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[França] Sobre a morte de Fidel Castro, escrito por um antifascista cubano

By A.N.A. on 16 de Dezembro de 2016

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28 de novembro de 2016

Um dos meus amigos me pediu hoje para que escrevesse um post curto sobre o que penso de Castro e o que representava para Cuba. Ela estava cansada de ver mensagens em seu FB de pessoas chorando sua morte. Conhecendo-a, suspeito que a maioria de seus amigos é pessoas de esquerda, assim como os meus. E sim, também recebi mensagens desesperadas sobre a forma como Castro foi bom para Cuba e para os cubanos (frequentemente com uma prosa paternalista).

Ironicamente, todas essas amigas que lamentavam o fim de seu ídolo, teriam provavelmente terminado em uma prisão em Cuba. Um país onde os sindicatos independentes e partidos políticos estão proibidos, onde os salários são mais uma formalidade do que uma realidade, onde existem classes sociais e onde as diferenças aumentam a cada dia, onde o sexismo é fomentado pela música apadrinhada pelo Estado com a finalidade de desviar os jovens dos problemas verdadeiros, onde os negros são mais controlados pela polícia que os brancos, onde os turistas que não conseguem um esposo/esposa na Europa compram um(a) companheiro(a) exótico do outro lado do oceano… não &e acute; um país comunista. É uma forma altamente concentrada de capitalismo. A mesma apta (e agora aberta) aos negócios dos EUA, depois de tantos anos e de anti-imperialistas caídos.

Não, a saúde pública e a educação não são de boa qualidade. É simplesmente gratuita. Elas foram de boa qualidade, mas depois de anos sem pagar os professores e os médicos, e com a obsessão de desenvolver o turismo, destruíram os dois maiores sucessos de Cuba. De Cuba, não de Castro.

Como um antigo garoto asmático, eu não esquecerei jamais das enfermeiras que se ocuparam de mim na pequena clínica, no meio da noite, em Havana. Elas jamais pediram dinheiro, nem sequer meu nome ou endereço. Elas simplesmente me ofereceram seu sorriso benévolo. Mais tarde, quando cresci, compreendi as dificuldades da idade adulta em um país do terceiro mundo. Os resultados em matéria de saúde e educação são devidos aos trabalhadores e trabalhadoras. Não ao Estado, não a Castro.

A revolução cubana foi uma revolução popular. Ela começou com a queda reformista de um ditador, antes de ser roubada por uma pequena elite (recentemente criada). Ela se converteu em Castrista, não em comunista.

De outro lado, antecipando aqueles que me dirão que Cuba, não obstante será livre e próspera… Eu os recordarei inumeráveis mortes precoces de crianças através do mundo em razão da fome (segundo o programa alimentar das Nações Unidas a humanidade inteira pode ser alimentada) e de enfermidades curáveis. E nos países “livres”. Eu lhes repetiria que a democracia não consiste unicamente em expressar suas opiniões abertamente (sem que o poder tenha que ver isso), é também ter em conta sua vida, e isso implica em programas de seguridade social, sistemas públicos de saúde e educação decentes. As mesmas coisas que a direita/esquerda “moderada” atacam ano atrás de ano, reforma após reforma. São as mesmas coisas que pedem para que Cuba seja livre… como o Haiti e sua população empobrecida, suponho.

A liberdade, a igualdade… seguem sendo os objetivos da humanidade. Essas não existiam em Cuba, assim como não existiam na França, nos Estados Unidos, na Espanha ou não importa em que lugar do mundo. Esses objetivos são ainda acessíveis, mas não necessitamos de dirigentes para alcançá-los, pouco importa sua “grandeza”. Não existem super-homens. Nós podemos contar apenas conosco mesmos.

Fonte: http://www.umanitanova.org/2016/12/09/la-morte-di-castro/

Tradução > Liberto

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Profundo silêncio.
Na escuridão da floresta
Dançam vaga-lumes.

Eusébio de Souza Sanguini

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