“Nosso trabalho não se perderá, nada se perde neste mundo. As gotas de água, ainda sendo invisíveis, consegue formar o oceano.” – M. Bakunin
Em meados do ano passado, nós, um grupo de jovens nos aventuramos em recuperar uma casa abandonada, situada na Población O’Higgins, no setor centro-norte da cidade, com a intenção de convertê-la em um espaço fértil para a implementação de práticas e ideias de horizontalidade, autonomia, apoio mútuo e autogestão, desenvolvendo atividades artísticas, culturais e políticas, desde outubro de 2016 até os últimos dias de janeiro de 2017.
Falamos de recuperar porque anteriormente esta casa abandonada havia servido como depósito de lixo, gerando um foco de contaminação no setor, além de local de consumo de drogas, acolhendo o flagelo que causa enormes danos a jovens e adultos em nossas populações antofagastinas: a pasta-base. Insistimos em recuperar porque neste breve tempo fomos capazes de inverter esta dinâmica, conseguindo oferecer à população um lugar de aprendizagem como a Biblioteca La Camanchaka, e numerosas atividades, tais como oficinas, c iclos de cinema, saraus, palestras, entre outras mais…
A partir de um primeiro momento, decidimos que ergueríamos este espaço com nossas próprias mãos e esforços, recebendo somente a colaboração desinteressada e solidária dos que confiam em nós: amigxs, companheirxs, familiares, vizinhxs e afins. Rechaçamos qualquer colaboração empresarial ou governamental, já neles só encontramos censura, desejo de aparecer e a reprodução de toda a trama cultural espetacular que rechaçamos, pois pretendem encobrir a devastaç&a tilde;o provocada pela mega mineração nestes territórios. Essa opção sustentamos até o dia de hoje, agradecendo a todos que colaboraram com seu grãozinho de areia para dar vida a Yareta. Sem dúvida, esta experiência não teria sido possível sem vosso apoio.
Hoje o Espaço Autônomo Social Yareta chega a seu fim. Não por decisão nossa, senão por que a casa foi finalmente vendida pelos “donos”, em conjunto com uma corretora de imóveis, que após uma série de artimanhas e especulações, conseguiu o que queria. O negócio imobiliário cada vez reduz mais os espaços nesta cidade, deslocando os lugares de encontro e propagação que são cada vez mais privatizados e afastados dos setores populares, na lógica de uma socie dade consumista e individualista.
Sem dúvida, esta aventura foi uma experiência e assim como acertamos algumas vezes, nos equivocamos outras tantas. Ficaram muitas ideias, tarefas e projetos pendentes que esperamos que possam ir tomando forma, seja em outro espaço ou de qualquer modo. Fica a alegria de saber que é possível levantar iniciativas contundentes a partir da autogestão, a felicidade dos momentos compartilhados e a certeza de que é necessário e urgente fortalecer nossas ideias e práticas de liberdade, para semear um mundo no qual não cabe a dominação. Nós vamos, é certo, porém saibam que isto não nos desmotiva e nossas convicções não serão apagadas por golpes como estes, os que nos darão mais ânimo e vontade de seguir adiante, rasgando caminhos de liberdade e autonomia em meio ao asfalto antofagastino. Nada está perdido. A seguir semeando liberdade no deserto.
Que proliferem os espaços autônomos e livres de dominação!
Espaço Autônomo Social Yareta
Antofagasta, 2 de fevereiro de 2017.
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!