No dia 27 de março, um homem de 25 anos, refugiado da Síria, se enforcou no porto de Piraeus. O Cartão de Requerente Internacional de Proteção foi encontrado em suas roupas. Não há mais informações sobre seu trágico suicídio até o momento.
Três dias depois, no dia 30 de março, outro refugiado de 29 anos, ateou fogo a si mesmo dentro do ponto de acesso VIAL na ilha de Chios. No momento em que estava dentro da área de registro de refugiados, ele se banhou com líquido inflamável, avisando às pessoas para que se afastassem, incendiando assim seu corpo. O homem só queria falar, protestar sobre as péssimas condições do ponto de acesso. Então, um policial o surpreendeu pelas costas, o agrediu no braço e tentou retirar a garrafa com conteúdo inflamável de suas mãos. A conclusão do incidente foi trágica, visto que o homem sofreu muitas queimaduras. Ele foi transportado para o hospital Evangellismos em Atenas em estado grave, com 85% de seu corpo queimado. Infelizmente, no sábado, dia 8 de abril, Amer Mohamad faleceu no hospital após batalhar por sua vida durante vários dias. Nós não iremos acusar a polícia de inabilidade e perda de calma. Seja uma ação individual de um policial, ou decisão consciente da corporação para agir desta forma, a verdade é que a polícia cumpriu perfeitamente o papel que o Estado atribuiu à instituição. E seu papel é manter as pessoas presas para esmagar estas pessoas que querem lutar e se levantar contra a exploração, a opressão e a ruína de suas vidas.
Também se sabe que na ilha de Lesbos, a polícia invadiu campos de refugiados e prendeu refugiados e imigrantes. Cada dia, em torno de 20 a 25 refugiados e imigrantes são sequestrados do ponto de acesso de Moria. Alguns deles são espancados, apenas porque estão na Europa sem o passaporte “correto”. Na sequência, a polícia os prende no centro de pré-embarque, sem razões ou acusações. Os refugiados são simplesmente encarcerados, até chegar o momento da deportação. No dia 7 de abril, ocorreram deportações em massa: 49 refugiados de Lesbos e 35 da ilha de Kos foram deportados para a Turquia.
Além do mais, uma horrenda fotografia viralizou na internet durante os últimos dias. Uma foto em que uma cela de ferro é ilustrada. Dentro desta cela, no ponto de acesso VIAL na ilha de Chios, diversos refugiados, homens, mulheres e crianças, foram confinados por horas e vigiados pela polícia.
Nós entendemos que tudo isso não passa de alguns aspectos da política anti-imigração do Estado grego e da União Europeia. Manifestações do totalitarismo moderno em nome do capital e das instituições do Estado. Um totalitarismo moderno que apenas pode assegurar a morte, a miséria, a exploração e a opressão para o povo pobre, refugiados, imigrantes e trabalhadores locais. Nós podemos entender como os governos e os Estados desvalorizam a vida humana, relembrando a nós mesmos os milhares de refugiados e imigrantes que se afogaram no mar mediterrâneo, aqueles que perderam suas vidas nas fronteiras fechadas da Euro pa e, é claro, as centenas de milhares de pessoas sírias que foram assassinadas durante a guerra na Síria. Todas essas pessoas são vítimas em um a competição, vítimas de uma guerra cujos responsáveis são aqueles que detém o poder, os estados capitalistas e os ditadores locais sírios.
O enforcamento de um refugiado sírio no porto de Piraeus e a morte de outro homem que ateou fogo em si mesmo na ilha de Chios é uma situação trágica que evidencia a extensão que pode tomar a questão dos refugiados pela política racista do Estado grego e da União Europeia. A política anti-imigração em nome da União Europeia levou ao fechamento das fronteiras e ao acordo com a Turquia. O Estado grego, em acordo absoluto com a política racista europeia, enclausurou milhares de refugiados nas ilhas e no continente grego. Essas pessoas que estão presas e privadas de direitos humanos básicos são levadas ao desespero.
Além disso, mais um ano se passou desde que a União Europeia selou acordo com a Turquia, com o intuito de cortar os números de refugiados adentrando a Europa. O mais importante resultado deste acordo até agora, é o fato de que milhares de refugiados permanecem enclausurados no continente grego e nas ilhas. Neste momento, mais de 61.000 refugiados e imigrantes estão presos na Grécia. As condições sob as quais essas pessoas vivem são desumanas. Mortes, suicídios, lesões auto-infligidas, e, é claro, o racismo de alguns gregos. Em alguns casos, houveram pessoas locais que não quiseram que crianças da Síria fossem para escolas públicas gregas e se relacionassem com os pupilos da Grécia.
Campos de concentração, pontos de acesso, prisões, isolamento, morte nas fronteiras fechadas da Europa e afogamentos no mar mediterrâneo são garantidas para os refugiados e imigrantes. Exploração, repressão e desvalorização da nossa força de trabalho são garantidas para os nativos. O capital e o Estado arruínam nossa vida e nossa dignidade todos os dias, sem distinção entre refugiados-imigrantes e locais. Nós, as pessoas comuns, a classe trabalhadora, os proletários, estamos no alvo do capital. O sistema capitalista irá tentar nos eliminar, com o intuito de garantir sua reprodução. N&oacu te;s também percebemos que a classe dominante tenta manipular a crise econômica para seu próprio benefício. Desta forma, o Estado tenta impedir qualquer esforço de conexão entre refugiados e o povo pobre local, especialmente os mais combativos, para cortar a interação entre os oprimidos e explorados, entre locais e refugiados.
Em nosso nome, em nome das pessoas que batalham contra o capital e o Estado, entendemos que nosso dever é quebrar a exclusão e o isolamento em que os refugiados estão condenados. Nós precisamos estar em contato com os refugiados e imigrantes, e construir comunidades de lutas em comum, de solidariedade e confiança. Este é o único caminho para quebrarmos a falsa separação que é organizada pelo capitalismo.
Expressar nossa solidariedade às reivindicações dos refugiados não é suficiente. Para além disso, temos que pôr em prática nossas lutas comuns, entre pobres e pessoas comuns da nossa sociedade.
GUERRA SOCIAL E DE CLASSES CONTRA O TOTALITARISMO MODERNO DO CAPITAL E DOS ESTADOS!
COM LUTAS COMUNS E INDEPENDENTES, NATIVOS E REFUGIADOS-IMIGRANTES, JUNTOS PODEMOS LUTAR POR UM MUNDO DE IGUALDADE, LIBERDADE E SOLIDARIEDADE!
AVANTE PELA REVOLUÇÃO SOCIAL, ANARQUIA E COMUNISMO!
Assembleia Anarquista para o Ataque Social e Classista
Patras, abril de 2017
Tradução > Yanumaka
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!