Por Nuno Afonso
“Todos os seres vivos, todas as coisas que se mexem, são de igual importância, quer sejam seres humanos, cães, aves, peixes, árvores, formigas, ervas daninhas, rios, vento ou chuva. Para se manter saudável e forte, a vida precisa de ar limpo, água limpa e comida pura. Caso seja privada dessas coisas, a vida passará ao ciclo do próximo nível, ou como o sistema lhe chama, a ‘morte’.” – John Africa
Corria o ano de 1972 quando John Africa fundou o MOVE, uma organização dedicada aos direitos civis constituída na sua maior parte por afrodescendentes que, ao contrário das congêneres da época, advogava ideais ambientalistas e vegans muito próximos do eco-anarquismo, do anarco-primitivismo, dos movimentos de libertação animal e da autogestão em comunidades sustentáveis que vivessem em harmonia com o ambiente. O MOVE ainda resiste e em Maio irá evocar a memória de John Africa, precursor dos moviment os ecologistas atuais, num ciclo de conferências na Filadélfia que terá a duração de três dias.
Os anos 70 não foram fáceis para os defensores dos direitos civis nos Estados Unidos da América, o racismo encontrava-se institucionalizado e profundamente enraizado na sociedade e já era difícil o suficiente lutar pela igualdade de direitos dos cidadãos afrodescendentes sem a agravante de, como o MOVE de John Africa, criticar também os fundamentos da civilização moderna e ocidental, as filosofias do decrescimento, do primitivismo e do eco-anarquismo só décadas mais tarde viriam a ser formuladas e amplamente di sseminadas. John Africa foi um homem à frente do seu tempo e nunca teve a oportunidade de assistir à popularização da ecologia e do ambientalismo nos anos 90.
Fundado na cidade da Filadélfia em 1972, onde subsiste até hoje, o MOVE foi recebido com clara hostilidade por parte da então maioria branca e, obviamente, pelas autoridades. As relações com o Departamento de Polícia da Filadélfia nunca foram as melhores, chegando a haver um confronto armado quando os tentaram despejar da sua sede em 1978, o qual resultou em vários feridos e na morte de um agente da polícia, morto com um tiro na base do pescoço quando estava a participar do cerco à sede do MOVE. Pese embora est a prova flagrante de que a bala que causou a morte do agente não teria vindo do interior da casa, nove militantes do MOVE foram condenados a penas de 100 anos de prisão.
Em 1985 o próprio John Africa, juntamente com seis ativistas do MOVE e cinco crianças que se encontravam nas instalações, faleceram quando o Departamento de Polícia da Filadélfia, com o apoio do FBI, optou por bombardear a sede do MOVE a partir de um helicóptero e, de acordo com as testemunhas da época, as 11 vítimas mortais quando tentaram fugir das chamas foram travadas pelas balas de agentes que os aguardavam no exterior. Tratando-se de um prédio germinado de uma zona densamente povoada, o bombardeamento causou um incêndio que alastrou a 65 moradias. Contudo, pese embora esta tragédia, passados 32 anos o MOVE continua ativo.
Esta Primavera, nos dias 5, 6 e 7 de Maio, o MOVE irá anfitriar um ciclo de conferências para se apresentar à sociedade civil, uma vez que dadas as tragédias ocorridas nas primeiras duas décadas da sua fundação, a discrição e o quase secretismo ditaram que ao longos dos anos muito se especulasse acerca da natureza e da realidade do MOVE, razão pela qual agora decidiram quebrar o silêncio e, ao longo de três dias, mostrar a todos os interessados o que realmente são, o que têm feito até à data e como operam. Durante três dias os conferencistas terão opor tunidade de conhecer os ensinamentos de John Africa, que ainda hoje regem o MOVE, e o seu dia-a-dia, no Universal Audenreid Charter High School na Filadélfia, a sua cidade natal.
onamove.com
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!