> A repressão franquista sobre o anarquismo caiu no esquecimento em comparação com a memória do comunismo ou do socialismo. Sem embargo, foram muitos os anarquistas que se exilaram depois da Guerra Civil.
“Os intentos de domesticar a rebeldia e dominar o que não tem freio, de fazer previsível o desconhecido e de encarcerar o errante é a sentença de morte do amor” (Bauman)
Em recente data, no Arquivo Geral da Guerra Civil se descobriu a ficha de inscrição da CNT do inefável comediante Paco Martinez. Um ícone do cinema espanhol que até a presente data se assiste seus filmes reiteradas vezes, com boa audiência. O mais certo é que o fez obrigado pelas circunstâncias da época.
Mas a informação nos revela a importância do pensamento libertário na península Ibérica. Um pensamento político com mais de duzentos anos de tradição. Certo também é que de seu meio emergiram sementes de violência política muito chamativa, porém minoritárias no pensamento libertário. No caso da Espanha, sua organização mais importante, a CNT, chegou a ter quase um milhão de pessoas filiadas. Mais do que uma ideia política, existia um universo cultural.
O pensamento libertário foi uma proposta política que não pretendia influir através da tomada do poder. Era uma forma de viver. Era um país sem terra. Seu suporte eram as ideias e não o território. Seus ateneus, seus sindicatos, suas cooperativas, caixas de resistência e comunidades coletivas foram espaços sociais onde as pessoas participavam intensamente em um projeto vital e coletivo. O esperantismo, o nudismo, o vegetarianismo, o amor livre e o pacifismo foram algumas de suas expressões culturais que logo chegaram até outros movimentos sociais. Em definitivo, sua forma de vida propiciou e constituiu um país cultural.
A repressão franquista sobre o anarquismo caiu no esquecimento em comparação com a memória do comunismo ou do socialismo. Sem embargo, foram muitos os anarquistas que se exilaram depois da Guerra Civil. A volta do exílio, a Transição, a esquerda radical intentou a cumplicidade com esse movimento, porém desistiram ante seu abstencionismo pois não contavam com seus votos e, então, logo suas opiniões se relegaram.
Hoje em dia, podemos afirmar que esse país cultural praticamente não existe. O estilo de vida libertário terminou socialmente às margens. A própria Dolores Marin, estudiosa do fenômeno assim o reconhece. A hegemonia cultural se impõe de tal modo que propiciar espaços libertários como os de antanho soa impossível. Porém, estar morto hegemonicamente não quer dizer que seu pensamento tenha desaparecido. Na atualidade existem espaços libertários com diversas atividades literárias, editoriais, artísticas, educativas, de ócio… Inclusive podemos encontrá-los em Navarra ou no País Basco.
Como expressou Sartre, o anarquismo anseia subtrair-se o máximo a todos os poderes sociais. É uma vida moral que põe em questão as formas de ação do poder. Assim, nesse mundo em que quase tudo vai mal, contemplamos como aparecem experiências alternativas à norma social.
De tal modo, germinam projetos cooperativos, educativos livres, comunidades de vida autogestionadas… O país que já não existe e que nunca existiu começa novamente a brotar. Porque como disse Mafalda, parem o mundo que eu quero descer.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Anibal Beça
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!