A seguir, algumas notas que temos recolhido dos atos contra o feminicídio, realizados simultaneamente na quarta-feira, 19 de outubro, nas cidades de Cochabamba e La Paz. Estamos nas ruas, em solidariedade a muitas mulheres que são assassinadas todos os dias em diferentes locais do mundo, como resultado do sistema patriarcal em que vivemos.
Plantão contra o feminicídio, cidade de Cochabamba
Na quarta passada, em Cochabamba, várias mulheres auto-organizadas coordenaram um plantão e marcha para quebrar o silêncio ante a violência patriarcal e o aumento de feminicídios em Cochabamba e em toda a América Latina. A organização dessa ação foi feita pretendendo se juntar à paralisação nacional de mulheres que se iniciou na Argentina, depois do feminicídio brutal de Lucía Perez.
Em Cochabamba, o encontro foi às 17h, na praça 14 de Setembro O ato começou com um pequeno comício para dar início a marcha, onde se falou desde a dor da perda de sua filha. A marcha se dirigiu primeiro à Corte de Justiça, onde colocaram bolsas com sangue para mostrar como a justiça é feita de homens para mulheres, deixando sem solução os casos de violência extrema que nós mulheres vivemos. Depois, a marcha se dirigiu à polícia, instituição corrupta e com membros violadores, para denunciar o quão nefasta é a instituição. Após isso, a marcha seguiu à sede do Gove rno, onde, a partir de cânticos, grafites e sangue falso denunciaram como as instituições estatais não fazem absolutamente nada além de aplaudir de dentro de seus escritórios. Diante da grande quantidade de mulheres que trouxeram a tona suas raivas, a polícia jogou gás de pimenta em várias delas, mostrando, mais uma vez, que quem deveria nos proteger são os que nos violentam. isto aumentou o desconforto das mulheres, que ficaram por mais de uma hora no local após o incidente.
No melhor momento da marcha havia aproximadamente 300 pessoas. Em sua maioria pessoas independentes e autônomas, por isso a intenção de apropriação da Assembleia Legislativa e Comitê Cívico, entre outras mulheres cúmplices de seu partido patriarcal, não teve maior repercussão na marcha. Obviamente, os meios de comunicação tentaram distorcer isso entrevistando essas mulheres que não tinham nada a ver com a organização da atividade.
Plantão contra o feminicídio, cidade de La Paz
Centenas de pessoas autoconvocadas participaram do ato de quarta, 19 de outubro. A concentração ocorreu na rua Comércio perto do palácio do governo, logo o protesto se dirigiu a vários pontos, como ao IDIF (Instituto de Investigação Forense), à corte de “Justiça” e às portas do Ministério Público. Seguiu seu trajeto até o Prado, Praça do Estudante, se deteve nas portas do Ministério da Justiça e, finalmente, terminou nos trilhos de subida do Prado. Havia uma grande diversidade de grupos e indivíduos, e alguns homens; de maneira hipócrita e desagradável, havia gente oportunista da oposição ou do “processo de mudança” que possuem algum cargo hierárquico no Poder. Apesar dessa situação, saímos a luta contra tudo que nos oprime, na qual se identifica claramente o Estado como promotor do machismo, através de suas políticas e normas.
A luta contra todas as formas de dominação não precisa de vanguardas ou de protagonismos, necessita que enfrentemos o que provoca uma sociedade de desigualdade, patriarcal e autoritária. Por outro lado, essa aclamada “inclusão” das mulheres pregada pelo Estado, no local de trabalho ou na ocupação de grandes cargos, continua provocando exclusão dos pobres e um sistema reforçado a nível vertical com cúpulas poderosas em desnível para com os mais necessitados. O Poder tenta nos enganar astutamente com essas falsas inclusões.
A prisão não é a solução, porque o crime já causou perda e dores, somado a isso temos a cumplicidade do Poder protegendo seus adeptos, como policiais e outras autoridades, que em certas ocasiões, os familiares das mulheres assassinadas e/ou violentadas aceitam quantias em dinheiro oferecidas para que não denunciem, persuadidos pelas condições de pobreza em que vivem ou por que estão decepcionados com a “justiça”. Nas prisões, tanto os estupradores como os feminicidas ricos recebem proteção da polícia e autoridades, inclusive de alguns presos. Porém, outros presos solidários continuam com o código de ética de repúdio à feminicidas, ped&oacut e;filos e estupradores.
Podemos evitar que os feminicídios existam por meio da destruição do Estado, sua formação nunca deixará de ser patriarcal. Mas podemos construir uma comunidade com respeito mútuo e sem machismo, que nos permita viver de maneira horizontal, em livre associação e sem hierarquias, em harmonia com o ambiente e a Terra.
Não à vitimização. Sim ao confronto com o Poder!
CADA FEMINICÍDIO É UM CRIME DE ESTADO
Porque o Estado plurinacional é machista, homofóbico e patriarcal como qualquer outro.
Porque sua justiça atua protegendo os burgueses e poderosos.
Porque juízes e promotores encobrem quem os compram com generosas quantias em dinheiro.
Porque os policiais assassinos e estupradores são encobertos.
Porque os pobres são relegados por sua (in)justiça, não confiamos nem acreditamos em nenhum sistema judicial, porque este atua em conjunto com o Poder.
Porque o Estado, por meio de suas políticas designa papéis sociais desde o nascimento, excluindo com maior notoriedade as mulheres.
Porque é homofóbico e misógino.
Porque a educação está focada no machismo, nos preconceitos religiosos e absurdamente moralistas e no Chacha Warmi (sistema binário – excluindo as diversidades sexuais e quem não se identifica com nenhum gênero). Somado a isso o “viver bem” (que traz benefícios apenas para as novas burguesias Aymaras e Quechuas) onde mulheres e homens precisam seguir vivendo como escravos para que os poderosos continuem vivendo com todos seus luxos e desejos.
CONTRA TODA AUTORIDADE E FORMA DE DOMINAÇÃO
Fonte: http://indomita.info/2016/10/24/103/
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