Foi lançado recentemente, pela editora Tusquets, “33 Revoluções e cinco contos”, do anarquista Canek Sánchez Guevara. A obra reúne uma novela e cinco contos inéditos deixados por Canek, morto em 2015 após uma cirurgia no coração.
“Canek Sánchez Guevara foi um escritor brilhante e apaixonado que morreu jovem demais. Este inapagável relato póstumo é uma recusa visceral ao patrimônio político que lhe coube por ser o neto de Che, e também um grito de socorro.” Jon Lee Anderson – jornalista e escritor.
Trecho do livro:
“O disco riscado no trabalho. O escritório, a foto do governante, a escrivaninha metálica, a cadeira de suas hemorroidas, a máquina de escrever velha e gorda, a caneta de um lado, os papéis amarelados, os carimbos, o telefone. O administrador aparece. Ondeia a papelada, alisa com um gesto a guayabera branca e limpa a garganta antes de falar. Quando recebe ordens, sua voz lembra uma flauta; quando dá ordens, lembra um trombone. Como agora. Ao sair do escritório, deixa o eco da batida da porta, e o outro fica, enfim, sozinho em sua sala, mais negro, mais magro e mais nervoso do que de costume. Um pouco mais subordinado também.
Toca o telefone, e o negro magro e nervoso atende sem muita firmeza. Só ouve um ruído por trás dos fios – muito atrás, como um disco riscado – e desliga. Vai em direção à janela e acende um cigarro Popular. A vida para diante de seus olhos e não o assombra. Pensa que no fundo sempre foi assim, um repouso disfarçado de dynamis. Dá uma olhada no relógio automático e soviético: dez da manhã e já ; não suporta o trabalho. É claro que nunca amou o trabalho, mas agora está farto de verdade (em seguida, entre parênteses, se pergunta quando começou esse “agora”). Tarde após tarde chega a seu apartamento solitário, e manhã após manhã o abandona em solidão. Os vizinhos? Um bando de discos riscados despojados de interesse. O comitê? Basta cumprir em silêncio, emendar algum “viva!”, e todos ficam em paz.
Na realidade, ninguém se importa com ninguém.”
33 Revoluções e cinco contos
Páginas: 128
Preço: R$ 31,90
Editora: Tusquets
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Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!