Para aqueles que estão surpresos com os resultados desse espetáculo tumultuado, bem-vindos à “América” que sempre conhecemos. Essa é a ofuscante “Grandeza da América” que hoje foi fortalecida pela direita nacionalista islamofóbica e anti-imigrantes.
Não é surpresa que um demagogo misógino fascista e elitista possa ser nomeado como líder de um sistema político, econômico e social construído sobre o capitalismo, o colonialismo, a supremacia branca, o hétero-patriarcado, a escravidão e o genocídio. Não se trata de nada excepcional. É o que este país sempre representou. Afinal, esta é uma terra roubada construída com vidas roubadas.
Aquela pequena segurança sentida como recompensa por se ser branco ou aquela de estar alguns poucos degraus acima na hierarquia sócio-econômica é um véu que causa um degrau sutil de separação que permite a que as pessoas deslizem – ou dirijam em velocidade constante – passando direto por aqueles reduzidos números de sofridos que encaramos durante o regime neoliberal anterior.
Os últimos 8 anos não foram um alívio para os imigrantes. A administração Obama é responsável por deportar mais pessoas que qualquer outro regime na história dos EUA. Entre 2009 e 2015, Obama deportou à força mais de 2,5 milhões de pessoas, o que perfaz uma soma maior do que o total de deportações de todos os presidentes americanos do século 20. As comunidades Tohono O’odham foram fortemente militarizadas e bisseccionadas pela fronteira colonial EUA/México. Vilas inteiras foram deslocadas e locais sagrados foram profanados. Isto será combinado à “Muralha de fronteira” que Trump ameaça erguer. Não foi nenhum descanso de 8 anos para aqueles que foram bombardeados e atacados por drones que, no Afeganistão, significou o assassinato de vidas inocentes 90% das vezes.
Vamos somar a isso as encarcerações e assassinatos impunes por parte da polícia das vidas de negros e pardos. Oito anos não mudaram a violência racial do Estado, enfurecida por proclamações obscenas de uma sociedade “pós-racial” em face do fato de que os negros têm sido alvejados pela polícia 2,5 mais vezes do que os brancos.
Além disso, soma-se que os povos indígenas são “o grupo racial com maior probabilidade de ser morto pela polícia” nos EUA, e acrescentando as taxas desproporcionais que mulheres indígenas sofrem ataques sexuais e assassinatos, o quadro se torna ainda mais claro de o quanto esses problemas são sistêmicos.
Embora o regime anterior reconhecesse a ameaça do aquecimento global, reduzindo as emissões de carbono cortando carvão, enquanto declarava aberta a temporada livre para o Fracking e permitindo à indústria nuclear de continuar o ataque tóxico ao nosso futuro não constituíram atos de “sustentabilidade”. O objetivo do império dos EUA é sustentar domínio político e econômico, seu objetivo sempre foi movido por sua guerra ecocida contra a Mãe Terra, também conhecida como colonialismo de recursos. Até mesmo a agenda filantrópica inócua da indústria teria nos levado a uma transiç&ati lde;o de um capitalismo branco para aquele de tipo verde. Mas, nesta guerra contra a Mãe Terra, será que podemos arriscar táticas de reciclagem ineficaz na esperança de que ações simbólicas mudarão as mentes dos nossos opressores? Especialmente quando Trump declarou que a mudança do clima é um embuste?
Mas são dois lados da mesma moeda. As ações e atitudes fascistas, islamofóbicas, anti-imigrantes, antinegros, anti-indígenas e misóginas representam um sistema, não apenas uma pessoa ou partido.
Existe um discurso sobre o mal menor e uma crítica que diz haver alguma esperança nisso, mas esses temas foram usados para nos espancar a carne, de modo que nossas peles já não mais cicatrizam. É como se os nossos corpos fossem a terra profanada com cada ciclo de nosso abusador. No caso da política eleitoreira, o ciclo não é ameaçado, nem tampouco o abusador. A única preocupação é o quanto o véu cobre as feridas. A questão não é ver o abuso, é ver o efeito que move a zona de conforto para quase perturbadora. Esse processo é altamente objetificante, e muitos de nós acabam fazendo o papel, ainda que ser objetificado seja preocupante, a alternativa é tornar-se invisível, desconhecido e não existente. Mas as lutas de resistência definham qu ando são alimentadas apenas com a dieta do reconhecimento. Isso é algo que a contínua luta global contra o fascismo sabe muito bem.
Movimentos recentes como o Black Lives Matter (Vidas de Negros Importam) – particularmente os levantes como aqueles de Baltimore e Milwaukee) e as lutas por terras e águas sagradas como a resistência NoDAPL (Acampamento do Guerreiro Vermelho, Red Warrior Camp), tocaram alguns nervos da dominação e exploração colonial dos EUA.
Desde lutar por nossas vidas contra o terrorismo da polícia até o pessoal LGBTQI2-S devolvendo os ataques de fascistas, desde defender as terras e águas sagradas dos desenvolvimentos de infraestrutura corporativos facilitados pela violência do Estado e o colonialismo de recursos, esses momentos e movimentos são resultado de uma resistência contínua que tem sido mantida por centenas de anos nestas terras.
Paramos de falar em esperança quando precisamos nos concentrar na sobrevivência.
Enquanto os reformistas estão mais interessados em prolongar a agonia, começamos a nos preparar para compreender que o sofrimento vai piorar. Não para desistir de nosso poder, mas como afirmação de nossa capacidade de melhorar em nossos próprios termos. Começamos a preparar nossos espíritos, mentes e corpos para essa compreensão. Nós nos reconectamos com a compreensão de que nunca tivemos outra escolha a não ser lutar. Que a colonização sempre foi uma guerra.
Que somos sobreviventes de sua brutalidade. Que nunca paramos de lutar.
Compreendemos a diferença entre poder sobre e poder com. Que há mais poder no poder do povo do que na escolha de qual sistema vai governá-lo. Que nenhum político nunca poderá representar os modos de vida indígena no contexto do sistema político estabelecido pelo colonialismo. Que a política representativa/eleitoreira é uma oposição à libertação da opressão colonial. Que as lutas de nossos ancestrais, que defenderam a Mãe Terra e os seus seres com orações e armas nas mãos, são a mesma luta que levamos adiante hoje.
Trump pesou sobre a fragilidade do colonialismo de assentamento durante esse espetáculo e venceu. Mas é essa mesma fragilidade que simultaneamente mostra o quanto aqueles que historicamente mais se beneficiaram desse sistema estão desesperados e amedrontados.
Lorenzo Komboa Ervin afirmou, “Precisamos tornar impossível ao Trump governar o país, e precisamos colocar o poder nas mãos das pessoas nas ruas.”
Abrace o seu papel nessas lutas e organize-se. Somos ingovernáveis e precisamos tornar impossível para esse sistema nos governar sobre terra roubada e ocupada.
Fonte: http://www.indigenousaction.org/anti-colonial-anti-fascist-action/
Tradução > G Montenegro
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