mas provavelmente seja um dos casos mais injustos dos que nos temos enfrentado nos últimos tempos. Os corpos policiais especializados em questões políticas e antiterroristas devem justificar sua existência de alguma forma após o fim da luta armada do ETA. Desta forma, desde os escritórios da Brigada de Informação, se gestam alguns dos informes mais absurdos que possamos ver. Um grupo antidrogas organização terrorista? Que será o seguinte? Estes corpos policiais estão realizando uma fuga para frente, em vista de que seu trabalho perde s entido, criando assim fantasmas como o recorrente “anarquismo insurrecionalista internacional”, que ao que parece é um grupo que tem umas poucas centenas, desde há anos e que se dedicam a viajar de cidade em cidade por todo o mundo armando distúrbios. Um argumento pobre e absurdo que os meios de comunicação se encarregam de difundir para gerar sensação de medo e periculosidade na população para que assim todas as medidas e leis repressivas consigam aceitação.
Desde estas linhas animamos a participar em todas as ações em solidariedade com a causa de Nahuel, desde escrever-lhe cartas à prisão a acudir aos atos por sua causa. O mais importante é romper com o isolamento que tratam de inculcar por meio da reclusão na prisão. Porque Nahuel não está só se todos/as estamos com ele. Liberdade e absolvição para os/as companheiros/as de Straight Edge Madrid.
Direção atual (23/10/16): Juan Manuel Bustamante Vergara. Carretera nacional 400, Madrid-Toledo km.28 CP 28300. Centro Penitenciário Madrid VI, Aranjuez (Madrid), Espanha.
Fonte: http://www.todoporhacer.org/nahuel-ano-secuestrado
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!