Por Rodolfo Montes de Oca
Crônicas Negras é uma série de entrevistas realizadas com vários anarquistas que estão na Venezuela, superando as vicissitudes de viver no socialismo do século XXI, como um relato dos tempos que estamos atravessando. Homens e mulheres que desde o cotidiano tentam resistir a bota e as precariedades as quais estamos submetidos.
Nesta edição, temos a presença de Glauber González, companheiro libertário do Oriente e trovador do projeto musical “Pense e Reaja” que estará falando sobre como é ser papai na Venezuela de hoje.
Pergunta > Um trovador anarquista na Venezuela… Como é isso de ser libertário no socialismo do século XXI?
Resposta < É complicado…
Pergunta > Eu sei que você é papai… Como você está lidando com a escassez e a criança na Venezuela?
Resposta < É muito difícil, porque se você tem o dinheiro para fraldas, medicamentos ou leite não consegue comprar o produto, e se você conseguir custa 10 vezes mais do que o preço normal.
Pergunta > Você enfrenta fila ou adquire produtos em grandes quantidades? De que lado da força estás?
Resposta < Às vezes eu faço fila, às vezes colaboro com o “bachaqueo” [atividade relacionada à circulação, venda e estocagem de produtos subsidiados], e às vezes procuro outras soluções. Sou contra o governo e é tão deprimente, frustrante e doentio o que fizeram ao venezuelano, nós estamos fudidos psicologicamente e economicamente.
Pergunta > Chega água limpa na sua casa?
Resposta < Eu vivi em vários lugares e onde eu vivo atualmente às vezes chega turva, às vezes suja ou com cheiro estranho.
Pergunta > Sofres com os apagões constantes? O que fazem para evitar que a comida não se estrague?
Resposta < Sim, “tipo normal”, se compra pouca comida para evitar a decomposição.
Pergunta > Você não pensou em emigrar?
Sim, porém não tive a oportunidade.
Pergunta > Você já foi vítima das gangues? Perto de onde você mora houve casos de linchamento?
Resposta < Sim, foi na estrada, nos roubaram os pneus e levaram tudo o que havia no carro; quanto a linchamento, as pessoas se tem a oportunidade de fuder a quem rouba o faz, já vi dois casos.
Pergunta > Como é a atitude da polícia ou da Guarda Nacional na sua comunidade?
Resposta < Além de sentir repugnância com esses fantoches, como de costume, fazem extorsão, lascam com o mais fraco, o “matraqueo” [disparos de armas] é constante.
Pergunta > Como você rompe com o tédio? Preso, sem dinheiro e vivendo um socialismo que não te representa?
Resposta < Curto a minha filha.
Pergunta > Você acha que as pessoas estão obstinadas com esta situação? As pessoas estão se enchendo?
Resposta < Não, não acredito. Como disse antes, este governo fudeu psicologicamente com o venezuelano. Voltamos a ser conformistas, só reclamando nas filas, ou quando se queima pneus… Há insatisfação, mas são necessários outros tipos de ações.
Pergunta > Qual deve ser a atitude dos anarquistas na Venezuela nesta conjuntura?
Resposta < Simples, ação direta e organizada.
Pergunta > Para fechar esta breve entrevista, gostaria de acrescentar algo?
Resposta < Obrigado por me levar em conta para a entrevista, apesar de que ando em um stand by com o “Pense e Reaja”. Esperemos nos encontrar novamente em breve em outro encontro anarquista e cantar novas músicas que nos façam pensar e reagir.
Fonte: http://rodolfomontesdeoca.contrapoder.org.ve/2016/11/cronicas-negras-nos-hemos-vueltos.html
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!