O Festival Decolonial (Decolonise Fest), é um festival punk para pessoas negras, e por punks negros.
Criado no último ano no Reino Unido, sua próxima instalação ocorrerá em Londres no mês de Junho, com apresentações musicais, zines, documentários, exibições áudio-visuais e oficinas.
O festival organizou recentemente algumas campanhas para arrecadação de fundos, e tem mais algumas planejadas para os próximos meses com bandas punk e negras.
Também estão procurando por inscrições detalhando “o que é ser um punk negro”, para sua própria zine. As inscrições estão abertas para qualquer pessoa no mundo.
Conhecemos alguns membros do Festival Decolonial para conversar sobre a iniciativa, o que significa ser negro e punk no Reino Unido e suas esperanças para o futuro.
Steph é jornalista, vocalista e guitarrista da banda Big Joanie (que está contida em nossa lista “Bandas Afro-Punk que você precisa ouvir) e um dos co-organizadores do festival. Lei la é uma estudante, doutoranda, e co-organizadora, e Debbie é uma professora que toca na bandaSabatta.
Por que vocês decidiram criar o festival?
Steph: Há um número crescente de festivais punk ao redor do mundo mas nenhum deles é focado nas questões de raça, ou não levam em consideração quando você é negro, de forma que há uma tendência de que você receberá tantos olhares e comentários de pessoas chocadas com o fato de que você realmente gosta de música punk. Então nos pareceu necessário criar nosso próprio festival.
Nós estamos aqui, e já estávamos aqui na cena por um longo tempo. Nós queremos criar mais a partir do movimento como ocorre nos EUA. Queremos celebrar as bandas punk atuais e as mais antigas que pavimentaram o caminho.
Debbie: Assistindo o documentário Afro-Punk, a criação de um festival específico e o que ele se tornou, foi definitivamente uma reviravolta para mim, no sentido de criar nosso próprio festival. Uma vez, eu e minha banda estávamos em um concerto, entramos no palco e enquanto permanecemos ali as pessoas nos olhavam se questionando: “é sério isso?”
Nós saímos do palco após o concerto e o público ficou surpreendido que tocávamos tão bem, e nos cumprimentaram logo após. Vendo como as pessoas me tratam, eu quis buscar minha chance de tocar em um festival onde eu sei que a audiência seria feita de pessoas negras.
Leila: Quanto mais eu crescia, mais me envolvia na cena punk da minha cidade. Mas foram tantas vezes que me falaram que eu não pertencia aos espaços punk que agora, sendo capaz de fazer algo como nosso festival no Reino Unido, vejo isso como algo incrível. A cena punk crust brinca com piadas racistas, e eu sinto que as pessoas acabam sendo cúmplices, o que é uma coisa bastante britânica.
As raízes do punk estão profundamente entranhadas no trabalho e na cultura dos negros e negras, assim como dos indígenas. Pense sobre os moicanos, por exemplo. Até onde eu sei, isso não é uma tradição ocidental. É muito fácil para as pessoas brancas silenciarem a nós e ao nosso passado, para depois acreditar que inventaram tudo.
S: As pessoas brancas amam pensar que não são racistas, mas quando tem muitos deles, se sentem confortáveis. Eles não gostam de tomar consciência de sua branquitude. Nós precisamos criar nossa própria história.
Como está a cena afro-punk no Reino Unido?
S: A história das pessoas negras no punk é muito pouco documentada (exceto talvez por Poly Styrene do X-Ray Spex e ;Don Letts) e mencionada de forma escassa, a não ser em arquivos. Foi removida de nossas mãos.
L: Há uma ideia entre os punks de que são tão radicais que a raça não importa, e que não fazem distinção entre raças, mas na verdade fazem.
S: É uma maneira bastante inglesa de lidar com as coisas, colocando-as embaixo do tapete. Alguém na cena punk DIY pareceria mais “mente-aberta” e supostamente saberia mais sobre as questões de raça, mas a maioria deles não quer.
D: Eu já toquei em bandas com membros brancos e toda vez que íamos para o palco, as pessoas não precisavam dizer nada, mas um sentimento bastante peculiar permanece. As pessoas me olhavam como que querendo dizer que “você não deveria estar ali”. Também gritavam muitos comentários dúbios. Então quando eu me juntei à minha banda atual, decidi que iria fazer algo contra o sistema.
O que você espera conseguitar através do Festival Decolonial?
S: Muitas coisas! Mas primeiro de tudo, queremos fazer um bom festival para as pessoas terem certeza que se sentem representadas. Muitos de nós são identificados como punks mas fomos mais marginalizados, então quando as pessoas se sentem válidas é muito importante para nós. Nós também esperamos espalhar a ideia para além de Londres, onde é mais difícil para pessoas negras se encontrarem.
D: Nós queremos que esta seja uma forma para empoderar as pessoas, criar um espaço confortável para as pessoas se expressarem, um ambiente seguro.
L: Desde seu princípio, o punk foi uma forma de resistência. Eu fui atraído pelas ideias punk, mas minha experiência pessoal na cena me fez entender que ela não era sempre tão revolucionária assim. Nós queremos trazer o punk de volta para seus reais significados.
D: O punk no Reino Unido sempre foi embranquecido.
S: Uma coisa boa é que o festival junta outras pessoas punks e negras. Nós ainda somos considerados fora da norma. Eu comecei uma banda feminista, Big Joanie, e nós continuamos tocando para públicos majoritariamente brancos. As pessoas brancas não se questionam, ou mesmo porque eu comecei a Big Joanie visto que eu não queria estar mais naquele espaço. A cena DIY mudou sutilmente. Nós queremos mais pessoas negras, queremos confrontar equívocos, mas é um longo processo. O festival deixaria mais óbvio que este também é nosso espaço.
Qual é a sua experiência na cena punk do Reino Unido?
L: Apenas através de encontros regulares, eventos e o evento de arrecadação de fundos, nós já fizemos tanta coisa e conhecemos tantas pessoas para compartilhar experiências, que isso me faz mais interessada em desafiar o sistema e o movimento que estamos criando.
S: As pessoas precisam disso faziam muito anos. É claro, outro festivais também juntam afro-punks, e isso está bem, mas eles estão fazendo suas próprias coisas. E agora nós é que estamos. Os resultados da dedicação irão servir para fazer uma cena para os punks negros e negras no Reino Unido.
FB: https://www.facebook.com/events/129571150913030/
Fonte: http://www.okayafrica.com/interview/black-punk-festival-decolonise-fest/
Tradução > Yanumaka
agência de notícias anarquistas-ana
madrugada fria
lua alta brilha
iluminando o jardim
Betty Mangucci
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!