Nos últimos anos no Brasil, cresceu de maneira surpreendente a propagação de valores e manifestações associados à extrema-direita, observa o historiador Luís Edmundo de Souza Moraes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde coordena o Núcleo de Estudos de Política da instituição.
O especialista foi convidado a proferir uma palestra no âmbito do colóquio internacional “Que direita tomou o poder no Brasil?, organizado na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais. Com o tema Entre o visível e o invisível: a afirmação lenta e certa da extrema-direita no Brasil Contemporâneo, o historiador falou para estudantes e pesquisadores que procuram entender o atual momento político e social do país.
“Nos últimos seis anos, vê-se um volume enorme de manifestações públicas que são identificadas de modo imediato com manifestações típicas da extrema-direita, que recusam valores como dignidade humana, de igualdade”, disse Luís Edmundo em entrevista à Rádio França Internacional.
Para exemplificar, ele comenta as demandas concretas da volta da ditadura militar, a defesa de violência policial e de assassinatos de policiais em favelas no Rio de Janeiro. “Esse conjunto de fenômenos, de ideais e valores típicos da extrema-direita não necessariamente surgem no nosso tempo, mas se manifestam nos últimos anos com uma força pública rara”, alerta.
Segundo o especialista, nos últimos 30 anos, é possível ver o quanto o espaço público está sendo ocupado por discursos e ideias extremistas como “os bandidos não devem ser tratados legalmente, o assassinato é parte do bom trabalho policial, ou de que não há nenhum problema no fato de você sofrer algum tipo de violação seus direitos individuais e direitos humanos”.
Essas ideais, segundo Luís Edmundo, circulam livremente e se sedimentam em determinadas áreas, núcleos urbanos e em diferentes grupos sociais. Esse movimento gera “sustos” quando são catalisados também por forças políticas e personalidades que defendem essas ideias.
Deputado Bolsonaro é “porta-voz”
Para o historiador, o deputado federal Jair Bolsonaro PSC-RJ é o que melhor simboliza essa extrema-direita na esfera política. “Ele consegue conjugar e falar sem timidez alguma coisas relativas a esse campo de valores que recusa a igualdade, a universalidade de tratamento, princípios e valores da democracia liberal. De certa forma, ele se torna porta-voz. Pessoas que na sua formação não tiveram barreiras a esse conjunto de valores, aderem e encontram nisso um movimento poderoso”, avalia.
O historiador descarta que crises políticas e econômicas geram automaticamente um ambiente propício para a expansão de valores da extrema-direita, reflexo de uma construção social ao longo do tempo, às vezes caracterizada pela ausência de um discurso forte em defesa de valores democráticos e de defesa dos direitos humanos. Um exemplo, segundo Luís Nascimento, são os apelos durante as recentes manifestações para a volta do regime militar no país (1964-1985).
“No caso de um apelo pela ditadura, da “saudade da ditadura, é o fato de que durante 30 anos pouco se falou que a ditadura é um regime criminoso, pouco se falou da tortura e não judicializou os torturadores”, argumentou.
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