A miliciana Julia Hermosilla – “paquita” na resistência – se converteu em um referente de mulher que combateu o fascismo em plena guerra civil
Em 30 de março faria 101 anos, mas faleceu em 2009 em Baiona. Ela, Julia Hermosilla, filha de cenetistas, esposa de cenetista, mãe cenetista. Em outras palavras, “Paquita” ou “Eugenia” na resistência, a Revolucionária para seu círculo de amizades, participou em dois planos de atentados contra o ditador espanhol Franco. O primeiro ocorreu, segundo ela, em 1948 “em Madrid” – ainda que tudo leve a crer que foi na baía de La Concha, e o segundo em Donostia, no palácio do Aiete.
O livro “Matar Franco: os dois atentados contra o ditador”, de Antoni Batista, diz o seguinte sobre o segundo: Que o anarquista Ángel Aransaez, esposo de Julia Hermosilla, conheceu na prisão um dos fundadores do ETA, Julen de Madariaga e fez contato com ele para o repasse de explosivos. Enquanto isso, Julia Hermosilla atuava em Donostia como observadora do terreno e decidiu localizar o operativo de controle remoto da explosão na ladeira do monte Ulia, “segundo fontes anarquistas”, pondera o autor que neste lugar não havia visibilidade, razão pela qual estima que “o lugar devia ser o monte Urgull e, exatamente, o passeio dos clérigos, que é próximo e com perfeita visibilidade sobre a Aldapeta e linha sem qualquer interferência para as ondas eletromagnéticas”.
No livro “Milharal debaixo de chuva”, do jornalista de Donostia, Aitor Azurki, recolhe o testemunho de Julia Hermosilla e seu filho Naiarin. Fala Julia: “Veja, colocamos uma bomba debaixo da ponte, me parece que por ali há um hotel”. Seu filho lhe corrige: “Não, não, foi no palácio do Aiete, subindo”.
Seja como seja, o intento “não saiu como planejado porque se acabaram as pilhas. O controle remoto não funcionou”, acrescentou Naiarin, que foi mais além afirmando: “Então mandaram minha mãe para verificar, para que depois não explodisse e fizesse vítimas inocentes”. Outras fontes estimam que o intento não obteve sucesso “porque a chuva molhou o explosivo”.
A libertária de Biscaia também tomou parte em outro atentado – “um aéreo em 1948 em Madrid” – ainda que tudo aponte que houvesse ocorrido em 12 de setembro daquele ano em La Concha de Donostia. Um avião proveniente de Iparralde sobrevoou a baía. O plano não funcionou em razão da presença de um hidroavião e caças do Exército do Ar. Os anarquistas suspenderam o ataque e decidiram conservar os explosivos que puderam então ser utilizados em Aiete.
Do que não cabe nenhuma dúvida é que Julia Hemosilla sempre foi, como ela dizia, “rebelde”, sempre da CNT, sempre de Aransaez. “Nossa vida sempre foi de aventuras”, concluia no livro “Milharal embaixo de chuva”, recordando que conheceu históricas personalidades como Isaac Puente, Ramón Rubial, Aguirre e Leizaola, e era amiga de Telesforo Monzón, entre outros, e que como miliciana quase perdeu a audição no histórico bombardeiro de Otxandio, onde com o início da guerra não duvidou em ir defender a vila e também Villareal (Legutio).
Aitor Azuki a conheceu em 2006 porque “tinha todos os elementos para lhe entrevistar: mulher feminista, antifascista, miliciana, ferida na guerra, exilada e lutadora antifranquista. Não duvidei. É esse tipo de pessoa que muda sua visão de vida, é esse tipo de pessoa que todo mundo deveria conhecer ao menos uma vez na vida, porque através de suas palavras, de sua vida, se reconstruiria o devir de nosso povo, a luta da sociedade por liberdade”.
Custaram-lhe diversas ligações até conseguir a entrevista, em razão da saúde de Julia, mas chegou o dia e foram a casa de Angelu, Lapurdi e falaram por longo tempo. “De sua luta por liberdade e igualdade como mulher – feminismo, diríamos hoje, de contraceptivos, da visão machista daquela sociedade, de sua luta anarquista, de seu amor por Aransaez, da luta na guerra, da “derrota” e exílio, de formar uma família fora do ódio e sempre em prol da cultura, do amor pelo País Basco e de sua ativa luta antifranquista desde Iparralde”.
Hermossila foi aquela garota de 14 anos que não duvidou em ser da CNT com apenas 14, aquela que seus companheiros chamavam de “mocosa” com 18 primaveras quando decidiu sair para lutar na revolução das Astúrias de 1934, com seu sobretudo e pistola de Eibar. Voltou junto com seu companheiro Ángel Aransaez – filho do histórico Saturnino Aransaez – e em 1936 ficou em Otxandio para lutar contra os golpistas. “Em Julia e sua família se pode ver nitidamente o sacrifício, a humanidade, a tenacidade e compromis so por um ideal, uma mulher, um povo por sua liberdade tanto individual quanto coletiva. Julia, conclui Azurki, foi, em muitos aspectos, uma autêntica vanguardista revolucionária”.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Renata Paccola
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!