Eu estive presente nas últimas duas marchas contra os nacionalistas brancos reunidos em Berkeley nos dias 4 de março e 15 de abril. Meu objetivo principal era providenciar assistência médica aos meus camaradas e aprender mais, a nível de rua, sobre o movimento antifascista e a ameaça do fascismo que parece estar crescendo.
Eu gostaria de compartilhar um pouco do que vi nesses dias, como forma de providenciar informação adicional diretamente do ocorrido, e a partir de processos pessoais sobre o que foi um intenso conflito.
No momento da minha chegada, fui revistado múltiplas vezes pela polícia sem o meu consentimento, mas também não ofereci resistência. Era uma tática óbvia para dificultar a adesão ao black bloc. Eles tentaram confiscar parte dos meus suprimentos médicos sob justificativas ilegais. Eu não resisti fisicamente, mas indiquei educadamente minha falta de consentimento e a compreensão de sua ação ilegal. Os suprimentos médicos foram retornados e, eventualmente, fui permitido de entrar nas barricadas.
Ao longo do dia, a multidão aumentou de ambos os lados e o bloco Antifa começou a marchar ao redor do enclave MAGA [“Make America Great Again” – “Faça a América Grande Novamente”, slogan utilizado por Donald Trump em sua campanha para a presidência, utilizado nos bonés dos grupos fascistas presentes na manifestação]. Pequenos conflitos pipocaram, enquanto os antifascistas seguravam a linha e continuavam a marcha. No entardecer, os confrontos se moveram para uma interseção fora do parque MLK [Martin Luther King Jr] e a polícia já não estava presente. Foi então que as coisas começaram a piorar, e eu via cada vez mais pessoas laceradas e pedindo ajuda, atingidas por spray de pimenta.
Parecia que o grupo MAGA havia crescido e superado numericamente o grupo Antifa. Nós perdemos a interseção ao redor das 15h, quando muitas bombas de gás foram lançadas e o grupo MAGA nos atropelou. Grupos organizados de mais ou menos 4 ou 5 pessoas dos MAGA, com equipamento de proteção individual, isolaram e espancaram indivíduos antifascistas cada vez que tinham poder numérico.
Eu me movimentei para o bloco na região de Shattuck e comecei a auxiliar antifascistas feridos. A situação era muito fluída e as lutas continuaram ao meu redor enquanto os MAGA davam sequência à pressão na rua. Me direcionei a um camarada que estava no chão, sangrando de um ferimento na cabeça. Neste momento eu percebi um homem com boné MAGA, portando um mastro de bandeira, atacando uma mulher no black bloc, que media metade do seu tamanho. A mulher recuou para uma loja, e tentava usar a placa da loja para proteger sua cabeça das investidas do fascista.
Até este momento eu havia me abstido de qualquer ação violenta, mas sem pensar lancei este homem contra a parede com toda minha força. Seus amigos começaram a desferir socos e chutes, creio que haviam 3 ou 4 deles. O homem com a bandeira me acertou duas vezes com o mastro, na minha cabeça e no meu pescoço, enquanto eu tentava diminuir a distância entre nós e assumir o controle de sua arma. Seus golpes acertaram meu cotovelo e antebraço, apenas porque eu tenho sorte de ter treinamento básico, então minha guarda estava levantada. Ele e seus capangas recuaram por alguma razão, e a mulher fugiu.
Eu retornei ao homem ferido que estava agora sendo tratado por outro médico e tentei ajudar. Eu perdi os movimentos da minha mão direita em função dos golpes e tentava abrir meus kits de primeiros-socorros quando o grupo MAGA retornou. Eu os enfrentei pronto a lutar pela minha vida mas não cheguei a entrar no confronto. Eles gritaram alguns insultos e continuaram a caminhada. Providenciei alguns curativos ao homem ferido e ofereci a ele uma carona para o hospital, visto que eu planejava ir para lá eu mesmo, temendo por um braço quebrado.
Ele aceitou e nós conseguimos sair da área sem mais ataques. Eu tenho sorte o suficiente e talvez juventude o suficiente para não ter sofrido nenhuma fratura.
Retrospectivamente, algumas coisas ficaram claras para mim. Os nacionalistas brancos/fascistas/MAGAs se uniram e nos superaram numericamente de forma substancial, estavam mais organizados e claramente estavam melhor armados, com mais proteção individual, e mais forças violentas de forma geral.
O anonimato do black bloc e do Antifa é uma força importante de várias formas, mas no sábado eu senti que a falta de organização foi um fator primário nas perdas antifascistas que tivemos em nossas fileiras. Eu fui aos últimos dois eventos por mim mesmo, visto que não conheço ninguém pessoalmente afim de realizar este tipo de ação, e não falo sobre isso para os outros. Imagino que eu não seja o único nesta situação. Minha questão se tornou: como eu posso chegar aos outros de forma segura, como posso me organizar melhor e colaborar para fazer o antifascismo mais efetivo, mesmo quando em menor número. Pareceu para mim que um grupo de 8 a 10 pessoas antifas bem preparadas fi sicamente, com armaduras, escudos e mastros de bandeira, que treinassem juntos como unidade, poderia ter segurado a linha.
Irei continuar de pé com vocês em solidariedade contra o avanço da onda do fascismo. Obrigado por seu trabalho duro.
Fonte: https://itsgoingdown.org/berkeley-medics-report/
Tradução > Yanumaka
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
Sertão nordestino —
mandacaru solitário
enfeita a paisagem.
Renata Paccola
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...