Na sexta-feira 31 de março, apesar dos sentimentos opostos e a confrontação interior que tínhamos, frente a pergunta que nos fazíamos entre compas e a nós mesmos como anarquistas: O que nos importa a Constituição¹? A crise política? Mas os acontecimentos se encarregaram de nos dar um jurupete².
Nós, como muitos outros, fomos surpreendidos pela espontânea explosão de raiva e enfastiamento de um povo tão manso e acostumado à passividade, mas já cansado, que perdeu o medo aos gases e às balas de borracha, que estravasou e desatou suas paixões mais selvagens, apesar dos chamados à calma e à manifestação pacífica por parte de senadores e lideres partidários. Contudo, o povo os ignorou e descobriu o que é capaz de fazer por si mesmo, queimar um congresso não é para q ualquer um.
No meio do conflito, a imaginação e o livre desenvolvimento das pessoas sem ser dirigidas por ninguém, para resistir à repressão policial… A rua se converteu no espaço pedagógico onde o povo deu um passo para a desaprendizagem da passividade e outro para a construção de experiência e conhecimentos empíricos para a resistência, a autodefesa e o ataque aos símbolos da opressão. As balas de armas de fogo disparadas sobre a Rua Estrela, Chile e outros pontos do microcentro não foram sufi cientes para dispersar a raiva dos milhares de jovens trabalhadores, estudantes, chacaritenhos e roqueiros que nessa sexta-feira mudaram seus planos frente o atroz espetáculo repressivo e decidiram dar rédia solta ao luddismo destrutivo, necessário para quebrar com a paz dos mortos.
Convidamos a estar em estado de alerta frente aos acontecimentos e animamos aos grupos auto-organizados e indivíduos, todos, a não retroceder, decair nem se deixar levar pelos cálculos partidários que o único que fará é submeter-nos novamente ao medo. Que a prática revolucionária seja sempre nossa resposta ao terrorismo de Estado! Contra a passividade social.
Ver como o apoio mútuo e a solidariedade se praticavam espontaneamente, gente que te dava uma mão, água, que te desvanecias sufocado pelos gases te levantavam e te levavam a um lugar seguro ainda que se arriscando em uma arremetida dos capacetes azuis, outros que te resgatavam das mãos da polícia, é muito importante ressaltar essas práticas, para nós que como anarquistas, concebemos, desejamos e buscamos uma vida em liberdade, sem autoridade.
Desde nossa posição como anarquistas convidamos à constante participação em futuras manifestações, que não fique no oparei, ñase jey callepe³ e que se reviva a luta de rua contra o terrorismo de estado.
Tendo claro sempre a nossos inimigos. Não confiando em discursos partidários e conseguir sacar do meio de toda a guerra de informação que nos chega, onde está realmente nossa luta.
Não há salvação para o povo submisso, que não fique impune o sangue derramado de inocentes.
Grupo Afim Anarquistas Insurretos (GAAI)
Frases em guarani:
[1] O que nós vamos fazer ali.
[2] Um golpe na boca
[3] Que não fique mais assim, temos que voltar a sair à rua.
Tradução > KaliMar
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tem como traduzir o texto em guarani?