Dizer Can Masdeu quer dizer agroecologia real, é sair das aulas e oficinas teóricas para enfrentar-se à crua realidade de ter que produzir seu próprio alimento
Por José Luis Vicente Vicente – 05 de abril de 2017
Em uma visita recente que realizei a Barcelona decidi visitar um espaço okupado que me haviam recomendado: Can Masdeu, antigo hospital de leprosos de Barcelona. Está situado aos pés da Sierra de Collserola e, tal e como eles mesmos dizem, com as raízes em Nou Barris.
Não quero dar demasiados dados históricos e de gestão do espaço, já que a informação mais completa podes ver em sua própria web (canmasdeu.net). O espaço tem uns 15 anos okupado, desde 2001, e atualmente vivem 21 adultos e 5 crianças. Toda esta informação nos proporcionou Claudio, um dos habitantes de Can Masdeu, que aos domingos se dedica a ensinar em profundidade tanto a história como o espaço a todas as pessoas que decidem passar ali o domingo. Atualmente, não constam processos jurídicos em marcha para o desalojo de Can Masdeu. Tal e como nos relatou Claudio, no princípio sim houve ações legais para seu desalojo, mas após uns anos e ao comprovar que o espaço estava reabilitando-se pelas próprias pessoas que o haviam okupado, junto com o fato de não haver oposição vicinal, estas iniciativas legais caíram no esquecimento, permitindo às pessoas que okupan este espaço viver com maior tranquilidade e poder fazer obras de melhoria das instalações de grande porte.
Can Masdeu não é um espaço okupado urbano tal e como poderíamos imaginar, senão que aproveita a perfeição seu enclave na natureza para combinar proximidade à cidade com a possibilidade de ter amplos espaços para desenvolver a agroecologia. Porque dizer Can Masdeu é dizer agroecologia real, é sair das aulas e oficinas teóricas para enfrentar-se à crua realidade de ter que produzir seu próprio alimento, ainda que tal e como Claudio nos contou, o espaço não é todavia 100% auto-suficiente, e em consequência parte dos alimentos tem que ser adquiridos por outras vias mais convencionais.
Apesar de não ter essa auto-suficiência alimentar, grande parte dos terrenos foram cedidos para a vizinhança com o fim de que ponham em marcha suas hortas (de uns 40 m²). A maioria pertencem a pessoas aposentadas às quais as hortas, além de proporcionar parte das verduras que consomem, as mantêm ocupadas e ativas. Uma vantagem adicional, é que permite a reconexão com a natureza às pessoas que decidem retomar ou iniciar do zero na manutenção de uma horta. Em Can Masdeu a educação agroecológica é o pilar mestre sobre o qual se assenta todo o projeto.
Como dizia no início, os domingos são os dias em que ensinam o espaço às pessoas que ali chegam pela primeira vez. Isto tem lugar por volta do meio dia. Ao terminar a visita, às duas da tarde tem lugar um comedor vegano preparado pelas mesmas e a um módico preço. Uma salada e uma paella riquíssima é o menu que pode degustar. Também se podem degustar uma amplíssima variedade de sobremesas veganas e bebidas (infusões e limonadas naturais ou cervejas artesanais).
Antes da comida pude desfrutar de uma palestra muito interessante do coletivo “La Recolectiva”. É um grupo de pessoas que se dedicam a prestar ajuda à população palestina na coleta da azeitona. Atualmente, com a pressão israelita e as ocupações do território palestino o processo de coleta da azeitona se faz enormemente complicado (ao final do artigo deixo alguns enlaces de interesse deste coletivo, e se tens interesse em participar na coleta da azeitona na Palestina deves entrar em contato com este coletivo o antes possível para que possam gestioná-lo com suficiente antecedência). O importante é que todo o domingo girou em torno a Palestina. Havia desde jogos e oficinas para os menores com o fim de que aprendam mais sobre a ocupação israelita e que possam se pôr no lugar dos meninos e das meninas de sua idade na Palestina até os dois grupos de música que atuaram pela tarde. O primeiro deles, uma colaboração de dois grupos: Betamormosis e a K e a B. Seu rap, a fantástica mescla dos dois grupos e sua maravilhosa direção amenizaram o princípio do concerto. Em seguida, chegou o rap de Resiliència, cujo ritmo melódico e seu flow nos arrastaram até o final do concerto.
O entardecer em Can Masdeu é mágico, o ambiente que se respira é de liberdade absoluta e de forte conexão com o entorno natural. Poderia contar-te muitas coisas mais sobre Can Masdeu, mas deixarei que o descubras tu mesmo, porque em Can Masdeu a utopia está mais próxima de ser real.
Fonte: http://www.elsalmoncontracorriente.es/?Can-Masdeu-paradigma-de-la
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!