13 de dezembro de 2016. Aprovação final da PEC 55 em Brasília pelos parlamentares sempre a serviço do capital. Continuando as políticas dos últimos 500 anos, o atual governo empurra goela abaixo dxs proletarizadxs, como os anteriores governos, o genocídio dos povos indígenas, dxs pretxs, especialmente as mulheres, de todxs xs debaixo, implementando as políticas e ajustes em favor do capital. A criminalização dxs que lutam, acelerada nos últimos tr&eci rc;s anos, desde a insurreição marcadamente negra e periférica de 2013, que abalou os alicerces da política tradicional, prossegue. Prossegue agora montada na Lei antiterror, último ato do governo anterior ao do seu vice.
Em Fortaleza, como em Brasília, Rio, São Paulo e tantos outros lugares, atos se multiplicam contra a PEC, contra os ajustes, contra o aprofundamento cotidiano da barbárie capitalista que atinge xs debaixo. Em todos estes atos, uma clara herança reativa ao aprendizado de autonomia de 2013: o pavor dos de cima (dos governantes, ex-governantes e dos candidatos a governantes) quanto a toda luta autônoma dxs debaixo, luta contra a ordem atual, contra o capital e seus Estados. Lutas que seguiram depois de 2013 na luta contra a copa, nas ocupaç&ot ilde;es secundaristas. Lutas que seguem contra todas as tentativas dos de cima de criminalizar, parar ou capitalizar a luta dxs debaixo. Os de cima que se encontram nos governos, se protegem enviando suas polícias e mídias contra a luta. Bombas de gás, choque, prisões, processos, aquilo a que nos acostumamos xs que lutamos, aquilo que já sabemos que vamos enfrentar. Enviam também o barulho das mídias corporativas contra a “violência” (sobre as vidraças) e a demonização dxs “black blocs”, dxs “vândalxs” e “mascaradxs”, demonização que cresce a cada vez que formas mais radicalizadas de enfrentamento se apresentam, formas radicalizadas que nunca visam pessoas, mas coisas.
Os de cima fora do governo se protegem como aprenderam e como vieram antes a ser governo: buscando recompor seus lugares de mando, desde as “entidades” através das quais burocratizam e controlam a luta pelos votos para os quais buscam carrear toda forma de luta singular. Atentos aos ventos da insurgência que sopram não só sob o Estado brasileiro mas no mundo, combatem a cada palmo a aparição das lutas autônomas. Disputam a cada milímetro a sua autonomia e buscam convertê-la em apêndice dos seus programas e organizações. Como os de cima no Estado, os de cima fora do Estado co nstituem suas mídias “alternativas” para falar através delas a narrativa que lhes interessa. Para dizer que as manifestações são para a volta da “querida” ou para dizer “fora temer”, trata-se em todos os casos de dar um conteúdo eleitoral, dentro da ordem, às lutas. Disso sabemos todxs xs que lutamos desde baixo. E o sabemos há tempos. Mas dia 13 de dezembro de 2016 marcou a ultrapassagem de uma fronteira. Como no 13 de dezembro de 48 anos atrás (triste coincidência a repetição como farsa?), em Fortaleza e em outras cidades a violência estatal acompanhou a aprovação da PEC. Aqui entretanto, foi o Estado fora do Estado (os partidos da Frente Povo Sem Medo, daqui por diante POVO COVARDE) que protagonizou a violência contra manifestantes.
Tudo começa com um chamado anônimo para um bloco independente de partidos e sindicatos. Saímos todxs da praça da Gentilândia. Carros de som estridentes calavam as vozes de todxs. No bloco independente todxs colocaram camisas nos rostos e a maioria portava trinchas e garrafas pet com tinta branca e cola, não queriam microfones, queriam escrever no asfalto frases como “poder para o povo”, “lute sem líderes”, “contra a pec” e símbolos do anarquismo. A cola era para lambes. O porquê de esconder o rosto? Para evitar exposição, para evitar ser filmado pintando uma fras e no asfalto. Muitas palavras de ordem: ” lutar, criar, poder popular”, “Poder para o povo, o poder do povo vai fazer um mundo novo”. Onde passava o bonde as pessoas se empolgavam e gritavam juntxs. Perto dos carros de som, só se animava a torcida organizada e os dirigentes falantes, o povo ficava apático caminhando, como um sacrifício em uma procissão. Alguém disse: “o som tá muito alto”, fomos para frente do som, assim as pessoas ouviriam nossa mensagem. Logo a frente, outro carro de som altíssimo. Palavras de ordem e de novo passamos à frente. Eram três carros de som altíssimos, para garantir o silenciamento das vozes dissonantes. Logo, fomos para a frente da manifestação, pois os sons apontavam para trás e as pessoas poderiam nos ouvir.
Rapidamente começaram a chegar diversos militantes da Frente Povo Covarde. Fizemos vídeos para nos proteger quando começaram a hostilizar aos gritos de “o ato é nosso”. No carro de som militantes de partidos gritavam “esse ato é para quem apoia o fora temer, se retirem os outros”. Militantes fardados de vermelho começam a gritar com todxs e a empurrar. Pessoas fazendo frases no chão e os dirigentes, certamente para criminalizar e justificar o que estava por vir, falam “quem quer fazer ação dire ta vá na frente e se isole da manifestação!” e “comissão de segurança, retire quem estiver à frente do ato”. Mais discussões, xs autônomxs insistiram diversas vezes que estavam de boa. Tentamos seguir em frente, sem qualquer iniciativa de agressões, enquanto militantes da Frente Povo Covarde enrolavam suas bandeiras nos mastros de metal e madeira, empunhando suas armas, numa quebra clara de qualquer possibilidade de diálogo. Nesse momento, a manifestação já havia sido parada pela organização do ato, de forma a impedir que as demais pessoas presenciassem as agressões. O vídeo acima é o registro preciso de como começaram as agressões. Alguns autonomistas tentaram escapar das agressões por uma rua lateral, e foram caçadxs por uma horda de fascistas. Em outro vídeo, de uma câmera de segurança, é possível identificar esse movimento.
O saldo das agressões: uma garota cuspindo sangue, dois hospitalizados (um secundarista desmaiado depois de convulsionar e um autonomista com a cabeça aberta por uma barra de ferro). Dezenas de pessoas machucadas. Após a divulgação dos acontecimentos nas redes, mais linchamentos ainda viriam. Num primeiro momento, as tentativas de apresentar o acontecido como uma “treta” entre dois grupos: “Anarquistas, autônomos e secundaristas foram chamados a sair da frente do ato e por se recusarem, começou a treta com a comissão de segurança, que resultou em agressões.” “Houve ex cessos”, reconhecem alguns, dos futuros candidatos a comandantes da PM. Quando a versão da “treta” passa a ficar insustentável, alguns dos partidos envolvidos jogam o MTST sozinho na fogueira: eles eram os responsáveis pela segurança, eles não controlaram a coisa[1]. O próprio MTST lança uma nota [2] onde dá sua versão legitimando os linchamentos. Reconhece somente em um pequeno trecho os excessos da sua base e a saída de controle.
A indignação não para e a Frente Povo Covarde vai sofrendo o que para eles pode haver de pior: o desgaste e a respectiva reprovação pela opinião pública. O tom começa a mudar e, na tentativa de jogar a batata quente de mão em mão no interior da Frente, eles passam a tentar inverter a situação: a Frente Povo Covarde é que na verdade foi vítima dos autonomistas, que se apropriam das manifestações alheias “para realizar ações vândalas e irresponsáveis”. Segundo eles isso é feito para “queimar o filme” de suas representações políticas as quais querem concorrer ao estado. Desta forma vão alimentando um discurso voltado para a periferia, como se eles tivessem sido vítimas de racismo. Querem assim atingir os autonomistas e anarquistas, colocando estes como acadêmicos racistas. No entanto, parte dxs que foram covardemente agredidxs eram secundaristas e também de periferia. Dentre estxs, uma menina menor de idade (não colocaremos mais detalhes a respeito desta, para que sua identidade seja protegida), que está sendo exposta e ameaçada pela Frente Povo Covarde e precisando de urgente apoio. Trata-se uma instrumentalização da luta contra a opressão de gênero e contra o racismo numa tentativa de desfocar da questão que expõe sua face fascista: o linchamento generalizado de mulheres e homens, incluindo ameaças de estupro.
A semelhança em agir como o Estado é tal que afirmam que alguns indivíduos e organizações usam as manifestações de massa para conduzi-la a um confronto com o aparelho repressivo. Isso é de má fé e inverte a lógica do que realmente acontece nos confrontos entre xs manifestantes e a polícia. É exatamente a presença ostensiva desta, interditando espaços públicos e colocando-se de forma coerciva e ameaçadora, que levam ao confronto.Dessa forma faz coro com o estado e a grande mídia, criminalizando os autonomistas. Isso estimula o ódio de seus militantes e fortalece a ideia de que os autonomistas são inimigos, o que tem levado a um verdadeiro linchamento virtual, ameaças e exposição dos que se dispuseram a fazer as denúncias.
Estamos denunciando esses linchamentos e a respectiva capacidade que estas frentes políticas partidárias tem de deturpar as lutas autônomas libertárias, sendo capazes de verdadeiras atrocidades para transformar as manifestações em um exército obediente. O que tais grupos serão capazes se tiverem a máquina do repressiva do estado, com sua polícia e exército? Estes grupos efetivamente freiam qualquer tentativa de insurgência de classe em troca de um boa imagem na sociedade do espetáculo. Eles estão organizando atos agora não por ser contra o Estado burguês, ma s por não serem eles a possuí-lo.Quando lá estiverem, e isso está demonstrado pela história, serão os primeiros a chacinar autonomistas e anarquistas. Por isso, estamos nos organizando para nos fortalecemos diante das perseguições que sofremos, tanto do fascismo de direita quanto do fascismo de esquerda. E não, jamais nos uniremos a quem defende e justifica atitudes de violência típicas de um Estado fascista.
Seguiremos em luta, autônoma, independente e livre, e jamais nos intimidaremos através das ações dos de cima, estejam dentro do estado ou não! agiremos vivxs, sem poder e sem pudor!
[1] Nota do PSOL – https://www.facebook.com/notes/psol-cear%C3%A1/nota-da-executiva-estadual-do-psol/1062473010530210
[2] Nota do MTST – https://www.facebook.com/mtstce/posts/1625435901084921
Fonte, mais infos, fotos, vídeos: https://www.facebook.com/frenteautonomafortaleza/?fref=nf&pnref=story
agência de notícias anarquistas-ana
uma pétala de rosa
no vento
ah, uma borboleta
Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!