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[Venezuela] Entrevista à Biblioteca Móvel “La Soledad” por seus 3 anos na luta

By A.N.A. on 14 de Novembro de 2016

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Parecem mais anos, e é que com os compas de “La Soledad” compartilhamos muito, os vemos em tantas atividades, e é que desde esse fenomenal desenho, aquele indivíduo alçando uma bandeira Negra, imaginar o que sentem aquelas pessoas, dirigindo por alguma estrada do país, e ver passar este verdadeiro sopro de insurreição, em um mundo que parece esquecer a leitura, que desterrou as bibliotecas de sua vida, lhes irrompe “LA SOLEDAD”, dizendo anima-te a ler, aproxima-te, informe-se, DESPERTA.

O anticapitão Horácio, responsável direto de “La Soledad”, não é mais que outra capa e máscara de um companheiro que a modernidade chamaria polifacético, e é que Daniel é todo um mago da Anarquia, de distribuir folhetos, aparece e desaparece para vê-lo tomar uma guitarra e converter-se em “Viento Sin Fronteras”, com punhado de canções que te levam e trazem em um mar de emoções, o vim os logo no S.E.V.I.N. (Sempre Esperamos Visitas Novas) que com mais compas montavam um ponto de informação Anarquista no centro de Caracas, e assim entre cada abracadabra estava Daniel com outra genial ideia de difusão e ativismo.

Pergunta > Saudações Daniel, como surge a ideia de criar uma biblioteca móvel e por quê chamá-la “La Soledad”?

Resposta < (Risos) Agradeço por essa introdução compas. Muito agradecido. Pois a ideia surge de tratar de ampliar essa emenda que começou em Caracas. Recordo que apenas tínhamos um pano negro no chão e que sempre pensava no útil que poderia ser um veículo amplo e que chamasse a atenção para transportar livros, sons, mesas, cadeiras, comida. A ideia era e é montar uma Zona Temporariamente Autônoma itinerante. E se chama “La Soledad” por i sso que disse Albert Camus: Um dos acontecimentos mais relevantes do século foi a regressão do socialismo de liberdade em pós do socialismo cesáreo e militar, desde esse momento uma esperança se foi para sempre do mundo, uma “Soledad” começou para cada homem livre.

Pergunta > Quais foram suas primeiras atividades?

Resposta < Bom, pois quando regressei a Venezuela por volta de 2012 comecei com Oscar a serigrafar camisetas e a vendê-las no posto de Belas Artes como vocês mencionaram. Também participei na organização das segundas jornadas anarcopunk em Mérida.

Pergunta > Sabemos o problema que existe com a escassez de livros anarquistas no país, também o custoso das reposições [peças do automóvel]. Como se mantém com esta grande problemática?

Resposta < Bom, compas, a situação é desesperançada como em quase qualquer área nestes momentos no país. Livros anarquistas não temos a venda. Reproduzi-los é inviável pelo preço final. Isso fazendo-o sem tirar benefícios. Segue sendo muito complexo. Com as reposições, pois bem, há sim que fazer magia. (risos) Um abracadabra, um torno, adaptações, muita chave e muita criatividade resolveram as complicações de mecânica.

Pergunta > Através destes anos podem oferecer uma espécie de “saldo” ou resultado que possam comentar, com base na receptividade das pessoas com “La Soledad”?

Resposta < Penso que esse saldo fica em todas as pessoas com que pudemos organizar alguma atividade ou que simplesmente se aproximou para nos conhecer e ver de perto do que se tratava. Está em nossa página de FB com as imagens que falam por si sós. Há muita receptividade, muitas pessoas que escrevem perguntando quando vamos a tal ou qual lugar. Oxalá pudéssemos viver nos deslocando, compas! A eles lhes dizemos que sempre estamos fazendo planos. Oxalá se cumpram.

Pergunta > Daniel, apesar que o anarquismo no país é muito “escasso” nós vemos, e “La Soledad” é prova disso, que as pequenas iniciativas e grupos que há fazem um ativismo sincero e acertado levando ideias de autonomia às pessoas. Que necessitamos para avançar para uma organização mais estável, que permita a decolagem de nossas ideias?

Resposta < Compas, eu penso que um exemplo do que necessitamos e de como conseguimos materializá-lo com nossas atividades é a maneira como aderimos ao incrível e belíssimo grupo da FLIA Mérida (Feira do Livro Independente e Autogestionário de Mérida). Encontramos um coletivo com muitas coisas em comum e sem dissolver-nos como projeto conseguimos impulsionar as coisas em que coincidíamos.

Pergunta > Nesta falsa polarização, existem grupos autônomos? Realizaram atividades com eles? Por exemplo, as feiras de livros independentes?

Resposta < Sim, claro. Como dizia antes. Eles são um grupo muito diverso. Coincidimos em muitas coisas, como a não subvenção nas atividades e na autonomia de cada participante dentro do grupo. Decisões assembleárias por consenso ou acordos mútuos. O grupo é formado por editoras de fanzines, difusores de atividades contraculturais e músicos independentes, que veem nesses projetos uma alternativa à polarização já que suas necessidades nesses t emas são as mesmas e ao estar desvinculadas das opções que oferece o panorama político se encontram brigando por causas comuns.

Pergunta > Que pensam do chavismo e da MUD [Mesa de Unidade Democrática]? Sofreram alguma repressão, ataque, destes grupos?

Resposta < Bom, algumas vezes. Mais que repressão seria exclusão, sobretudo de parte de grupos oficialistas que são os que controlam espaços públicos. De resto creio que não vale a pena falar aqui disso. Muita gente que faz parte do que se identifica com a oposição se aproxima e na realidade enrrugam um pouco a cara quando veem nossa literatura a bordo. Mas ambos seguidores das “toldas” políticas na verdade veem co m boa cara o que fazemos no projeto. Penso que fizemos um bom trabalho com tudo isso. Fazer mais, organizar mais e melhor. Em vez de desenhar discursos, mostramos e executamos ações culturais de rua e espaços plurais participativos.

Pergunta > Como veem o panorama político, quando parece evidente que a popularidade eleitoral do chavismo se foi a pique? Acredita que o descontentamento popular se abra a ideias radicais ou conservadoras?

Resposta < O panorama político é obscuro. Não tem apoio popular portanto só lhes fica construir cortina de ferro, aumentar a repressão, violentar a constituição, enviar grupos de civis armados a amedrontar a dissidência. Eu penso que este é um governo neofascista. E se, o desmoronamento do chavismo incluirá a grupos radicais de direita e de esquerda… Não se sabe, mas o que se sabe é que vivemos dias de violência armada. Granadas nas ruas, ar mas longas e de guerra que circulam livremente pelo país, zonas do crime organizado… Tudo patrocinado por um governo repleto de militares. O pior começou faz pouco. Cada vez falta menos para que termine sua mini guerra civil. Não entremos em desespero.

Pergunta > Que planos têm “La Soledad” para o futuro?

Resposta < Pois os de sempre. O mesmo que foi visto desde que começamos, mas com a experiência que nos concede o tempo e o entusiasmo que nos transmitem nossos compas. Resistir seria uma boa descrição de nossos planos.

Pergunta > Bom, Daniel, muito agradecido pela entrevista. Uma mensagem final a nossos leitores? Pois muito agradecido a todos/as.

Resposta < Na realidade são tempos turvos, mas estou seguro que cada dia que passa é um passo até a claridade. Que os espero em Mérida ou onde seja. Que em qualquer esquina cabe uma solidão como essa que falávamos, e que ainda que sejamos poucos avançamos e contribuímos com tudo o que passa e deixa de passar.

Com abraços…

O Anticapitão Horácio.

Fonte: http://gargantas-libertarias.blogspot.com.br/2016/10/entrevista-la-biblioteca-movil-la.html

Tradução > Sol de Abril

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Rosa Clement

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